segunda, 23 de dezembro de 2024
Pesquisar
Close this search box.

Teste pode detectar sinais de Alzheimer em 5 minutos

Um neurologista dos Estados Unidos desenvolveu um teste de apenas dez perguntas que pode detectar, em cerca de cinco minutos, os primeiros sinais do Mal de Alzheimer. Segundo o pesquisador,…

Um neurologista dos Estados Unidos desenvolveu um teste de apenas dez perguntas que pode detectar, em cerca de cinco minutos, os primeiros sinais do Mal de Alzheimer.

Segundo o pesquisador, o teste não é um diagnóstico de Alzheimer ou outras formas de demência, mas pode “identificar cedo mudanças cognitivas associadas a demências comuns como Alzheimer (…) ou outros problemas como depressão, traumas cerebrais e disfunções causadas por medicamentos”.

O estudo do médico foi publicado na Alzheimer`s and Dementia, revista da Associação de Alzheimer dos EUA.

O teste foi distribuído a clínicas nos EUA e está disponível no final deste texto.

A combinação de provas cognitivas mais usada atualmente para diagnosticar a demência – conhecida como “regra de ouro”, ou “gold standard” – pode levar cerca de duas horas se for realizada por um médico experiente. O novo teste pode ser conduzido por não especialistas como parentes e cuidadores.

James E. Galvin, ex-professor da Universidade de Nova York, é atualmente pesquisador do Colégio de Medicina da Universidade Florida Atlantic, em Boca Ratón.

Galvin e sua equipe usaram seu teste, chamado “Sistema Rápido de Avaliação da Demência” (QDRS, na sigla em inglês), em cerca de 300 pacientes, que também foram avaliados pelo método tradicional.

“Análises estatísticas rigorosas demonstram a validade do QDRS não apenas para distinguir indivíduos com ou sem demência, mas para determinar em que fase da doença eles estão”, disse Galvin à BBC Mundo, site da BBC em espanhol.

Dez perguntas e suas limitações
A demência é um termo genérico que descreve uma perda progressiva de funções e capacidades cognitivas que interferem com a habilidade de uma pessoa em ser independente, explicou o cientista.

“O Alzheimer é a causa mais comum da demência, mas há mais de cem causas”, disse. “Neste estudo também incluímos demências por outras causas, como a demência vascular, a degeneração lobar frontotemporal (doença degenerativa marcada por mudanças no comportamento e personalidade) e a demência com Corpos de Lewy (doença degenerativa que inclui sintomas do mal de Parkinson).”

O questionário do médico inclui dez perguntas de múltipla escolha, com cinco opções de resposta cada, descrevendo sintomas que vão desde envelhecimento normal até demência severa (veja abaixo).

Cada pergunta cobre áreas diferentes – de memória a comunicação, orientação, higiene, atenção e concentração, entre outras.

A pontuação final vai de 0 a 30, e números mais elevados indicam um maior impedimento cognitivo.

“A grande limitação é a confiabilidade de quem preenche o questionário, de ser alguém que não prestou atenção aos detalhes, ou não conhece bem o paciente, nega-se a aceitar a presença da doença ou tem algum interesse pessoal de que o paciente seja declarado incapaz”, explicou Galvin à BBC.

Já a vantagem do novo teste, acrescentou, é sua rapidez.

“Ele permite detectar a doença em suas primeiras etapas, quando é mais provável que as intervenções sejam mais eficientes.”

Ele advertiu que uma pontuação alta no teste deve ser seguida por uma visita a um especialista.

“Mas em lugares onde há poucos especialistas, o teste pode ajudar o paciente a ter acesso rápido a diferentes serviços ou determinar, de forma sucinta, como o paciente está respondendo à terapia, se a doença está progredindo ou não”, prosseguiu Galvin.

Brasil
A América Latina é uma das regiões que serão mais impactadas pelo aumento dos casos de demência, segundo o relatório Demência na América, publicado em 2013 pela ONG Alzheimer`s International.

A publicação diz que o número de pessoas com a doença “subirá na América Latina dos 7,8 milhões atuais para mais de 27 milhões em 2050”.

No Brasil, estima-se que haja 1,2 milhão de pessoas com Alzheimer – menos da metade delas diagnosticada -, diz à BBC Brasil o neurologista Rodrigo Schultz, coordenador do ambulatório de demência grave da Unifesp e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer.

