A Revista Veja, da editora Abril, desta semana trouxe reportagem sobre o ranking dos professores mais “faltosos” da rede estadual paulista.
No topo da lista, como o professor que faltou mais vezes neste ano, segundo a revista, está o professor catanduvense J.R.G., de 54 anos.
De acordo com a Revista Veja, J. faltou 108 vezes, sendo que 72 delas foram justificadas por problemas de saúde.
“Neste ano, ele (J) faltou 108 vezes, em 72 delas alegando algum problema de saúde. Segundo os atestados médicos, o professor sofre de transtorno bipolar, doença psiquiátrica causadora de variação de humor”, informou a revista.
Com o título “Sumidos da sala de aula”, a reportagem publicada nas páginas 122, 123 e 124 apresenta os dados como tendo sido fornecidos pelo Governo do Estado de São Paulo.
A Secretaria de Estado da Educação negou, em contato com o Notícia da Manhã, que tenha fornecido informações à Veja.
“Conversei com minha chefe e o que foi passado é que esse balanço não saiu da Secretaria e portanto não comentamos sobre o caso. A diretora de ensino de Catanduva também não dará detalhes sobre esse caso”, informou por e-mail a funcionária Marina Sampaio da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado.
Em contato com a Diretoria de Ensino da Região de Catanduva, a reportagem foi direcionada a procurar a Assessoria da Secretaria de Estado porque a dirigente Maria Aparecida Cheruti Frare estaria de férias.
Segundo a Veja, o ranking dos 10 professores com maior quantidade de faltas neste ano foi feito pelo governo do Estado de São Paulo e é inédito no País.
“Embora esse seja um dos maiores males da escola pública no Brasil, o absenteísmo dos professores é um fenômeno pobre de estatística. Os primeiros números consolidados sobre o assunto são do Governo do Estado de São Paulo (…) o primeiro do gênero feito com dados oficiais”, completa a revista.
A Veja informa que, segundo o ranking do governo, neste ano os professores faltaram em média 15% do ano letivo, ou seja, 32 dos 210 dias do calendário escolar estadual.
À publicação, o professor catanduvense teria dito: “Cansei de ser professor”.
Outro lado
A reportagem do NM tentou por três vezes manter contato com o professor que também é advogado em seu escritório, no centro de Catanduva.
No primeiro contato, alguém identificado como Mílton disse que o professor advogado não poderia atender porque estava conversando com um cliente e pediu que o contato fosse feito mais tarde. Após as 16h30, ninguém mais atendeu o telefone do escritório de J.
Legislação
Apesar de absurda, a quantidade de faltas do professor catanduvense não é ilegal. Isto porque a legislação brasileira permite que servidores públicos estaduais, incluindo-se professores, faltem dia sim, dia não, desde que apresentem atestados médicos. Sendo assim podem faltar por motivo de saúde justificado 105 vezes ao ano.
A Revista Veja diz ainda que,se o professor fizer uso dos outros benefícios garantidos por lei, será obrigado a comparecer à escola onde leciona apenas 27 dias por ano.
Apeoesp entra com pedido de resposta para a revista
O coordenador do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeosp) de Catanduva, Leandro Alves de Oliveira, vai a São Paulo hoje preparar representação com o pedido de direito de resposta à Revista Veja.
“Já entramos com uma representação na semana passada por causa de um artigo. Agora entraremos com outra por causa da matéria desta semana”, contou Oliveira.
Segundo o coordenador, a matéria veiculada na revista apresenta vários pontos que poderão ser questionados. Dentre eles a divulgação dos dados sobre faltas justificadas que seriam sigilosos, a legalidade das faltas apresentadas e a generalização que a reportagem faria entre os profissionais da Educação. “Não se pode generalizar. Temos um problema sério na rede estadual de educação que é saúde do professor. Os profissionais são submetidos a condições ruins de trabalho e estão ficando doentes, sim. Além disso, esse tipo de informação como a apresentada na matéria da Veja é sigilosa. O fato de a revista ter tido acesso a esse banco de dados do Estado mostra a relação da revista com o governo de José Serra (PSDB)”, concluiu.
Oliveira contou que recebeu informações de que a própria dirigente de ensino da Região de Catanduva teria acompanhado a reportagem da Veja na apuração da reportagem na escola.
A matéria traz até mesmo entrevista com uma aluna de 14 anos identificada no texto.
Para o sindicalista, a liberação dos dados sigilosos à Veja é estratégia do governo do Estado para jogar nos professores a responsabilidade pelos problemas da Educação da rede pública.
“O Serra tem acusado os professores de ser relapsos e está usando as faltas para nelas basear essa acusação e culpar os professores pelos problemas da Educação”, analisou.
Segundo Oliveira, a reportagem da Revista Veja direciona aos professores a responsabilidade por uma legislação falha. “Se a legislação é falha ,a culpa não é de quem se utiliza dela”, completa.
Município
A Secretaria da Educação de Catanduva foi procurada pela reportagem para apresentar dados referentes às faltas da rede municipal de ensino. A secretária, ex-dirigente de ensino, Tânia Ribeiro Botós, comprometeu-se por meio da Assessoria de Comunicação da Prefeitura a informar os dados hoje. Ontem não teria sido possível porque o trabalho requer cuidadoso levantamento de dados.