A seca extrema e as queimadas na Amazônia, Cerrado e Pantanal estão causando uma crise ambiental grave, afetando a qualidade do ar em várias regiões do Brasil. De acordo com a empresa suíça de monitoramento de oxigênio IQAir, Porto Velho (RO), Rio Branco (AC) e São Paulo (SP) registraram os maiores níveis de poluição no mundo no domingo (8).
A fumaça das queimadas, intensificada por um corredor de vento que transporta as partículas poluentes do Norte ao Sul do país, tem colocado a saúde de milhões de brasileiros em risco.
Dados sobre queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que, no último fim de semana, foram detectados 7.028 focos de calor no Brasil. Esses incêndios, somados à seca prolongada, estão tornando a vegetação das regiões mais suscetíveis ao fogo. Na Amazônia, o número de queimadas em julho e agosto atingiu níveis recordes.
Em Porto Velho, o índice de qualidade do ar chegou a 210, considerado “muito insalubre” pela métrica da IQAir, que utiliza parâmetros padronizados pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA). O índice vai de 0 a 500, sendo que valores acima de 201 representam um risco significativo à saúde pública. Rio Branco também entrou na zona de “muito insalubre” e São Paulo atingiu níveis considerados “insalubres”.
“Os valores estão mais de 10 vezes acima do limite seguro recomendado pela OMS. Ou seja, toda a população dessas cidades pode apresentar riscos de manifestação de doenças respiratórias e cardiovasculares, além de aumentar a possibilidade de mortes prematuras em grupos de risco”, disse ao jornal O Globo a coordenadora do Laboratório de Química Atmosférica da PUC-Rio, Adriana Gioda.
O meteorologista Humberto Barbosa, do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), enfatizou que a principal causa da poluição atual são as queimadas. “Quando se fala em poluição, basicamente é em função das queimadas. Mas muito mais grave que isso é a degradação. Quanto mais degradada a área, maior a chance de as queimadas aumentarem e de ter mais poluição”, afirmou.
A fumaça tem impactado cidades mais próximas dos incêndios, como Manaus, Porto Velho e Rio Branco, onde moradores já adotaram o uso de máscaras ao sair de casa para se proteger da poluição.
“Já estamos muito perto da faixa que a ciência calculou para o ponto a partir do qual a floresta amazônica não consegue mais se sustentar e se transforma em um ecossistema mais pobre, seco e degradado. Isso representa um altíssimo risco para nosso país, para o continente e para o planeta”, afirmou Mariana Napolitano, diretora de estratégia do WWF-Brasil.
A fumaça já chegou ao Centro-Sul do Brasil, trazida por um fenômeno conhecido como “rios voadores”, um corredor de ar que normalmente transporta a umidade da Amazônia para favorecer chuvas nessas regiões.
Com a seca intensa e os incêndios, porém, esse corredor está carregando fumaça e calor para áreas distantes, como o Sudeste e até o Sul do Brasil, piorando a qualidade do ar em locais que já enfrentam seus próprios desafios ambientais.