Ele diz que, embora o novo teste americano não possa ser considerado um diagnóstico preciso – que requer uma análise mais detalhada de por que o paciente pode estar tendo perda de memória -, trata-se de uma ferramenta importante para alcançar um público mais amplo.

“Pode ser um grande benefício em um país em que muitos não tenham acesso a neurologistas. Um médico de família pode fazer as perguntas (do teste) e, dependendo das respostas, encaminhar o paciente para um serviço de referência.”

——————————————————————————————-

PERGUNTAS E PONTUAÇÕES DO SISTEMA RÁPIDO DE AVALIAÇÃO DA DEMÊNCIA:

O teste avalia mudanças nas habilidades cognitivas e funcionais do paciente. Você deve comparar o paciente agora com como ele costumava ser – a questão central é a mudança. Em cada categoria, escolha a frase que melhor descreve o paciente e anote quantos pontos ela vale. Some os pontos de cada questão e veja, ao final do teste, o que essa pontuação significa.

Nem todas as características precisam estar presentes para que a resposta seja escolhida.

MEMÓRIA
0 ponto – Não há perda de memória óbvia. Esquecimentos irregulares que não interferem com as atividades diárias

0,5 ponto – Esquecimento leve e regular ou parcial de eventos, que pode interferir com atividades diárias; repete perguntas e frases, coloca objetos em lugares incomuns; esquece compromissos

1 ponto – Perda de memória leve a moderada, mais perceptível quando se trata de eventos recentes; interfere com as atividades diárias

2 pontos – Perda de memória moderada a severa; novas informações são rapidamente esquecidas; só lembra de informações aprendidas com muito esforço

3 pontos – Perda de memória severa; quase impossível recordar novas informações; memória de longo prazo pode estar afetada

ORIENTAÇÃO
0 – Plenamente orientado quanto a pessoas, espaço e tempo praticamente sempre

0,5 – Leve dificuldade em manter controle do tempo; pode esquecer datas com mais frequência do que no passado

1 – Dificuldade leve a moderada em acompanhar o tempo e sequências de eventos; esquece o mês do ano; orientado em locais familiares, mas fica confuso fora de espaços conhecidos; perde-se e fica vagando

2 – Dificuldade moderada a severa; geralmente desorientado quanto a tempo e espaço (familiar ou não); frequentemente tem dificuldade em lembrar do passado

3 – Orientado apenas quanto ao próprio nome, ainda que possa reconhecer parentes

TOMADA DE DECISÕES E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
0 – Resolve problemas cotidianos sem dificuldades; lida bem com questões pessoais e financeiras; habilidades de tomada de decisões consistentes com seu histórico

0,5 – Leve debilidade (ou maior demora) na resolução de problemas; dificuldade com conceitos abstratos; decisões ainda coerentes

1 – Dificuldades moderadas em lidar com problemas e tomar decisões; delega muitas decisões a terceiros; percepção e comportamento sociais podem estar levemente comprometidos; perda de discernimento

2 – Gravemente debilitado em lidar com problemas, tomando apenas decisões pessoais simples; percepção e comportamento sociais frequentemente debilitados; sem discernimento

3 – Incapaz de tomar decisões ou resolver problemas; terceiros tomam quase todas as decisões para ele ou ela

ATIVIDADES FORA DE CASA
0 – Leva adiante sua profissão de forma independente, realiza compras, atividades comunitárias e religiosas, voluntárias e em grupos sociais

0,5 – Leve debilidade nessas atividades se comparado a desempenhos prévios; leve mudança nas habilidades como motorista; ainda capaz de lidar com situações de emergência

1 – Incapaz de funcionar de modo independente, mas ainda capaz de acompanhar compromissos sociais; parece “normal” a terceiros; mudanças perceptíveis nas habilidades como motorista; preocupações quanto à habilidade dela de lidar com situações de emergência

2 – Sem habilidade de praticar atividades fora de casa de forma independente; parece bem o suficiente para ser levado para atividades exteriores, mas geralmente precisa estar acompanhado

3 – Incapaz de praticar atividades de forma independente; parece muito doente para ser levado a atividades fora de casa

HABILIDADES EM CASA E HOBBIES
0 – Atividades em casa, hobbies e interesses pessoais mantidos em relação ao comportamento prévio

0,5 – Leve debilidade ou perda de interesse nessas atividades; dificuldade em operar equipamentos (sobretudo os mais novos)

