sexta, 22 de novembro de 2024
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Vacinação de grávidas controla tétano neonatal, coqueluche e hepatite B entre recém-nascidos

Referência internacional de saúde pública, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece gratuitamente mais de 20 vacinas que atendem às necessidades de diversos grupos da população brasileira. No caso das…

Referência internacional de saúde pública, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece gratuitamente mais de 20 vacinas que atendem às necessidades de diversos grupos da população brasileira. No caso das grávidas, são preconizadas cinco vacinas – dTpa, dT, hepatite B, Influenza e Covid-19 – que têm sido essenciais para o controle dos casos de coqueluche entre recém-nascidos, do tétano neonatal e da transmissão de hepatite B de mãe para filho na hora do parto; além disso, evitam quadros mais graves causados pela infecção pelos vírus influenza e SARS-CoV-2.

“O calendário da gestante foi pensado para que ela possa receber os imunizantes tidos como primordiais para a saúde dela e do bebê – sejam aqueles que por algum motivo estão em atraso e necessitam atualização, ou as vacinas que demandam doses de reforço para garantir a produção dos anticorpos que posteriormente serão passados de mãe para filho via placenta, durante a gestação”, explica a gerente de Farmacovigilância do Butantan e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mayra Moura.

A estratégia da dTpa

O tétano, a difteria e a coqueluche são doenças cuja proteção não se estende pela vida inteira. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda a todos um reforço da vacina dT (difteria e tétano) a cada 10 anos. Já o último reforço contra a coqueluche costuma acontecer ainda na infância – entre os 4 e 7 anos –, visto que a infecção não desencadeia casos mais graves entre os adultos.

“Por conta desse histórico, é natural que com o passar do tempo as pessoas não apresentem anticorpos ‘prontos’ para agir contra a bactéria causadora da coqueluche circulando no organismo. Nas grávidas, o papel da vacina dTpa é justamente acionar a memória imunológica e estimular a produção de altos níveis de anticorpos capazes de combater a doença e que serão transferidos para o bebê”, pontua Mayra.

O imunizante, que é recomendado a partir da 20ª semana e deve ser reaplicado a cada nova gravidez, foi incorporado ao Calendário Vacinal da Gestante em 2014, quando ocorreu um pico epidêmico de infecções pela bactéria Bordetella pertussis – principalmente entre crianças menores de 3 meses, já que elas não possuíam o esquema vacinal completo, finalizado apenas aos seis meses de vida. “Começamos a ver casos de óbito de recém-nascido por coqueluche na própria maternidade. Os estudos mostraram que os principais transmissores eram a própria mãe ou o pai”, afirma a gerente de Farmacovigilância do Butantan.

Entre 2014 e 2023, com a adoção da estratégia, a ocorrência da doença caiu de 5.033 para 128 entre os menores de 1 ano de idade. Porém, o Ministério da Saúde tem alertado para um recente crescimento da doença nas diversas faixas etárias: até meados de agosto de 2024, mais de 330 quadros já haviam sido registrados, contra 217 em todo o ano anterior. De acordo com as pasta, a cobertura vacinal da dTpa é de 61,75% – número bastante distante da meta preconizada de 95%.

Além de proteger contra a coqueluche e a difteria, a vacina dTpa tem sido essencial para o combate do tétano neonatal. Provocada pela bactéria Clostridium tetani, a doença infecciosa aguda que acomete os recém-nascidos foi controlada graças à imunização das gestantes. Segundo o Ministério da Saúde, entre os anos de 2017 e 2019 não houve registros de tétano neonatal no país – em 2020, um único caso foi confirmado no município de Tartarugalzinho (AP).

O esquema vacinal tradicional é composto por três doses. Se porventura a gestante nunca tiver recebido nenhum dos imunizantes (pentavalente e DTP na infância, ou dT na fase adulta), uma das doses será feita com a vacina dTpa e as outras duas com a dT; caso tenha apenas uma dose, ela vai fazer mais uma dose de dTpa e outra de dT; quando falta apenas uma dose para completar o esquema, a vacina aplicada necessariamente deverá ser a dTpa. A ordem entre dT e dTpa, essa última contendo a fração de coqueluche, vai depender da fase da gestação.

“Em resumo, a dTpa é a única vacina que a mulher vai fazer toda vez que estiver grávida – independentemente do histórico vacinal, estando ou não com o esquema completo. Dessa forma, ela garante a proteção do bebê contra os três tipos de infecção pelos seis primeiros meses de vida, até que ele enfim receba suas próprias vacinas e desenvolva seus anticorpos”, reforça a diretora da SBIm.

Vacinação também faz parte do pré-natal: dTpa, dT, hepatite B, Influenza e Covid-19 são os imunizantes preconizados para as gestantes. Foto: Butantan/Governo de SP

Outros imunizantes para ficar de olho

Prevista no Calendário de Vacinação da Gestante desde 2009, a vacina contra a hepatite B também é indicada às grávidas que não iniciaram ou não possuem o esquema completo, composto por três doses. O objetivo da estratégia é reduzir a potencial transmissão vertical – ou seja, quando a mãe passa a doença para a criança na hora do nascimento por meio do contato com sangue, líquido amniótico e outras secreções maternas. Caso não seja possível finalizar o esquema vacinal durante a gestação, a mulher deverá concluí-lo após o parto.

A hepatite B é uma doença que não tem cura e possui uma particularidade: quanto mais cedo na vida for contraída, pior será o seu prognóstico. “Trata-se de um problema com o qual a pessoa terá que conviver pelo resto da vida, com uso de medicação contínua. A longo prazo, poderá exigir a necessidade de um transplante de fígado e, infelizmente, até evoluir para óbito”, afirma Mayra. É por isso que a vacina contra a hepatite B é aplicada logo nas primeiras 24 horas de vida.

Entre 2012 e 2023, o número de casos da doença entre menores de 5 anos de idade caiu de 128 para 65. Porém, depois de sete anos consecutivos de queda, o índice tem evoluído desde 2021.

Diferentemente das outras vacinas indicadas à gestante, que têm um foco mais voltado à proteção e saúde do recém-nascido, os imunizantes contra gripe (Influenza) e Covid-19 são destinados à proteção da mãe, uma vez que elas apresentam um maior risco para desenvolver quadros mais graves de ambas as doenças.

Isso pode acontecer devido às mudanças no sistema imunológico, circulatório e pulmonar que ocorrem durante a gravidez. Dentre as principais complicações, estão o trabalho de parto prematuro, assim como a necessidade de hospitalização e até óbito.

“A recomendação é que as grávidas recebam as vacinas contra a gripe e a Covid-19 caso já faça mais de seis meses que as tenham recebido”, orienta Mayra.

Não vacinar é assumir riscos

A hesitação vacinal também é um problema entre as grávidas. Neste ano, por exemplo, o índice de gestantes vacinadas com a vacina da gripe é de apenas 28% – número bem aquém do esperado.

“É preciso reforçar que não há motivo para medo. Milhões de gestantes já foram imunizadas em todo o mundo, sem que nenhum tipo de problema tenha sido observado. É algo que transcende a proteção da mulher e que pode, de fato, salvar a vida do seu bebê”, finaliza Mayra.

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