Uma publicação feita no domingo (29) no perfil oficial da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo no Instagram causou repercussão por afirmar que, “durante a amamentação, qualquer bebê pode engasgar”. A postagem também deu dicas de como fazer para evitar que a criança engasgue, mas as orientações dadas não são recomendadas por especialistas.
Após críticas, a pasta admitiu que havia informações inadequadas, pediu desculpas e apagou o texto nesta segunda-feira (30) (veja nota completa abaixo).
Na publicação, a secretaria divulgou três dicas para que o engasgo não ocorra na criança durante a amamentação. Uma delas foi sobre “retirar o bebê do seio para que ele recupere a respiração após 15 segundos de iniciar a amamentação”, gerando debate entre internautas.
“Informações falsas. Que desserviço é esse? Vamos denunciar”, escreveu uma internauta. “Que desinformação é essa? Que vergonha”, criticou outra.
O texto ainda aconselhava: “Ao término, aguarde 15 minutos antes de deitar o bebê na cama ou no berço – mesmo que ele já tenha arrotado” e “nunca amamente a criança se estiver deitada. As chances tanto da mãe dormir, quanto do bebê sufocar são maiores”.
“Cadê esse dado que engasgo recorrente? Como foi construído esse dado? As mortes que foram relatadas por engasgo geralmente não são por amamentação; e sim alimentação via mamadeira. Amamentar e oferecer mamadeira não são sinônimos. É muito lamentável que o @saude_sp @governosp estejam fazendo esse serviço para a cultura do desmame. É muito raro um bebê engasgar com leite materno, o que pode rolar é o reflexo de sucção”, escreveu a jornalista Veronica Linder, conhecida por apoiar mulheres que querem amamentar.
“Informações inadequadas”
Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde admitiu que havia informações inadequadas e pediu desculpas.
“Neste fim de semana, no intuito de prestar orientação no caso de engasgamento, uma postagem nas redes sociais da SES trouxe informações inadequadas. O conteúdo já foi retirado do ar e pedimos desculpas pela situação.”
A pasta ainda afirmou que “reforça a importância da amamentação pelo impacto da prática dela na saúde de crianças e das mães”.
“Ações como a semana de aleitamento materno e o selo Hospital Amigo da Criança colaboram com esse estímulo. Para motivar a prática, a pasta conta ainda com a maior rede de Bancos de Leite Humano (BLH) do país, com 58 unidades e 45 postos de coleta em todo o Estado. As unidades têm profissionais qualificados no tema e que oferecem atendimento a todas as mulheres com dificuldade ou dúvidas sobre a amamentação”.
O que dizem os especialistas?
Ao g1, a pediatra Flávia Nassif, do Hospital Sírio-Libanês, ressaltou que não tem regra para a amamentação e que não é necessário retirar o bebê do seio 15 segundos após começar a amamentá-lo, conforme a Secretaria Estadual da Saúde havia divulgado.
“Não tem regra, não tem receita. Não é uma equação matemática. Cada mãe vai se adequando com o filho durante a amamentação”, enfatizou.
Segundo a médica, realmente é recomendado que se aguarda entre 10 e 15 minutos antes de deitar o bebê na cama ou no berço, como estava na publicação. Porém, a mãe tem que ter em mente que deve esperar até a criança arrotar, independentemente do tempo.
“Dessa forma, se garante que o bebê não engoliu bolha de ar e diminui as chances de refluxo.”
Sobre a dica de “nunca amamentar a criança se estiver deitada”, a especialista diz que realmente há essa recomendação, mas é preciso que a mãe busque uma posição confortável para ela e o bebê.
“O ideal é a mãe estar sentada na hora da amamentação, numa posição que seja confortável para ela, com apoio para os braços. Deitada não é recomendado porque, ao fazer isso, ela está praticando a chamada cama compartilhada, na qual ela e o bebê estão deitados e, devido à exaustão, a mãe pode acabar caindo no sono e sufocando o bebê ao se mexer na cama, podendo levar à morte da criança”, destacou.
A médica ressalta que todo bebê tem refluxo porque ele ainda não tem o trato digestivo desenvolvido como os adultos. Então, esta é a principal causa dos engasgamentos, não sendo a amamentação a principal responsável.
“Engolir ar pode aumentar as chances de o leite voltar. Se a criança engasgou e está tossindo, está tudo certo. Existe o risco de a criança engasgar e não tossir? Existe, mas aí a gente está falando de situações pontuais e raras”, explica.
O importante é a mãe se acalmar para analisar a situação e conseguir acolher o bebê, enfatiza Flávia. “Ele pode ser segurado na vertical ou, se estiver deitado, ser colocado de lado para, caso o leite volte, ele não aspire.”
“Se o bebê engasga muito, é preciso verificar alguns fatores, como se a mama está cheia de leite, se o bebê tem dificuldade de deglutição, se tem o freno da língua curto, entre outros”, complementa.