Há 25 anos, o Butantan é o responsável por fornecer ao Ministério da Saúde a vacina contra a gripe, disponibilizada gratuitamente aos brasileiros por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Além das mais de 80 milhões de doses entregues anualmente à pasta para imunização do público-alvo da campanha nacional de vacinação, desde 2022 a organização tem contribuído para elevar os níveis de proteção contra o vírus influenza em diversas partes do globo por meio da exportação do produto.
Nesses últimos três anos, o imunizante já foi enviado para países como Bolívia, Equador, Colômbia, Uruguai, Nicarágua, Cuba, Tajiquistão e Butão. A comercialização internacional passou a acontecer depois que a vacina recebeu a pré-qualificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2021. As primeiras transações aconteceram no ano seguinte, quando um milhão de doses foram encaminhadas ao Equador, 700 mil ao Uruguai e 225 mil à Nicarágua.
Já no seu segundo ano de exportações, o Butantan somou mais de 5 milhões de doses do produto enviados para Uruguai, Nicarágua, Bolívia, Colômbia e Cuba. No primeiro semestre de 2024, outras 2,6 milhões de doses já foram despachadas para esses mesmos cinco países. As exportações têm acontecido principalmente por intermédio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Envios para o Hemisfério Norte
Uma vez que o vírus influenza possui rápida capacidade de mutação e evolução, a vacina contra a gripe precisa ser atualizada anualmente. Chamado de trivalente, o produto desenvolvido pelo Butantan contempla os três “tipos de vírus” – ou cepas – que mais estão circulando no momento. Outros detalhes que impactam a formulação do imunizante são a disposição geográfica dos países e o fato de o período de outono/inverno, quando geralmente aumentam os casos da doença, acontecer em momentos distintos nos hemisférios Norte e Sul.
Tais particularidades fazem com que as campanhas de vacinação contra a gripe aconteçam com mais de seis meses de diferença entre um hemisfério e outro – o período pode ser suficiente para que cepas que antes estavam em alta entrem em declínio, abrindo espaço para o surgimento de novas. Por conta disso, a OMS realiza tradicionalmente um anúncio dedicado à formulação do imunizante para o hemisfério Norte em fevereiro, e outro em setembro com recomendações para os países do Sul.
Em 2023, o Butantan produziu pela primeira vez a vacina da influenza com as cepas indicadas para o hemisfério Norte, inaugurando também as exportações do produto para a região. No total, cerca de 450 mil doses foram encaminhadas à República Dominicana, ao Tajiquistão e ao Butão – as vendas para os dois últimos países foram mediadas pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Entre setembro e outubro deste ano, 1,4 milhão de doses do produto foram despachadas pela primeira vez para a Guatemala.
Agilidade é palavra de ordem
De acordo com o diretor técnico da produção da vacina Influenza do Butantan, Douglas Macedo, tamanha celeridade só foi possível por conta de um planejamento bastante detalhado, que permitiu que parte da produção dedicada aos países do Norte acontecesse praticamente junto com o desenvolvimento do imunizante utilizado na população brasileira.
“Quando saiu a recomendação da OMS para o hemisfério Norte em fevereiro deste ano, nossa produção para o hemisfério Sul já estava ocorrendo desde setembro de 2023. Portanto, foi necessário estabelecer um processo bastante ágil para atendimento da nova demanda, tendo em vista o cumprimento dos prazos acordados com os parceiros”, observou Douglas.
A vacina trivalente do Butantan é feita à base de ovos embrionados, e cada um dos três monovalentes – correspondentes às cepas H1N1, H3N2 e Influenza B – são fabricados separadamente, com pausas para descontaminação da planta produtiva entre um e outro. Na última etapa, os monovalentes são misturados e envasados para depois serem entregues ao Ministério da Saúde.
Em 2024, as cepas recomendadas pela OMS foram as mesmas tanto para o hemisfério Sul, de acordo com o anúncio realizado em setembro de 2023, como para o Norte, conforme orientações de fevereiro de 2024. “Avaliamos que nosso estoque do monovalente da cepa H1N1 seria suficiente para atender as demandas de exportação e estendemos a produção da cepa H3N2, que estava na linha. No final, voltamos para fabricar mais alguns lotes da cepa B a fim de garantir os novos compromissos”, completa o diretor. A estratégia poupou cerca de 15 dias de produção.
No início de abril, o Butantan já havia concluído todos os lotes de monovalentes necessários para cumprir com suas entregas internas e externas. Além de mais de um milhão de doses de vacina direcionadas para exportação, outras 5 milhões vão seguir a formulação do hemisfério Norte para serem entregues ao Ministério da Saúde. A pasta adotou uma estratégia diferente para a região Norte desde o ano passado, quando a população dos setes estados passou a receber o imunizante em novembro – tradicionalmente, a campanha nacional começa em maio. A partir deste ano, o produto utilizado na região seguirá a formulação recomendada pela OMS para o hemisfério Norte.
A imunização é a forma mais eficaz de impedir a disseminação do vírus influenza, assim como a evolução de quadros mais graves em decorrência da infecção pela gripe. De acordo com a OMS, bilhões de casos da doença são registrados anualmente em todo o mundo, sendo que cerca de 5 milhões podem evoluir para situações severa, causando até 650 mil mortes.