Ficar mais de dois anos sem vitória e ser conhecido como o pior time de sua localidade: poderíamos estar falando do brasileiro Íbis, de Pernambuco, mas esta descrição serve também para o Fort William FC, time que disputa a divisão norte da quinta divisão escocesa, o último nível do futebol do país. A fama de “pior time da Grã-Bretanha”, no entanto, pode ter sido a salvação do clube.
O Fort William ficou 707 dias sem uma vitória sequer, entre 12 de abril de 2017 e 31 de julho de 2019 – nesta última data, superou o Nairn County por 5 a 2 pela Copa do Norte da Escócia. Nesse período, conseguiu a façanha de terminar a liga de pontos corridos que disputa com sete pontos negativos, após perder nove antes do início da edição 2018/2019 do torneio por uma escalação irregular e conseguir apenas dois empates em 34 rodadas.
Logo, o time recebeu a alcunha de pior de todo o país. O Fort William chegou a estar ameaçado de fechar as portas por falta de dinheiro: paga aos atletas 20 libras esterlinas (R$ 97,6) por jogo e, para cada jogo fora de casa, gasta mil libras (R$ 4 888), entre viagens e hospedagem. Por isso, a ameaça de fechar as portas era real.
Mas o clube se tornou tema de um documentário da BBC, The Fort, e de outro da Sky Sports, emissoras que transmitem o futebol no Reino Unido. Aproveitando a fama, o atleta Scott Hunter abriu uma vaquinha online pedindo doações para que o clube continuasse funcionando, com a meta inicial de 2 mil libras (R$ 9.760), o que foi superado rapidamente com doações de todo o mundo.
“Nós sempre lutamos com a situação financeira. A vaquinha nos dá uma reserva maior para cobrir os custos e melhorar as coisas dentro e fora de campo. Nós podemos reinvestir os fundos em merchandising para ter um fluxo de caixa sustentável e esse é nosso objetivo final financeiramente”, disse Hunter ao Estado, admitindo surpresa com os resultados alcançados na campanha.
Hunter começou no Fort William FC há vinte anos. “Estive envolvido com o clube desde que tinha 11 anos, nos times de base, reservas e agora no time principal. Não consecutivamente, mas nunca me afastei muito. Comecei a jogar porque amo futebol e não há outros times por perto, era o Fort William ou nada. Ou ir para o futebol amador, mas eu quero jogar no nível mais alto que posso, que é a Liga do Norte”, contou. Aos 31 anos, ele já não vê como possível realizar o sonho de ir para o Rangers ou o Real Madrid, então diz que prefere ficar no pequeno clube mesmo.
Apesar das semelhanças entre Íbis e Fort William, há uma diferença fundamental: enquanto a equipe brasileira abraçou o rótulo e faz piada com ele, os escoceses não gostam de serem os piores. Hunter descreve a temporada de sete pontos negativos como um pesadelo que destruía a sua alma às vezes e que estava louco para que o time não fosse mais considerado “o pior da Grã-Bretanha”.
No último dia 21 de agosto, o Fort William conseguiu mais uma vitória na Copa do Norte da Escócia, outra vez com goleada: fez 5 a 1 no Rothes FC e avançou para enfrentar o Brora Rangers na semifinal do torneio. No entanto, a equipe segue em último na liga, onde tem cinco derrotas em cinco jogos na temporada 2019/2020, e Hunter afirma que só conseguirá relaxar totalmente quando o Fort William voltar a vencer também nos pontos corridos.