1 – Debilidade leve porém definitiva em casa e em hobbies; abandonou tarefas de maior dificuldade, bem como hobbies e interesses mais complexos

2 – Preservadas apenas as atividades diárias mais simples; interesse muito restrito em hobbies, cumprido com pouco rigor

3 – Sem habilidade significativa em tarefas domésticas ou em hobbies prévios

HÁBITOS DE HIGIENE PESSOAL
0 – Totalmente capaz de se cuidar, vestir, lavar, tomar banho, usar o banheiro

0,5 – Mudanças leves nas habilidades com essas atividades

1 – Precisa ser lembrado de ir ao banheiro, mas consegue fazê-lo de forma independente

2 – Precisa de ajuda para se vestir e limpar; ocasionalmente incontinente

3 – Requer considerável ajuda com a higiene e cuidado pessoal; incontinência frequente

MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO E PERSONALIDADE
0 – Comportamento social apropriado, nas esferas pública e privada; nenhuma mudança na personalidade

0,5 – Mudanças questionáveis ou muito leves em comportamento, personalidade, controle emocional, pertinência das escolhas

1 – Mudanças leves em comportamento ou personalidade

2 – Mudanças moderadas em comportamento ou personalidade, afetando a interação com as pessoas; pode ser evitado por amigos, vizinhos ou parentes distantes

3 – Severas mudanças de comportamento ou personalidade, tornando inviáveis ou desagradáveis as interações com terceiros

HABILIDADES DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO
0 – Nenhuma dificuldade de linguagem ou esquecimento de palavras; lê e escreve tão bem quanto no passado

0,5 – Dificuldade leve porém mostra consistência em encontrar as palavras ou termos descritivos; pode levar mais tempo para completar raciocínio; leves problemas de compreensão; conversação debilitada; pode haver efeitos sobre leitura e escrita

1 – Dificuldade moderada em encontrar as palavras certas; incapaz de nomear objetos; notável redução em vocabulário; compreensão, conversação, leitura e escrita reduzidas

2 – Debilidades moderadas ou severas na fala ou na compreensão; dificuldade em comunicar pensamentos aos demais; habilidade limitada em leitura e escrita

3 – Deficits severos em linguagem e comunicação; pouca ou nenhuma fala compreensível

HUMOR
0 – Nenhuma mudança de humor, interesse ou motivação

0,5 – Ocasionais momentos de tristeza, depressão, ansiedade, nervosismo ou perda de interesse/motivação

1 – Questões moderadas porém diárias com tristeza, depressão, ansiedade, nervosismo ou perda de interesse/motivação

2 – Questões moderadas com tristeza, depressão, ansiedade, nervosismo ou perda de interesse/motivação

3- Questões severas com tristeza, depressão, ansiedade, nervosismo ou perda de interesse/motivação

ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO
0 – Atenção normal, concentração e interação com o meio que o rodeia

0,5 – Problemas leves de atenção, concentração ou interação com o ambiente; pode parecer sonolento durante o dia

1 – Problemas moderados de atenção e concentração; pode ficar olhando fixamente para um ponto no espaço ou de olhos fechados durante alguns períodos; crescente sonolência durante o dia

2 – Passa parte considerável do dia dormindo; não presta atenção ao seu redor; quando conversa diz coisas sem lógica ou que não têm relação ao tema

3 – Habilidade limitada ou inexistente para prestar atenção ao ambiente externo.

__________________________________________________________________________________________

PONTUAÇÃO: O teste não equivale a um diagnóstico médico. A pontuação final vai de zero a 30, e pontuações mais altas sugerem maior perda cognitiva. Os padrões de avaliação, a partir da aplicação do teste em 267 pacientes, indicam que:

Normal: 0-1 pontos

Leve debilidade cognitiva: 2 a 5 pontos

Demência leve: 6 a 12 pontos

Demência moderada: 13 a 20 pontos

Demência severa: 20 a 30 pontos

Pontuações altas indicam que o paciente deve passar por uma avaliação médica para um diagnóstico formal. Pontuações “normais” sugerem que é improvável que o paciente sofra de demência, mas é possível também que a doença esteja em estágios muito iniciais. Caso haja suspeitas de demência por outros motivos, é bom buscar ajuda profissional.

(O teste é de autoria de James E Galvin e New York University Langone Medical Center)

Notícias relacionadas