O ex-juiz Wilson Witzel (PSC), 50, foi eleito neste domingo (28) governador do Rio de Janeiro, segundo projeção do Datafolha. Ele superou o ex-prefeito da capital Eduardo Paes (DEM). Com 77,24% das urnas apuradas, Witzel teve 59,74% dos votos, contra 40,26% de Paes.
Witzel garantiu a vitória apesar da queda nas pesquisas de intenção de voto neste segundo turno, que registraram uma tendência de queda constante. No levantamento do Datafolha divulgado neste sábado (27), ele aparecia com 53% das intenções de votos válidos, contra 47% de Paes –na primeira pesquisa do instituto, há dez dias, a diferença era de 22 pontos percentuais.
Juiz federal até março deste ano, Witzel foi embalado pela associação que fez de sua campanha com a do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Embora o capitão reformado não tenha declarado seu voto, o governador eleito contou com o apoio do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL).
A vitória do PSC no Rio de Janeiro encerra uma sequência de quatro eleições em que o eleito teve o apoio, explícito ou velado, do vitorioso no pleito anterior. O governador Luiz Fernando Pezão (MDB) apoiava Paes, apesar de o ex-prefeito ter feito críticas públicas à gestão emedebista.
Dos quatro governadores eleitos nesse período, três foram presos. Anthony e Rosinha Garotinho já estão soltos, mas respondem a processos. Sérgio Cabral permanece preso, condenado há mais de cem anos de prisão por corrupção. Já Pezão está sob investigação do mesmo esquema.
Com uma campanha centrada na crítica à corrupção, Witzel conseguiu atrair o voto do eleitorado enfastiado dos escândalos no estado. Paes, aliado de Cabral e Pezão por quase dez anos, não conseguiu superar o discurso do ex-juiz.
O ex-prefeito amarga mais uma derrota política desde que deixou a prefeitura da capital, onde executou um enorme portfólio de obras e uma Olimpíada, em 2016. Apesar disso, não conseguiu eleger seu sucessor e agora perde ele próprio uma disputa. Sem responder a nenhuma ação penal, Paes seguirá sob investigação de desdobramentos da Operação Lava Jato.
Praticamente um coadjuvante no primeiro turno, Witzel chegou à disputa final com uma arrancada dias antes de 7 de outubro. Em razão disso, teve de superar o intenso escrutínio da imprensa por que passou por três semanas e das críticas do adversário.
Ele teve de responder sobre vencimentos acima do teto que recebeu enquanto esteve na magistratura, sobre os negócios de escritórios de advocacia com que se envolveu durante a campanha, além da relação com advogado condenado por auxiliar na fuga de traficante.
Com uma plataforma semelhante à de Bolsonaro, o governador eleito prometeu dar respaldo a policiais que matam suspeitos em confronto. “Se está portando fuzil, será abatido”, foi uma das frases que proferiu.
Defendeu também a conversão de cem escolas estaduais em militares, uma ampliação da proposta de Bolsonaro de implantar uma unidade do tipo em cada estado.
Witzel defendeu na campanha extinguir a Secretaria de Segurança, elevando as polícias Civil e Militar ao status da pasta. O governador eleito se comprometeu a ser o responsável pela elaboração das políticas públicas conjuntas do setor.
Ele assumirá um estado com a segurança pública em decadência e as finanças em frangalhos. Ambos, contudo, tiveram um paliativo já indicado na atual gestão.
Na segurança pública, a intervenção federal será encerrada no dia 31 de dezembro, antes de Witzel tomar posse. Até lá, os militares encarregados pelo gabinete executarão um plano de investimento de R$ 1 bilhão, legado para o próximo ocupante do Palácio Guanabara.
As estatísticas até aqui, contudo, mostram que a intervenção não reduziu significativamente os homicídios (queda de 1,7%) e aumentou de forma aguda as mortes provocadas por policiais (alta de 45%). Os melhores resultados apresentados até são nas estatísticas de crimes contra o patrimônio, com queda de 8,5%.
As finanças estaduais tiveram um alívio com a assinatura do acordo de recuperação fiscal com o governo federal, quando teve o pagamento das dívidas com a União suspensas. Ainda assim, a grave crise econômica no Rio de Janeiro ainda deixa marcas. O projeto de lei do orçamento de 2019 enviado por Pezão à Assembleia Legislativa já prevê um déficit de R$ 8 bilhões.
Witzel terá de renegociar os termos do acordo com o próximo presidente. Na campanha, defendeu o alongamento da dívida por cem anos. Ele também afirmou que não pretende privatizar a Cedae, dada como garantia à União para o pagamento de R$ 3,5 bilhões da dívida.
Um alento para os próximos anos é a expectativa de nova subida na arrecadação de royalties, com a exploração dos campos do pré-sal. Fonte de receita que bancou a previdência nas gestões Sérgio Cabral e que, com sua queda, ajudou na quebra do estado na administração Pezão. Com informações da Folhapress.