sábado, 16 de novembro de 2024
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Traficantes vendem lança-perfume “turbinado” com solvente

Depois de dominar os bailes funk da periferia paulistana, o lança-perfume “turbinado”, feito com solventes e misturado com um produto altamente tóxico chamado antirrespingo de solda (tricloroetileno), chegou às baladas…

Depois de dominar os bailes funk da periferia paulistana, o lança-perfume “turbinado”, feito com solventes e misturado com um produto altamente tóxico chamado antirrespingo de solda (tricloroetileno), chegou às baladas universitárias, em bares da Rua Augusta e nos clubes de música eletrônica. Pequenos traficantes da região central disseminam a droga, vendida a R$ 7 em frascos de 5 milímetros.

O que vem sendo usado na noite de São Paulo é bem diferente do que era conhecido desde os carnavais do século passado como “lança-perfume universitário”. Contrabandeado do Paraguai, com borrifador de tampa verde, o “lança universitário” pode ser encontrado, mais raramente, em baladas gay da Rua Frei Caneca, na região central, por cerca de R$ 150.

O lança vendido por pequenos traficantes é, na maioria das vezes, uma fabricação caseira que mistura clorofórmio, tíner, éter e balas (usadas para fazer o papel de essência). Alguns pontos de drogas ainda oferecem o produto “turbinado”, que leva também o antirrespingo de solda sem silicone – um solvente feito à base de hidrocarboneto que aumenta a aderência entre peças de metal recém-soldadas e é vendido em tubos de spray nas lojas de materiais para construção.

A diferença entre os dois tipos de lança-perfume já aparece no alerta do traficante. “Não coloque em garrafas pet. O fundo derrete e você vai perder tudo”, afirma o jovem que oferece pequenos frascos de vidro na Rua Muniz de Souza, no bairro da Aclimação, zona sul da capital.

Alucinações

Segundo especialistas, o fundo da garrafa derrete por causa do antirrespingo de solda. Eles apontam que o produto, de efeito anestésico, pode causar alucinações e morte por insuficiência respiratória em poucos minutos. De tão anestesiada, a pessoa perde a sensibilidade e corre o risco de parar de respirar, relatam especialistas.

Toxicologista do Hospital das Clínicas (HC) e chefe do Centro de Assistência Toxicológica da Universidade de São Paulo (USP), Anthony Wong afirma que o antirrespingo de solda destrói os tecidos respiratórios em pouco tempo. “É um produto que tenta imitar efeitos do LSD (ácido lisérgico). Ele é bem semelhante ao fluorcarbono usado em ar-condicionado e geladeira para congelar, e que foi proibido nos anos 1990 por causar efeitos contra a camada de ozônio”, afirma o especialista. “Dentro do organismo, o antirrespingo tem um efeito altamente corrosivo.”

Morte

Na capital paulista, o Instituto Médico-Legal (IML) registrou em 2014 uma morte causada diretamente pelo novo lança-perfume. No dia 14 de março, Kauan Batista, de 21 anos, morador na Penha, na zona leste, cheirava no Cabral, casa noturna no Tatuapé, também na zona leste, quando desmaiou. Segundo amigos, um segurança colocou o rapaz para fora, ainda desacordado.

Um tio do garoto que estava na balada saiu, pegou Batista jogado na calçada e o levou de táxi para o Pronto-Socorro do Tatuapé, segundo testemunhas contaram à polícia. Mas o jovem já estaria morto.
“Ele usava o lança fazia dois anos, já tinha achado os vidros em casa. Tinha muita dor de estômago”, contou ao Estado a mãe do jovem, Valeska Valéria Baptista, de 38 anos. Valeska pede indenização ao Cabral. “Colocaram ele já morto para fora.”

Procurados, os donos da casa noturna não responderam às ligações nem ao e-mail da reportagem. A casa está fechada para reforma desde janeiro.

Denarc apreende 1.200 frascos

O Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) informou que foram apreendidos mais de 1.200 frascos de lança-perfume “genericamente catalogados” desde janeiro de 2014 – ou seja, não era o conhecido lança-perfume “universitário”, que vem do Paraguai.

Mas o órgão da Polícia Civil acrescenta não poder autuar jovens com o antirrespingo de solda porque o produto não está listado entre as drogas proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Acionados por organizadores de bailes funk, vereadores paulistanos querem aprovar uma lei que obrigue as casas de materiais de construção a fazer venda controlada do produto.

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