A Secretaria Estadual da Saúde prepara o primeiro censo de pacientes psiquiátricos de longa permanência internados em hospitais da rede pública. São pessoas cujo período de internação ultrapassou um ano. Algumas estão internadas há 50 anos. Setenta profissionais contratados farão o levantamento.
O inventário a ser realizado pelos recenseadores, com início previsto para março, identificará a população “moradora” de todos esses hospitais e analisará seus atuais estágios de dependência institucional. Também verificará quais as reais possibilidades de reinseri-las na sociedade.
A pesquisa será feita em parceria com a Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), a partir de entrevistas com os pacientes, informações coletadas de prontuários e pareceres da equipe hospitalar. A proposta final, após o resultado dos trabalhos, é construir uma base de dados para a criação de projetos específicos de intervenção direcionados à população internada em hospitais psiquiátricos.
O Estado dispõe de 58 hospitais no Sistema Único de Saúde (SUS) e número estimado de 6,5 mil pacientes psiquiátricos de longa permanência.
“Esse trabalho pretende criar condições de resgatar os direitos dessas pessoas excluídas do convívio familiar e social por longos anos e por uma série de fatores”, avalia Regina Bichaff, coordenadora de saúde mental pelo Estado.
Para a realização do censo, a secretaria credenciará 70 pesquisadores. Poderão se candidatar profissionais graduados nas áreas de medicina, enfermagem, terapia ocupacional, psicologia e serviço social.
Detetives
Graças ao trabalho de médicos, assistentes sociais e enfermeiros, que agem como autênticos detetives, a Secretaria da Saúde identificou familiares de 500 pacientes que há anos vivem em hospitais psiquiátricos ligados à pasta.
Após a localização dos parentes, 13% dos pacientes obtiveram alta hospitalar e voltaram a conviver com seus familiares. Atualmente, os profissionais dos hospitais psiquiátricos buscam identificar familiares de mais 270 pacientes psiquiátricos.
A maior parte dos reconhecimentos ocorreu no Centro de Reabilitação de Casa Branca, que localizou familiares de 260 pacientes.
Para conseguir pistas que levassem aos parentes, os profissionais desenvolveram minucioso trabalho de investigação em fichas de internações antigas, documentos e registros dos hospitais. Mas o trabalho mais importante foi o de ouvir o que os próprios pacientes tinham a dizer.
Como ouvintes, os profissionais tinham acesso às lembranças dos pacientes, que citam nomes, lugares e fatos fundamentais para conhecer mais sobre a vida e a origem dos internos. “Investigar prontuários médicos, ouvir os doentes com atenção, cruzar informações, realizar telefonemas e viagens são fundamentais para garimpar pistas. É algo que exige dedicação e paciência”, afirma a diretora do Centro de Reabilitação de Casa Branca, Sueli Pereira Pinho.
SERVIÇO
Profissionais graduados nas áreas de medicina, enfermagem, terapia ocupacional, psicologia e serviço social interessados em trabalhar no censo podem se inscrever pelo site www.fundap.sp.gov.br