O mercado nacional de fretes agrícolas, que tinha a soja como principal referência para formação de preços, agora está atento ao açúcar. “Com a queda dos preços dos grãos nos últimos dois anos, está havendo uma mudança de sinalização de preços no mercado de frete, que hoje se espelha nos negócios de açúcar”, afirma José Vicente Caixeta, especialista em fretes do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Com a quebra da produção da soja na safra passada, por conta dos problemas climáticos, o preço dos fretes para os grãos recuou devido à maior oferta de veículos disponíveis.
Mesmo com essa queda nos preços, o impacto do frete no valor final do produto aumentou. Em abril deste ano, período de escoamento da soja, a participação foi de 24,4%. Na comparação com o mesmo período do ano passado, foi de 19,7%. O preço do frete para soja oscilou entre R$ 95 e R$ 105 a tonelada, de janeiro de 2005 até julho deste ano. No caso do açúcar, a participação média do frete no valor final do produto ficou em 11,5%, com um pico de 15% durante maio, início da colheita no centro-sul do país. Fora da fase de colheita, o índice atinge uma mínima de 7,5%. Essa mudança de papéis, segundo Caixeta, reflete-se, sobretudo, no mercado de fretes rodoviários, principal meio para escoamento de açúcar e soja. Apesar do aumento de participação do escoamento de açúcar por ferrovias, o modal rodoviário é o maior meio de transporte.
No caso do álcool, a comparação não pode ser feita, mesmo que a demanda por escoamento deste tipo de produto até os portos tenha crescido. “A característica da carga é diferente [granel líquido]”, disse Caixeta. Mesmo com o aquecimento do setor sucroalcooleiro, os preços dos fretes de álcool tiveram pouca oscilações desde o início de 2005. Os valores dos fretes com rotas destinadas ao porto de Santos (SP), com distância média entre 400 e 600 quilômetros, oscilou entre R$ 80 e R$ 90 por metro cúbico. A maior demanda por fretes rodoviários para açúcar e álcool no país está estimulando investimentos nessa área. A corretora NovaFox , que comercializa açúcar e álcool, também passou a negociar o frete entre as usinas e compradores. A empresa tem uma carteira de cerca de 380 transportadoras.
Carlos Dornellas Filho, sócio diretor da NovaFox, a corretora vai adquirir cinco caminhões bitrem para reduzir sua dependência de terceiros e a contar com uma estrutura própria de frete. “A vantagem de ter uma frota própria é pode apagar incêndio, se ocorrer alguma eventualidade”, afirma. Para José Vicente Ferraz, diretor do Instituto FNP, a disponibilidade de frete rodoviário para o setor de açúcar e álcool não cresce na mesma proporção que a expansão do setor sucroalcooleiro. “O transporte de álcool, sobretudo, é mais complicado”, observa. Fonte: Agrolink / Valor Econômico