O conselho deliberativo do Santos aprovou nesta segunda-feira (10) um dos pareceres que recomendam o impeachment do presidente José Carlos Peres.
A reunião, na Vila Belmiro, conta com a apresentação de dois documentos, mas, já na votação do primeiro deles foi atingida a marca de dois terços dos conselheiros presentes, exigência estatutária para a sequência do processo.
O documento teve 165 votos favoráveis, 74 contrários, além de dois votos nulos e um em branco. A reunião segue em andamento.
Agora, a definição do futuro político de Peres -eleito em dezembro para um mandato de três anos, até 2020- terá um desfecho em votação aberta aos associados, que deve ocorrer no próximo dia 29. Se eles decidirem, por maioria simples, pelo impeachment, o atual presidente deixará o cargo.
A reunião foi marcada por faixas colocadas no entorno do estádio dirigidas ao dirigente com os dizeres “fora, Peres”, “conselheiros: os sócios querem decidir o futuro do Santos” e “presidente ou empresário?”.
Peres sofre acusações de supostas irregularidades. Em uma delas, é acusado de ser sócio de empresas de agenciamento de jogadores enquanto presidia o clube. Ele afirma que a empresa jamais atuou no mercado, não emitiu notas e existia apenas no papel. As companhias foram encerradas neste ano.
A outra acusação é de que editou portaria definindo que todas as contratações realizadas pelo Santos deveriam ser determinadas pelo presidente, algo que vai contra o estatuto do clube, que prevê o Comitê Gestor, grupo formado por presidente, vice-presidente e até sete membros, como principal órgão administrativo responsável pelas decisões.
A oposição busca explicações também sobre a negociação para a contratação do zagueiro equatoriano Jackson Porozo, 17. O Santos prometeu repassar 30% do lucro de uma venda futura para a Hi Talent, empresa que não fez qualquer investimento na negociação e que já teve como um dos cotistas Ricardo Crivelli, ex-sócio de Peres e contratado por ele para ser coordenador das categorias de base.
Apelidado de Lica, ele está afastado do cargo, acusado de abuso sexual. Crivelli nega ter cometido o crime e o caso é investigado pela polícia.
A decisão acentuou ainda mais o caos político instaurado desde o início da era Peres. Em recuperação dentro de campo com a chegada do técnico Cuca, com quem não perde há oito jogos, a gestão é marcada por um racha político com o grupo liderado pelo vice-presidente Orlando Rollo menos de três meses após a posse.
Os nove meses já tiveram troca de farpas públicas, escândalo de assédio sexual nas categorias de base, a saída de três homens fortes no futebol -Gustavo Oliveira, William Machado e, mais recentemente, Ricardo Gomes- e uma série de polêmicas nos bastidores.
A última delas foi o erro na inscrição do meio-campista uruguaio Carlos Sánchez, que transformou em derrota por 3 a 0 o empate por 0 a 0 conquistado contra o Independiente, na Argentina, e culminou com a eliminação da equipe nas oitavas de final da Copa Libertadores da América. O episódio ainda ganhou desdobramentos com a demissão de um funcionário.
Essa é a terceira vez que a oposição tenta tirá-lo do cargo, o que lhe dá munição para bater na tecla que o processo é político. Mas até seus aliados reconhecem que Peres traiu a promessa sob a qual foi eleito: a de unir os santistas.
Antes da votação, os dois processos foram lidos na íntegra. O primeiro, com 12 páginas, encabeçado por Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos Neto e o segundo, com 34, liderado por Alexandre Santos e Silva.
Eles já haviam sido disponibilizados e posteriormente foram enviados para conhecimento dos conselheiros no último dia 5.
A imprensa e funcionários do clube não puderam participar de nenhum momento da reunião. Peres foi à Vila Belmiro, mas não concedeu entrevistas.
No Conselho, o presidente teve a sua defesa apresentada pelo advogado Edgard Galvão Machado, que argumentou que o cartola teve a defesa cerceada pela Comissão de Inquérito e Sindicância, responsável pelos pareceres.
OUTRO LADO
Na véspera, Peres gravou um vídeo de pouco mais de dez minutos em que falou sobre os pedidos de impeachment, classificados por ele como “políticos e que não refletem a realidade das acusações”. O mandatário ainda disse não ter tido direito a ampla defesa durante o procedimento.
“Isso tudo vem de pessoas insatisfeitas com o processo de seis meses atrás, o eleitoral, onde não aceitam a derrota. Eu fui eleito democraticamente. É um momento difícil, crítico e de muito prejuízo para o Santos Futebol Clube”, disse em um dos trechos da gravação.
O dirigente explicou ter encontrado dez contas bancárias zeradas do clube quando assumiu, além de salários atrasados e “negócios obscuros e lesivos ao Santos”, um deles um acordo com a Doyen realizado, segundo ele, em período eleitoral, algo proibido estatutariamente, para repasse de parte dos valores de vendas futuras de jogadores para a Europa.
Peres ainda disse que a venda de Rodrygo para o Real Madrid, em junho, por 45 milhões de euros (R$ 213 milhões pela cotação atual), foi a “tábua de salvação para o clube para os próximos dois anos”.
Além disso, o mandatário teve nesta segunda um pedido de defesa para impedir a votação negado pela Justiça de São Paulo. Foi a terceira tentativa dos advogados do dirigente de interromper o processo de impeachment.
Em agosto, o atual presidente teve uma liminar concedida, posteriormente derrubada. Com informações da Folhapress.