sábado, 16 de novembro de 2024
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Tarcísio de Freitas contrata cunhado com verba eleitoral

O candidato ao Governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) contratou para sua campanha seu cunhado, o mesmo de quem também alugou um imóvel em São José dos Campos,…

O candidato ao Governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) contratou para sua campanha seu cunhado, o mesmo de quem também alugou um imóvel em São José dos Campos, no interior de São Paulo, por valor inferior ao de mercado.

Os repasses de R$ 40 mil, feitos ao militar Maurício Pozzobon Martins, foram a título de serviços de administração financeira para a campanha do candidato bolsonarista.

O pagamento consta na prestação de contas entregue por Tarcísio ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que não informa se o cunhado recebeu por meio do fundo eleitoral (dinheiro público) ou de doações de pessoas físicas.

Tarcísio é natural do Rio de Janeiro e vivia em Brasília até ser escalado por Jair Bolsonaro (PL) para concorrer ao pleito em São Paulo.

Entre os documentos apresentados pelo candidato para conseguir mudar sua residência eleitoral para o estado e disputar uma vaga ao Palácio do Bandeirantes está o contrato do apartamento na Vila Ema, bairro nobre de São José dos Campos.

Trata-se de um apartamento de 176 m², com três vagas na garagem, comprado pelo cunhado do ex-ministro de Bolsonaro em 2015, segundo matrícula do cartório. O imóvel está avaliado em cerca de R$ 1,6 milhão, usando como base apartamentos similares anunciados à venda.

O aluguel cobrado, de R$ 1.185 por mês, está bem abaixo do de imóveis da região. Um apartamento com padrão semelhante na cidade tem aluguel por volta de R$ 7.000 mensais, segundo sites imobiliários.

A Folha teve acesso ao contrato de locação celebrado entre Tarcísio e o seu cunhado, Martins. O prazo de locação é de 12 meses, com início no dia 1º de outubro de 2021 e término no dia 1º de outubro de 2022, um dia antes da eleição. Mas está prevista a possibilidade de renovação.

O contrato foi apresentado à Justiça Eleitoral pela candidatura do ex-ministro, que sofreu com um pedido de impugnação em razão da ausência de comprovação do domicílio eleitoral em São Paulo. E o TRE deferiu o registro da chapa composta por Tarcísio e pelo vice Felício Ramuth (PSD).

A assessoria de imprensa de Tarcísio disse, em nota à Folha, que “todos os esclarecimentos acerca do domicílio eleitoral de Tarcísio já foram prestados, e todos os questionamentos realizados sobre o assunto foram arquivados pela Justiça”.

A reportagem também questionou quais as atividades realizadas por Martins, e se a campanha o recompensou com recursos provenientes do fundo partidário ou de doações particulares. “Conforme citado, toda a prestação de contas relativa à campanha está disponível no TSE”, completa a assessoria do candidato.

Para transferência do título de eleitor, a legislação exige a residência mínima de três meses no novo domicílio (no caso de Tarcísio, o estado). O contrato de aluguel foi firmado em setembro do ano passado, e o candidato dos Republicanos transferiu o título de eleitor para São Paulo em janeiro deste ano —anteriormente, o documento estava registrado em Brasília.

Conforme a Folha mostrou, em junho deste ano, Tarcísio não vivia no imóvel, que estava em reforma. À reportagem ele disse, na ocasião, manter base na capital devido aos compromissos de campanha.

Atualmente constando como responsável por documentos na campanha, Martins é militar e foi para a reserva em 2019. Segundo o currículo dele, desde então e até junho deste ano, o militar atuou na Infraero, órgão vinculado ao Ministério da Infraestrutura, que era comandado por Tarcísio.

A origem de Tarcísio foi desde o início um dos principais flancos explorados por rivais. O tema ganhou novo fôlego após o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo decidir que o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) não poderia concorrer pelo estado, por considerar irregular a transferência do título de eleitor do também ex-ministro de Bolsonaro.

Em junho, a reportagem foi ao endereço informado à Justiça por Tarcísio, tocou o interfone à procura do ex-ministro e ouviu do porteiro que não era possível encontrar ninguém ali. “Tarcísio? Mas você é de obra?”, perguntou o porteiro. “O apartamento 112 está em obra. Só tem os prestadores [de serviço].”

A reportagem perguntou se não conseguiria nunca encontrar alguém no local. “É”, respondeu o porteiro.

Momentos depois, a reportagem voltou ao local e questionou na portaria se Tarcísio já havia sido visto ali. Após a Folha explicar que se tratava de um pré-candidato e que o prédio constava como endereço dele, o porteiro fez uma pausa e afirmou: “Reside aqui sim, mas o apartamento está em reforma”.

O TRE rejeitou questionamento da direção do PSOL a respeito do domicílio eleitoral do candidato. Após a reportagem da Folha, a Polícia Federal abriu investigação sobre o assunto.

Recentemente, a origem de Tarcísio voltou a levantar questionamentos após uma entrevista em que ele disse desconhecer o local onde vota na cidade, durante entrevista à TV Vanguarda, afiliada da TV Globo.

“O senhor vota onde? Qual é o seu local de votação?”, questionou a repórter que conduzia a conversa.

Em resposta, Tarcísio deu um riso abafado e falou: “Ah, é um colégio.” “Sabe o bairro, por curiosidade?”, seguiu a apresentadora. Constrangido, Tarcísio ficou em silêncio por um momento até a repórter emendar: “Fugiu à cabeça, né?”

“Sim, fugiu à cabeça”, completou o candidato do Republicanos.

O assunto, novamente, virou munição para adversários de Tarcísio, principalmente para o governador Rodrigo Garcia (PSDB), que disputa uma vaga diretamente contra o candidato para chegar ao segundo turno contra Fernando Haddad (PT).

Até o momento, a campanha de Tarcísio de Freitas arrecadou R$ 15,5 milhões. A maior parte vem do Republicanos e do PSD, partido de seu vice, mas a conta inclui também R$ 4,9 milhões em doações privadas —entre as quais uma de R$ 20 mil de Octavio Teixeira Brilhante Ustra, advogado e sobrinho do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado em segunda instância por tortura e sequestro no regime militar (1964-1985).

Os gastos já totalizam R$ 16,3 milhões, sendo a maior fornecedora a empresa Beacon Comunicação, sediada em São Paulo e com R$ 9,4 milhões em gastos.

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