Todos os 35 municípios da região pesquisados no GVE (Grupo de Vigilância Epidemiológica), incluindo Fernandópolis e Santa Fé do Sul, mantém superpopulações de cães e gatos, elevando o risco de doenças transmitidas pelos animais.
Enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda 1 animal para cada dez habitantes, em algumas cidades da região essa proporção chega a um animal para cada 2,35 habitantes. Mais de quatro vezes o recomendado.
Os dados fazem parte de um Inquérito Animal, espécie de censo finalizado pelos municípios há algumas semanas para a Campanha Nacional de Vacinação Anti Rábica, que seria realizada em agosto. A campanha foi adiada para o fim do ano, mas os dados foram tabulados e estão disponíveis na Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
De acordo com esse levantamento, em Jales há 10.139 cães e 2.313 gatos num total de 12.432 PETs. Aqui a população humana é de 48.724, o que resulta numa proporção de um pet para cada 3,91 habitantes.
Em Fernandópolis há 13.593 cães e 2.069 gatos, num total de 15.662 animais para 67.543 habitantes. A proporção é de um pet para cada 4,31 habitantes.
Em Santa Fé do Sul, o levantamento encontrou 7.668 cães e 1.441 gatos, totalizando 9.109 animais de estimação para 30.872 habitantes. Um pet para cada 3,38 habitantes.
Em Urânia, a proporção é de 1 pet para cada 3,69 habitantes. São 1.846 cães e 622 gatos, num total de 2.468 animais para uma população de 9.121 humanos.
Em Estrela d’Oeste há 1.903 cães e 390 gatos. Total de 2.293 pets para uma população de 8.458 habitantes. Proporção de u animal para cada 3,68 humanos.
Pelo menos em outras três cidades do GVE a proporção de cães e gatos é quatro vezes maior que a recomendada pela OMS. Em Palmeira d’Oeste a proporção é de um pet para cada 2,48 pessoas. Lá foram contados 2.398 cães e 467 gatos, totalizando 3.405 animais para uma população de 9.700 habitantes.
Em Populina a proporção é de um animal para 2,97 habitantes. São 1.168 cães e 279 gatos, num total de 1.447 pets para uma população de 4.299 habitantes.
Em Macedônia o inquérito animal contou 1.087 cães e 506 gatos, num total de 1.593 pets para uma população de 3.756 habitantes. A proporção é de um pet para cada 2,35 moradores.
E em Rubinéia a proporção é de um animal para cada grupo de 2,73 humanos. Lá foram contados 903 cães e 199 gatos num total de 1.102 pets para uma população de 3.017 habitantes.
Controle populacional deveria ser programa de Saúde Pública
A superpopulação canina e felina, principalmente de animais errantes, é apontada como causa preponderante para disseminação de zoonoses. Doenças como leishmaniose, leptospirose, toxoplasmose (doença do gato), a doença da arranhadura do gato (DAG), que já registrou casos em Jales, e até raiva, encontram ambiente favorável à proliferação em locais com grande número de animais. O problema se agrava no caso de animais errantes, que vivem em ambientes insalubres e não são vacinados, fatores que favorecem a contaminação.
Em Jales, dois casos de Leishmaniose foram registrados no ano de 2014. De acordo com a profissional de Informação, Educação e Comunicação (IEC) da Secretaria de Saúde de Jales, um caso foi registrado esse ano e o segundo é reincidente, ou seja, foi contraído em 2013, evoluiu para a cura, mas a doença voltou a atacar o paciente em 2014. Ainda segundo a secretaria de Saúde, não é possível saber o número de casos de Leishmaniose e nem da Doença da Arranhadura do Gato em animais devido à interdição do Centro de Zoonoses que não está colhendo sangue dos cães e gatos.
Mas os defensores dos animais, como os integrantes da ONG Amigo Bicho, que atua em Jales abrigando animais abandonados, ressalvam que o controle populacional deveria ser feito através de métodos contraceptivos, principalmente a esterilização através da castração, e não através do sacrifico dos animais supostamente doentes.
Para isso, a colaboração da população e dos gestores da saúde precisa ser ativa e constante. Enquanto os órgãos públicos promovem campanhas de vacinação e recolhimento de animais de rua, a população precisa adotar métodos de controle populacional e evitar o abandono.
Segundo o veterinário do Centro de Zoonoses de Jales, Leonardo Aurélio da Silva, o controle populacional através de castração é de extrema importância, já que a superpopulação dos animais é maléfica para a sociedade e contribui para a disseminação de doenças. “Fezes de cães contribuem para a proliferação do mosquito palha, transmissor da Leishmaniose que precisa de material orgânico como folhas, frutos, fezes de animais, entulhos e lixo e se alimenta do sangue de humanos e animais, transmitindo a doença. Uma das saídas para a prevenção seria a castração, que a longo prazo teria um grande efeito, mas infelizmente, devido à interdição do Centro de Zoonoses, não está sendo feita em Jales”.
Jornal A Tribuna