Já imaginou descobrir se você é de origem africana, asiática, europeia ou nativa americana? O teste de ancestralidade auxilia as pessoas a descobrirem suas origens, revelando dados de até oito gerações antepassadas, como características físicas e país de origem, permitindo inclusive montar a árvore genealógica. O teste oferece ainda a oportunidade de identificar a predisposição a certas doenças.
Segundo reportagem publicada pela revista Science, o teste de ancestralidade é uma ferramenta cada vez mais popular entre indivíduos que buscam descobrir suas origens. A tecnologia por trás desses testes permite que sejam realizadas comparações genéticas entre indivíduos e populações em diferentes regiões do mundo.
O geneticista de populações Spencer Wells, investigador estadunidense da National Geographic, destacou em entrevista à imprensa que muitas pessoas têm uma curiosidade natural sobre suas raízes familiares, porque a ancestralidade é uma parte fundamental da identidade de cada um. Ele acrescentou que o teste de ancestralidade pode ajudar a responder a essas perguntas e fornecer informações valiosas sobre a história da família.
Além de descobrir a origem étnica, o exame pode auxiliar a encontrar parentes distantes e a identificar doenças genéticas. De acordo com artigo publicado pela revista Forbes, o exame fornece dados valiosos sobre a presença de certas variantes genéticas que podem indicar maior risco de patologias como câncer, doenças cardiovasculares e Alzheimer.
O que é o teste e um pouco de sua história
O teste genético de ancestralidade é uma análise do DNA que tem como objetivo identificar as origens geográficas e características genéticas de uma pessoa. Ele consiste na análise do DNA autossômico, mitocondrial e dos cromossomos X e Y, e pode incluir o estudo das linhagens paterna e materna (para homens) e materna (para mulheres), já que o cromossomo Y, responsável pela linhagem paterna, não é herdado pelas mulheres.
Embora o exame tenha se popularizado nos últimos anos, ele vem sendo realizado desde a década de 1980, quando custava cerca de 10 mil dólares, um valor muito alto para a época.
Com a evolução da tecnologia e a finalização do sequenciamento do genoma humano em 2003, o teste genético de ancestralidade se tornou mais acessível, barato, e disponível para as pessoas que desejam descobrir sobre suas origens. De acordo com a revista MIT Technology Review, em 2019, mais de 26 milhões de pessoas em todo o mundo já haviam realizado o exame.
No Brasil, também há uma crescente demanda pelo serviço. Atualmente, é possível fazer essa testagem de várias maneiras, incluindo exames de DNA, que podem ser feitos em casa com um kit comprado pela internet numa faixa média de preço entre R$ 200 e R$ 700.
Apesar de os testes de ancestralidade parecerem divertidos e informativos, contudo, especialistas enfatizam a importância de lembrar que nem todas as empresas que oferecem esses serviços são confiáveis. Antes de escolher um laboratório, é fundamental fazer uma pesquisa sobre sua reputação e verificar se ele segue os padrões éticos e legais de coleta e uso de informações genéticas.
Como funciona o processo de testagem
O processo do teste genético é simples e pode ser realizado por diversos laboratórios. Conforme artigo publicado no portal do Hospital Israelita Albert Einstein, a coleta da amostra pode ser feita utilizando um swab para alcançar a secreção presente na parte de dentro da bochecha ou por meio de um furo no dedo para colher uma pequena amostra de sangue.
Após a coleta, o DNA é extraído das células recolhidas e sequenciado para análise. A avaliação dos polimorfismos presentes no DNA da pessoa é feita e os resultados são comparados com os polimorfismos cadastrados nos bancos de dados que representam as populações das mais diversas regiões do mundo. Dessa forma, é possível traçar a ancestralidade geográfica do indivíduo e apresentar o resultado em forma de porcentagens, como 15% da África e 30% do sul da Europa.
Polimorfismos são variações genéticas que ocorrem naturalmente no DNA das células de um organismo. Eles podem ser encontrados em diferentes regiões do genoma e responsáveis por diferenças na aparência física, como cor dos olhos, tipo de cabelo e altura, por exemplo.
Alguns polimorfismos também estão associados a características de saúde, como a suscetibilidade a certas doenças. No contexto dos testes de ancestralidade, eles são analisados para identificar diferenças genéticas entre populações de diferentes regiões e, assim, inferir a ancestralidade de alguém.
O exame de ancestralidade é confiável?
Embora a tecnologia tenha avançado, ainda existem limitações e desafios enfrentados pela ciência em relação aos testes de ancestralidade. O aspecto é esclarecido no artigo Genetic Ancestry Testing: What Is It and Why Is It Important? , por Lynn B. Jorde e Michael J. Bamshad, publicado na revista científica internacional JAMA em 2020.
Segundo o artigo, o teste de ancestralidade é feito a partir da comparação de segmentos do genoma de um indivíduo com segmentos genômicos presentes em bancos de dados de populações contemporâneas de diferentes regiões do mundo. No entanto, não é possível acessar o genoma de populações ancestrais verdadeiramente representativas, o que torna a inferência de ancestralidade a partir de descendentes contemporâneos uma tarefa desafiadora.
Além disso, é difícil obter amostras representativas de determinadas populações, uma vez que a diversidade genética de algumas delas é limitada, o que pode comprometer a precisão dos resultados. Por exemplo, no caso de populações indígenas, mesmo quando disponíveis como referência, seus genomas podem não representar adequadamente a diversidade genética dos povos ancestrais.
Nesse sentido, a confiabilidade dos testes de ancestralidade depende da qualidade e da diversidade dos bancos de dados genéticos utilizados como referência, já que estas são as informações a serem comparadas. Por isso, é importante que os laboratórios que realizam esses exames tomem cuidados para evitar vieses, como o fato de muitos bancos de dados genéticos serem compostos majoritariamente por genomas de origem europeia.