Dia 23 de maio de 1993. Tarde ensolarada em Montecarlo.
Ayrton Senna, acostumado a largar da pole, desta vez partiu da terceira posição do grid com a sua McLaren, atrás do francês Alain Prost, da Williams, e do então novato alemão Michael Schumacher, da Benetton. Isso não impediu, porém, que o lendário piloto brasileiro buscasse a sua sexta vitória do GP de Mônaco, onde o tricampeão do mundo de Fórmula 1, morto de forma trágica na pista de San Marino em 1994, ainda é o maior vencedor da história desta que é uma das mais importantes provas do calendário do automobilismo mundial.
Exatamente 25 anos depois daquela corrida, o tradicional circuito monegasco está sendo preparado para abrigar nesta quinta-feira os primeiros treinos livres da sexta etapa desta temporada da F-1, marcada para este domingo, quando a inevitável lembrança do último triunfo do ídolo na desafiadora e charmosa pista de rua será reavivada na memória dos seus inúmeros fãs que viram o piloto ganhar a célebre alcunha de “Mister Mônaco”.
Após a primeira vitória em Montecarlo, obtida em 1987 com um carro da Lotus, Senna colocaria a bandeira nacional no topo do pódio desta prova por cinco vezes consecutivas entre 1989 e 1993 pela McLaren. Na última destas ocasiões, ele quebrou um recorde histórico que dividia com o inglês Graham Hill, ganhador deste cobiçadíssimo Grande Prêmio em 1963, 1964, 1965, 1968 e 1969.
Schumacher também se tornaria, ao lado do britânico, o segundo maior ganhador em Mônaco, onde triunfou em 1994, 1995, 1997, 1999 e 2001, mas o heptacampeão mundial de F-1 não igualou esta expressiva marca do mito que foi para muitos, entre eles o próprio ex-corredor alemão, o maior piloto de todos os tempos.
Naquele 23 de maio de 1993, Senna ainda faturou o GP de Mônaco com incríveis 52 segundos de vantagem para o segundo colocado, o inglês Damon Hill, da Williams e filho de Graham Hill, e recebeu a bandeira quadriculada 1min03s antes do francês Jean Alesi, que completou o pódio pela Ferrari. Prost, o maior rival do brasileiro em sua trajetória na F-1, terminou em quarto.
E atrás deste quarteto de peso fechou a corrida em quinto lugar um surpreendente Christian Fittipaldi, da nanica equipe Minardi, enquanto o então também jovem Rubens Barrichello foi o nono colocado pela Jordan em sua primeira prova em Montecarlo como piloto de Fórmula 1.
Em entrevista concedida ao Estado por telefone na última terça-feira, direto de Detroit, nos Estados Unidos, onde aos 47 anos de idade segue em atividade como piloto de provas de endurance na categoria de protótipos Imsa, Christian Fittipaldi falou sobre como foi correr aquele GP realizado há 25 anos e destacou que Senna conseguia impor a sua superioridade em Mônaco com um desempenho que ele qualificou como “fantástico”.
“Sem dúvida nenhuma, em algumas circunstâncias, ele era um piloto especial, diferenciado em relação aos outros”, afirmou o sobrinho de Emerson Fittipaldi, bicampeão mundial de F-1, apontando também dois dos principais segredos para o enorme sucesso de Ayrton em Montecarlo.
“A grande vantagem era a de que ele tinha uma precisão muito grande na condução do carro. E essa precisão, aliada à velocidade indiscutível que ele tinha, fazia a diferença. Quando você junta essas duas coisas em Mônaco, acaba sendo uma receita imbatível”, disse o veterano piloto, que em 1993 correu pela segunda vez esta prova na Fórmula 1.
CORRIDA EXTENUANTE – E Christian fez questão de lembrar o quão difícil era o simples fato de conseguir terminar uma corrida em Mônaco naquela época, na qual os carros possuíam câmbio manual, eram desprovidos da eletrônica avançada existente nos monopostos atuais e exigiam um esforço físico tremendo dos pilotos.
“Em 1993, larguei em 17º e terminei em quinto. Minha primeira visita em Mônaco foi em 1992, quando fechei a corrida em oitavo. Um dos grandes segredos lá é ter muita paciência, pois a corrida é muito longa. Você dava cinco ou oito voltas, mas a sensação que você tinha dentro do carro era a de que já tinha dado umas 30. E a corrida tem 78 voltas”, enfatizou, para depois completar: “Mônaco tem um circuito que não permite erro. Lá não tem aquela situação de você colocar as duas rodas do carro na grama e depois voltar para a pista. Lá, se você fizer isso, você bate no muro”.
Já ao ser questionado pelo Estado sobre quem, em sua opinião, chegou mais perto de alcançar os feitos obtidos por Senna no principado monegasco, Christian chegou até a “perder as contas” ao perguntar: “Ele não ganhou cinco vezes seguidas lá, ganhou?”.
Porém, o piloto foi enfático ao reconhecer que o seu saudoso compatriota ainda é a referência maior da história desta mítica prova, onde o tricampeão com os títulos de 1988, 1990 e 1991 brilhou pela primeira vez de forma surpreendente já em 1984, com um carro da Toleman, ultrapassando o vencedor Prost, então da McLaren, e chegando a comemorar na pista uma improvável vitória em sua temporada de estreia.
O triunfo, porém, lhe foi “tirado” pela direção da corrida, que considerou que a mesma já havia sido encerrada quando o brasileiro, segundo colocado, passou o líder francês no GP finalizado com bandeira vermelha, na volta 31, por causa da grande chuva que tornou a disputa muito perigosa para os pilotos. “Se você for analisar os fatos e os números, não teve ninguém que esteve próximo de conseguir ficar perto do que o Senna fez em Mônaco”, admitiu o piloto que no início deste ano ganhou pela terceira vez em sua carreira as 24 Horas de Daytona, tradicional prova do automobilismo disputada nos Estados Unidos, onde também triunfou em 2004 e 2014.
Sobrinho de Emerson e filho de Wilson Fittipaldi Júnior, outro ex-piloto de Fórmula 1, Christian também acumulou ao longo de sua longa trajetória nas pistas passagens pela Fórmula Indy, pela Nascar e pela Stock Car.