A demora no atendimento ao médico Jaime Gold, de 56 anos, após ter sido esfaqueado por dois assaltantes na noite da última terça-feira, 19, na Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio de Janeiro, pode ter sido determinante para sua morte. Um frentista de 28 anos que trabalha em um posto de combustíveis nas proximidades da Curva do Calombo, a poucos metros de onde o médico sofreu a agressão, afirmou que o socorro em ambulância demorou “de 30 a 40 minutos” e que, enquanto isso, a vítima agonizava e perdia muito sangue.
“Ficou nessa demora, e ele ficou muito tempo lá, perdendo muito sangue, gritando de dor. Eu pensava que com certeza viria a ambulância primeiro, mas chegaram dois bombeiros em motos. Eu achei o cúmulo”, disse a testemunha, que pediu para não ser identificada.
Segundo ela, os próprios funcionários do posto de gasolina ligaram para os bombeiros e, com a ajuda de uma enfermeira que abastecia o carro, arrumaram um pano limpo para estancar o sangramento de Gold.
O frentista é considerado peça-chave nas investigações da Polícia Civil, centrada na Delegacia de Homicídios. Ele viu “nitidamente” o momento em que Gold foi esfaqueado e percebeu que ele já vinha sendo perseguido por “dois rapazes franzinos” por alguns metros.
O rapaz trabalha há um ano no mesmo posto de gasolina. No período, contou já ter visto diversos assaltos, muitos deles a mão armada, mas nenhum com a “frieza” do que testemunhou na última terça-feira.
“Eles agiram com muita frieza, nem o abordaram. Já chegaram furando. Eles não o escoraram, não pediram a bicicleta. Aí automaticamente ele caiu”, lembrou. “Como a vítima estava gritando muito, pensei que ele estava avisando que foi roubado, mas não, ele estava era ferido, muito ferido. Ele estava segurando as vísceras já. Eu nunca vi um assalto com tanta frieza. Eles atacaram.”
De acordo com o frentista, os assaltantes costumam agir durante a troca de guarda dos policiais da área, quando um carro da Polícia Militar sai para dar lugar a outro, com agentes que trabalharão no turno seguinte. “Para mim, esse é o local mais deserto que existe na Lagoa. Muitas vezes, não tem policiamento nenhum”.
Segundo ele, os assaltos que costuma testemunhar são praticados de bicicleta ou de moto, para facilitar a fuga dos criminosos. Ele relatou também nunca ter visto os dois jovens que atacaram o médico na terça-feira e afirmou que usavam “uma bicicleta moderna”, jamais vista em nenhum outro roubo na região.
A Curva do Calombo é um dos melhores pontos de observação da árvore de natal da Lagoa Rodrigo de Freitas, instalada anualmente na época das festas e considerada um dos principais pontos turísticos do Rio. O frentista afirmou que essa costuma também ser uma época de assaltos, quando os bandidos aproveitam para roubar celulares e câmeras de turistas. No ano passado, ele lembrou, um homem armado com uma pistola levou vários celulares “do pessoal tirando foto da árvore”.