Thamires Oliveira (Agir), de 33 anos, foi a única pessoa no estado de São Paulo a receber apenas um voto: o dela. A vendedora disputava uma vaga para deputada estadual.
“Fiz campanha, fiz reunião, fiz tudo. Mas, infelizmente, o voto não entrou. Somente o meu. A campanha estava na rua. Contratei pessoas para trabalhar. É frustrante, na verdade, porque antes da campanha a gente já fica com muita ansiedade. Você não consegue dormir. É uma pressão muito estressante”, disse ao g1.
A moradora da Zona Leste da capital recebeu R$ 5 mil em 17 de setembro do Fundo Eleitoral da direção estadual do Agir para a campanha e um pacote com milhares de santinhos em “dobradinha” com o presidente do partido, Carlos Roberto, candidato a deputado federal. Como não aprovou o material, não distribuiu, segundo ela.
“Recebi R$ 5 mil uma semana antes da votação. O partido em si não deu nenhuma assistência. Tenho até alguns amigos que se candidataram também. Não tinha muito o que fazer e voluntariamente ninguém quer trabalhar”, afirmou.
Outros candidatos do partido criaram um grupo num aplicativo de mensagens justamente para reclamar da falta de repasses do partido.
A candidata contratou duas pessoas e montou uma pequena equipe para atuar na região em que mora. O trabalho foi “de porta em porta”, segundo ela conta.
“Não tive nada de voto. É vergonhoso. Imaginei da seguinte forma: ‘Creio mesmo se eu ganhasse uma suplência, seria muito mais fácil para ajudar a comunidade, tanto minha mãe, que é assistente social, como a comunidade’. Foi uma campanha ‘presa’. Meus familiares estavam com outras pessoas”, detalhou, sobre os votos de parentes.
Com pouco mais de duas semanas antes da votação do primeiro turno, a maioria dos partidos políticos ainda não tinha atingido os percentuais mínimos de transferência do Fundo Eleitoral para as candidaturas de mulheres e negros, conforme determina a legislação. Em 15 de setembro, dois dias antes de a candidata receber o valor, o Agir já tinha atendido à cota.
‘Não escolhi me candidatar’
Thamires conta que um amigo a convidou para conhecer o partido meses antes das eleições. Com a proposta de ser mais uma mulher na política, ela se filiou e entregou a documentação.
“Foi uma coisa que eu optei e ninguém sabia. Me convenceram, ficou no esquecimento alguns meses e perto da campanha entraram em contato. Não escolhi me candidatar. Apareceu, eu entrei e ficou esquecido. Mais ou menos dois meses antes da campanha, a secretária entrou em contato comigo. Eu já estava dentro e não tinha como desistir mais. Eu falei: ‘Vou dar continuidade, vamos ver no que vai dar’.”
Sobre não receber votos nem das pessoas que trabalham na campanha, a vendedora argumenta que as meninas atuaram também para outros candidatos.
O presidente do partido e que foi candidato a deputado federal, Carlos Roberto, teve 4.660 votos. Foi o mais votado do partido. Ele não respondeu ao contato feito pelo g1 até a última atualização desta reportagem.
O site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para consulta de informações oficiais sobre os candidatos aponta que Carlos teve o total gasto de R$ 228.950 — a maioria vinda de doações para outros candidatos no valor de R$ 5 mil. O total bruto recebido foi de R$ 1.352.124, da Direção Nacional e da Estadual do partido.