Sem saber como começar: é assim que começo. Quase sempre. Em especial hoje com aquela vaga esperança de que o título baste para salvar o texto inteiro. Não vai rolar — não rola.
Verdade é que acabei por me distrair enquanto escrevia, assistindo ao Master Chef, que devia se chamar “Cuisine Humiliation” com todos aqueles olhares cruéis e comentários irônicos, ácidos e sarcásticos dos jurados — tipo exército em filme americano — diante de expressões submissas e caras de coitadinhos dos competidores. Mas é tudo calculado para a audiência: o ser humano é o único bicho que se diverte com a desgraça alheia.
Por falar em desgraça alheia…
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O Renan Calheiros — aquele sósia do Didi — e o desprezível Eduardo Cunha — personificação do Gargamel, mas sem graça — estiveram presentes na condição de presidentes do Senado e da Câmara na solenidade de posse do desde já suspeito Luiz Fachin, novo ministro do Supremo, tribunal que está investigando a ambos (Calheiros e Cunha). Suas expressões hipocritamente vagas a aninhar sorrisos dissimulados.
Perguntaram-lhes:
— Os senhores não acham que seria o mínimo da decência renunciar aos cargos de presidente do Senado e da Câmara enquanto são investigados na Operação Lava Jato?
Ao que a resposta de ambos, vestidos com a máscara pestilenta da hipocrisia, foi em uníssono:
— Por quê?
E o Cunha arrematou:
— A corrupção, se existe, está no Executivo, não no Legislativo.
Que vontade que dá? De dar uma de Boechat e mandá-los todos fazer companhia ao Malafaia naquela procura.
Por falar em procura…
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Os jornalistas da Globo continuam procurando o que falar para justificar qualquer ato do Neymar, que, coitado, só queria descansar e preparar, com o pai, a defesa perante a justiça espanhola. O que melhor do que ser expulso e suspenso por alguns jogos — o mesmo tanto que falta até o fim da Copa América? E tem gente que acredita que aqueles jogadores que ganham salários correspondentes ao orçamento anual de mais da metade dos municípios brasileiros realmente se preocupam com a seleção.
Por falar em se preocupar…
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Na época (começo de 2014), Sandro Rosell se preocupou já de cara com o “caso Neymar” — a pedalada que clube e jogador deram na receita espanhola — e renunciou à presidência do Barcelona praticamente antes de a poeira sequer subir.
O que prova que a ilicitude e a imoralidade não são exclusividades da América Latina (que, colonizada pelos europeus, deles teve boas lições de tudo) e que na Europa as pessoas também roubam — e bastante —, mas com mais pose, mais classe, mais honra, mais dignidade.
O. A. SECATTO