As micro e pequenas empresas paulistas estão sobrevivendo mais e estão mais competitivas. De cada 100 novas empresas abertas no Estado de São Paulo, 27 não conseguem completar um ano de atividade. Ainda é um número alto, mas representa uma melhoria significativa no cenário empresarial – há dez anos a taxa de mortalidade das micro e pequenas empresas paulistas no primeiro ano era de 35%.
É o que indica a pesquisa inédita do Sebrae-SP, Dez Anos de Monitoramento da Sobrevivência e Mortalidade de Empresas, elaborada pelo Observatório das Micro e Pequenas Empresas da entidade, que traz uma seqüência comparativa de estudos realizados pelo Sebrae-SP desde 1998.
Esta tendência também se reproduz nas MPEs com 2, 3, 4 e 5 anos de atividade. O índice de mortalidade no segundo ano de atividade caiu de 46% para 38%; no terceiro ano de 56% para 46%; no quarto ano, de 63% para 50% e no 5º ano, de 71% para 62%.
Em números absolutos, a redução significa que, enquanto em 1998 cerca de 100 mil empresas fechavam as portas, em 2007 esse número caiu para cerca de 80 mil empresas.
O presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-SP, Fábio de Salles Meirelles, credita boa parte destes resultados à adoção de estratégias exitosas para enfrentar este ‘desafio gigante’: “Expandimos as ações de capacitação de empreendedores e de articulação institucional dirigidas aos formuladores de políticas públicas. É com grande satisfação que descobrimos que nossa ação foi fundamental para a diminuição da mortalidade das MPEs”.
Além de apurar as taxas de sobrevivência das MPEs, o estudo detectou uma sensível melhora no chamado perfil empreendedor dos entrevistados, levando em consideração questões como grau de escolaridade, a procura por capacitação e treinamento e a atuação conjunta com outras empresas, de forma associada ou por meio de parcerias.
Marco Aurélio Bedê, gerente do Observatório das MPEs do Sebrae-SP, acredita que esta melhora do perfil empreendedor combinado a fatores macroeconômicos como o crescimento da economia, a estabilidade de preços e a recuperação da renda do trabalhador, favoreceram a queda da mortalidade entre as micro e pequenas empresas com até quatro anos de atividades.
Em relação ao grau de escolaridade, 70% dos empresários que abriram empresas em 2000 e foram entrevistados em 2004 tinham 2º grau completo ou mais, índice que subiu para 78% em relação aos empresários que iniciaram atividade em 2005 e foram entrevistados em 2006.
Outro dado que vem se ampliando sistematicamente é a abertura de empresas por “oportunidade” contra o fator “necessidade”. Em 2000, 60% dos empresários disseram ter aberto a empresa por terem enxergado uma oportunidade de negócio, índice que passou para 69% em 2005.
O planejamento anterior à abertura da empresa, um dos itens que mais contribue para os índices de sobrevivência, também vem se expandindo: os empresários que abriram negócios em 2000 utilizaram pouco mais de um semestre (7 meses) na preparação para a abertura do negócio, enquanto os que abriram empreendimentos em 2005 passaram pouco mais de um ano (12 meses) preparando-se para a abertura da empresa.
Nas empresas encerradas, o período de planejamento não ultrapassa quatro meses. Chama atenção a diferença entre o percentual de empresários em atividade que admitem ter participado de algum curso de especialização, 41%, e o índice de apenas 34% entre aqueles que tiveram seus negócios encerrados. Ainda com base no estudo, é possível verificar que os responsáveis pelos estabelecimentos que sobrevivem no mercado têm por hábito planejar e monitorar cada nova etapa de sua atividade (81% ante 74% nas empresas encerradas), procuram se antecipar aos fatos (74% para 68%), persistem em seus objetivos (95% e 92%) e sempre estabelecem metas e objetivos para o negócio (76% ante 73%).
