Os olhos não foram projetados para focar e desfocar imagens próximas milhares de vezes, seguidamente, e o uso prolongado das telas acaba forçando esse comportamento. Como resposta, surge o desconforto visual experimentado, estima-se, por 70% a 90% da população adulta mundial: a fadiga ocular.
O problema é que a condição não está mais restrita aos adultos, mas também atinge crianças e adolescentes, de acordo com estudo publicado no jornal da British Contact Lens Association (BCLA), em novembro de 2021. Para chegar aos resultados, os pesquisadores avaliaram as taxas de piscadas espontâneas, sintomas de olho seco e hábitos de uso de tela entre 456 participantes de uma convenção de jogos em Auckland (Nova Zelândia), com idades entre 13 e 75 anos.
O que se concluiu foi que o tempo de tela prolongado na população jovem foi associado ao comportamento de piscar e aos sintomas consistentes com pacientes com olho seco. Segundo a médica oftalmologista pediátrica Christie Michelle Graf, membro da Sociedade Brasileira de Oftalmopediatria (SBOP), a visualização em excesso de vídeos e outras imagens em movimento (como as dos games, por exemplo) é mesmo capaz de prejudicar a visão.
A secura é fruto da diminuição no número de piscadas, uma vez que as telas dos celulares “pulsam” em uma frequência que deixa o organismo todo em alerta. Como resultado, pisca-se menos, o que favorece a secura dos olhos. “Crianças também sofrem com os olhos secos, condição denominada síndrome pediátrica do olho seco, caracterizada pela evaporação do canal lacrimal em função de muito tempo à frente das telas e das piscadas em quantidade insuficiente”, explica Graf.
A especialista destaca que, embora saiba que é praticamente impossível proibir o uso dessas tecnologias, deve haver um controle de tempo rigoroso por parte dos pais ou responsáveis. “As crianças estão passando cada vez mais tempo em ambientes fechados acompanhadas dessas telas, sempre muito próximas ao rosto. Isso faz com que os olhos focalizem apenas para perto, um mecanismo capaz de alterar o formato do globo ocular”, argumenta.
Essa modificação no formato favorece o desenvolvimento de outra condição, a miopia (que caracteriza a má visão à distância). “O comum era diagnosticar pacientes com idades entre oito e 18 anos. Hoje, crianças em idade pré-escolar já apresentam cada vez mais o problema, que surge mesmo nos indivíduos sem a predisposição genética”, comenta a médica.
Ver vídeos no carro em movimento, ao contrário do que muitos podem pensar, não agrava ou estimula qualquer condição visual, de acordo com Graf. Mas favorece o surgimento de sintomas como náuseas, enjoo, mal-estar e cefaleia (dor de cabeça), que não se relacionam com a saúde ocular.
“Impor limites no uso de eletrônicos é sempre recomendado. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) preconiza que crianças menores de dois anos não usem tela; que aquelas com idades entre dois e cinco anos usem uma hora por dia com supervisão; que as com idades entre seis e 10 anos usem até duas horas por dia com supervisão e que, acima de 11 anos, o uso seja de até três horas por dia com supervisão”, recomenda a especialista.
Sintomas de olho seco
Dor, vermelhidão, sensação de secura ou lacrimejamento, visão dupla ou embaçada, sensibilidade à luz e tremores ou contrações involuntárias das pálpebras são alguns dos sintomas associados ao olho seco. Dores de cabeça e estresse geralmente acompanham as queixas.
O tratamento da fadiga ocular depende da causa e mudanças nos hábitos são obrigatórias. Como prevenção, a recomendação é que a cada hora em frente às telas, os olhos descansem por dez minutos. Também é preciso diminuir a luminosidade dos aparelhos e posicioná-los a uma distância de 60 centímetros, abaixo do nível dos olhos, além de condicionar-se a piscar de 15 a 20 vezes por minuto.
Usar colírios lubrificantes, óculos, lentes de contato e, eventualmente, dependendo do problema, se submeter a uma cirurgia para correção de grau, também fazem parte do tratamento proposto.
Condutas para a saúde ocular
Há um movimento chamado 20-20-20 Rule, da The Canadian Association of Optometrists (CAO), que recomenda que, a cada 20 minutos, se faça uma pausa de 20 segundos e focalize o olhar em um objeto localizado a 20 pés de distância, algo em torno de seis metros. Outro hábito importante, segundo Graf, diz respeito ao aproveitamento da luz natural, especialmente pelos jovens.
“O fato de as crianças estarem muito dentro de casa também colabora com o surgimento ou piora da miopia. O sol é um importante fator de bloqueio na progressão do problema. Além disso, ambientes externos estimulam o olhar para longe, algo essencial na prevenção e controle”, assinala. A exposição solar deve ser sempre segura e a visita anual ao médico oftalmologista é indicada.
No estudo neozelandês, o que se concluiu foi que a implementação de triagem clínica de rotina, intervenções educacionais e desenvolvimento de orientações oficiais sobre o uso seguro da tela pode ajudar a prevenir uma degradação acelerada da saúde da superfície ocular e da qualidade de vida em jovens.
(Fonte: Agência Einstein)