quinta, 17 de abril de 2025
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Universal é condenada a indenizar fiel que vendeu padaria para fazer doação à igreja

A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) foi condenada pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) a indenizar em R$ 30 mil um ex-fiel que, convencido por um pastor,…

A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) foi condenada pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) a indenizar em R$ 30 mil um ex-fiel que, convencido por um pastor, doou praticamente todo o seu patrimônio, incluindo a padaria da família, com a promessa de que sua vida mudaria, conforme informações do UOL.

Segundo os autos, o pastor da IURD em Recife usou sua posição religiosa para persuadir um padeiro de 50 anos a entregar R$ 30 mil à igreja. A decisão, unânime, foi tomada pela 5ª Câmara Cível do TJPE, que rejeitou o recurso da instituição no último dia 20.

O ex-membro chegou a vender seu pequeno comércio após ouvir do pastor que sua vida não mudaria se não “tocasse no sacrifício”. Mensagens de áudio e conversas por WhatsApp apresentadas no processo comprovaram a pressão. Em uma delas, o pastor diz: “Sacrifício é toda a força. O senhor vai ficar na mesma, ou com a vida pior ainda, porque rejeitou o altar”.

Outro áudio citado no processo mostra o pastor dizendo que, sem a doação, “o diabo usaria a ex-mulher e a filha dela para tirar tudo” do fiel. A Justiça entendeu que houve indução ao medo e à entrega forçada dos bens, desrespeitando a liberdade de escolha e os princípios da dignidade da pessoa humana.

Caso ocorreu na Igreja da Universal no bairro Santo Amaro, em Recife (PE)
Caso ocorreu na Igreja da Universal no bairro Santo Amaro, em Recife (PE). Foto: Reprodução

O fiel relatou que foi orientado pelo pastor a vender tudo o que possuía, mesmo sabendo que ficaria sem nenhuma fonte de renda. As mensagens trocadas entre os dois foram consideradas fundamentais para a condenação da igreja.

“Não toca naquilo que é sacrifício, seu Manoel. Se o senhor tocar, sua vida não vai mudar”, diz uma das falas. Em outra, o pastor orienta: “Pega tudo que o senhor tem, põe no altar, no sacrifício, pra Deus te abençoar”.

O desembargador Agenor Ferreira de Lima Filho, relator do caso, afirmou que a liberdade religiosa tem limites e não pode ser usada para práticas abusivas. Ele destacou que o caso representa “abuso de poder e má-fé” ao explorar emocionalmente um fiel em situação de vulnerabilidade.

“A imposição de tais expectativas, positivas e negativas, explorando a fé e a fragilidade emocional, excede os limites da liberdade religiosa”, escreveu o magistrado.

A sentença de primeira instância concluiu que houve coação moral e abuso de direito, com o uso do discurso religioso para provocar medo, isolar o fiel de sua rede de apoio e levá-lo à doação integral de seus bens. A padaria vendida era a única fonte de sustento da família.

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