segunda, 18 de novembro de 2024
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SP: Chacinas já matam mais do que em 2014 e acendem alerta

Em pouco mais de oito meses, mais pessoas morreram vítimas de chacinas na Região Metropolitana de São Paulo do que durante todo o ano de 2014. Os dados foram fornecidos…

Em pouco mais de oito meses, mais pessoas morreram vítimas de chacinas na Região Metropolitana de São Paulo do que durante todo o ano de 2014.

Os dados foram fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP/SP) ao Instituto Sou da Paz por meio da Lei de Acesso à Informação. No ano passado, 49 pessoas morreram vítimas de chacinas na capital e na Grande São Paulo.

Já neste ano, o saldo é de, no mínimo, 56, incluindo as vítimas da chacina da última quinta-feira, quando 18 pessoas foram assassinadas em Barueri e Osasco, o pior ataque do tipo na história recente do Estado. No primeiro semestre, último dado disponibilizado pelo órgão a pedido da ONG, o total já chegava a 38.

O número de chacinas ─ bem como o de vítimas fatais deste tipo de crime ─ não figura nos indicadores criminais divulgados mensalmente pela secretaria.

A letalidade em chacinas também é a maior dos três últimos anos em todo o Estado. Até agora, foram, em média, 4,7 mortes em cada ocorrência (13 casos no total, incluindo a da semana passada), contra 3,1 em 2014 (21 ocorrências e 73 mortos), 3 em 2013 (25 ocorrências e 76 mortos) e 3,4 em 2012 (41 ocorrências e 139 mortos).

Em termos absolutos, no entanto, 2012 lidera em número de vítimas de chacina no período, com 139 mortos. Naquele ano, também foi registrada a maior quantidade de ocorrências desse tipo de crime (41, contra 25, em 2013, 21, em 2014 e, até agora, 13 em 2015).

“Alerta”

Em entrevista à BBC Brasil, Ivan Marques, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, afirmou que o aumento no número de mortos em chacinas neste ano acende um “alerta”. Ele cobrou das autoridades “celeridade e transparência” nas investigações.

Segundo o secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Alexandre de Moraes, nenhuma hipótese foi descartada, mas a principal linha de investigação aponta para a participação de policiais, após recentes mortes de um PM e de um guarda civil metropolitano na região dos assassinatos.

“Entendemos a violência como a epidemia de uma doença. Quando conseguimos extirpá-la, temos de ficar sempre atento a novos casos. Do contrário, podemos assistir a uma retomada da onda de violência que espalhou pânico e terror por São Paulo nas décadas de 80 e 90”, diz Marques à BBC Brasil.

Ele lembra que, recentemente, pela primeira vez na história, São Paulo conseguiu reduzir o número de homicídios para menos de 10 a cada 100 mil habitantes (a taxa atual é de 9,38) devido “à criação de grupos especializados de investigação, ao controle de armas e ao aprimoramento de técnicas de investigação e patrulhamento”.

Foi essa combinação de fatores, diz ele, que permitiu interromper a espiral de violência que marcou o Estado nas décadas de 80 e 90, no que ficou conhecido como “milagre de São Paulo”.

Mas Marques afirma que ainda há um longo caminho a percorrer. “Os grupos de extermínio não foram completamente extirpados. Apesar da série de medidas preventivas – como foi o caso de Diadema, o número de homicídios ainda é muito alto”, opina.

“Para evitar uma retomada da onda de violência é preciso que haja um esforço conjunto do governo e também da sociedade para que casos como esse sejam solucionados”, acrescenta.

Ele cita uma pesquisa conduzida pelo sociólogo Arthur Trindade Maranhão Costa, do Núcleo de Estudos sobre Violência (NEV) da Universidade de Brasília (UnB), que revelou que apenas oito em cada 100 homicídios cometidos no Brasil são resolvidos. Nos Estados Unidos, o índice é de 64% e na Alemanha, de 96%.

“A impunidade faz com que o criminoso não meça riscos para cometer novos crimes”, argumenta.

“Indiferença”

Na opinião do especialista, a chacina da última quinta-feira despertou “pouca comoção popular”, porque os mortos eram em sua maioria “pobres e negros”. Ele cobrou maior empenho da sociedade com o que chamou de “epidemia de indiferença”.

“Essa camada da população é a que mais sofre. Duvido muito que a reação seria a mesma se o caso tivesse acontecido em algum bairro nobre de São Paulo”.

Marques lembrou ainda que as diferentes metodologias usadas para classificar chacinas prejudicam a contabilização das ocorrências e a adoção de estratégias para frear esse tipo de crime.

Na capital por exemplo, o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) caracteriza chacina quando o crime resulta em três vítimas. Já na Grande SP, o cálculo muda: pelo menos uma vítima e dois feridos.

“É preciso priorizar a solução das chacinas pois esse tipo de crime eleva ─ e muito ─ as estatísticas de homicídio. O Brasil ainda lidera em termos absolutos o número de homicídios no mundo. São cerca de 57 mil por ano. Precisamos mudar isso”, conclui.

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