Melhorou, mas não o bastante
A melhoria das taxas de sobrevivência dos pequenos negócios é visível, mas ainda estamos longe dos índices obtidos pelos países desenvolvidos. A avaliação é do diretor -superintendente do Sebrae-SP, Ricardo Tortorella.
Enquanto aqui as MPEs com cinco anos de atividade apresentam uma taxa de mortalidade de 62%, na Alemanha é de 37%, Itália é de 46%, nos Estados Unidos é 50% e no Reino Unido 53%, segundo dados da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), “Fostering entrepreneurship”, The OECD Jobs Strategy.
Para ilustrar, a perda financeira com o encerramento de 81 mil empresas, em 2006, foi de quase R$ 16 bilhões (incluindo perda de faturamento e capital investido), valor equivalente a 690 mil carros populares ou 66 milhões de cestas básicas por ano. O custo social também foi alto: 267 mil postos de trabalho deixaram de existir ao longo do ano, ou seja, 3,3 estádios do Morumbi lotados.
Os cálculos foram realizados levando em conta que, em 2005, cada MPE tinha 3,27 pessoas ocupadas e faturava em média R$ 14,8 mil.
Próximos Passos
Na avaliação de Fábio Meirelles, é preciso continuar agindo para que a tendência apresentada no estudo se converta em realidade. “Não podemos continuar perdendo postos de trabalho e investimentos nesta magnitude se quisermos figurar entre as nações mais desenvolvidas”, alerta. E o diretor-superintendente da entidade, Ricardo Tortorella, concorda e completa: “Será preciso ampliar ainda mais o esforço de capacitação e incrementar as políticas de apoio às micro e pequenas empresas, como a redução do peso dos impostos, da burocracia, e ampliar o crédito à produção e o acesso à tecnologia e ao mercado de compras governamentais”.
Uma das respostas da entidade para este desafio é o Programa Abri Minha Empresa! E Agora?. Elaborado em parceria com a Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), é uma ação de capacitação que foca os aspectos fundamentais para o planejamento inicial das empresas. Serão dez fascículos que abordam temas como vendas, preço, volume e gestão.
“Em São Paulo, no período de um ano, quase 600 mil pessoas pensam em montar um negócio. Dessas, cerca de 150 mil abrem efetivamente a empresa, e é esse público o alvo do nosso novo projeto”, afirma Tortorella.
Os dois primeiros fascículos serão enviados diretamente aos empresários no endereço que consta no cadastro da Junta Comercial. Para receber o restante, os empreendedores deverão manifestar interesse em continuar recebendo o material, o que pode ser feito pelo telefone 0800 570 0800 (ligação gratuita), por meio do portal do Sebrae-SP (http://www.sebraesp.com.br) ou no Escritório Regional mais próximo.
As cartilhas não são restritas apenas às empresas que estão nascendo
Segundo Antonio Carlos De Matos, gerente de Orientação Empresarial do Sebrae-SP e coordenador do programa, qualquer empresário pode solicitar os produtos, e a qualquer hora. “O importante é que ele saiba que aprender é um bom negócio e que o lucro não vem por acaso. É preciso aprender como obtê-lo”.
Quanto à melhoria do ambiente empreendedor, Tortorella lembra que, em São Paulo, já existem boas experiências de ambientes desburocratizados, especialmente depois da promulgação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. “Mas precisamos ir mais longe. Vamos focar na regulamentação de alguns aspectos importantes para aumento da competitividade das MPEs, como acesso à tecnologia e ao crédito”, acrescenta o superintendente do Sebrae-SP.
Essa é a quinta edição da pesquisa, em que foram ouvidos, do segundo semestre de 2006 ao primeiro semestre de 2007, 3 mil proprietários de empresas paulistas abertas entre 2000 e 2005, cujos nomes foram levantados na Junta Comercial do Estado de São Paulo. A íntegra da pesquisa está no portal da entidade – www.sebraesp.com.br – na área Conhecendo as MPEs.