Jorge Sampaoli apresenta um estilo que não é muito comum entre os técnicos brasileiros: grandes tatuagens que prestam homenagem ao rock argentino de raiz.
Apresentado oficialmente nesta terça-feira, em São Paulo, o novo técnico do Santos gosta tanto do antigo grupo de rock argentino Callejeros que mandou escrever no braço um dos versos mais famosos da banda extinta em 2010. “Não escuto e sigo porque muito do que é proibido me faz feliz”.
As tatuagens não são novas, mas dizem muito sobre o treinador que fala de um jeito uniforme, quase como uma linha reta, sem demonstrar emoções. No antebraço direito estão as frases: “Educar é combater. O silêncio não é meu idioma”.
Sampaoli chegou com quase uma hora de atraso ao Museu do Futebol o que obrigou a diretoria do Santos a mudar o cronograma do evento. O atraso não diminuiu o tempo de entrevista. Falou por cerca de 45 minutos e, basicamente, mostrou que existe um alinhamento entre o que ele pensa sobre o futebol e o DNA ofensivo de que os santistas tanto se orgulham. Também citou Pelé e Neymar. Por isso, ele veio ao Brasil.
Nos livros que escreve, o técnico se revela mais. São volumes que percorrem em detalhes a trajetória do argentino nascido na pequena Casilda até o comando da seleção do Chile, o trabalho que o colocou na vitrine do mundo.
O título “Las histórias de La U más exitosa de todos los tiempos” conta os bastidores do time, a Universidad de Chile, que levantou a inédita taça da Sul-Americana com atuações exuberantes. Apesar do sucesso, o treinador confessa que deixou muita coisa pelo caminho, como um matrimônio desfeito, em nome da paixão pelo futebol.
Aos 58 anos, esse careca baixinho deixou claro que muita coisa ainda dói. Não o casamento perdido, mas as derrotas. “As alegrias são passageiras. As tristezas são mais permanentes. Minha maior tristeza foi não ter conseguido um título para a seleção do meu país”, afirmou Jorge Luis Sampaoli Moya para uma plateia atenta de cerca de 50 jornalistas.
A Argentina sentiu a mesma dor. Na Copa do Mundo na Rússia, o time caiu nas oitavas de final para a França. A campanha medíocre esticou o jejum da seleção que mais se parece uma corda que estica sem parar. A última conquista foi a Copa América de 1993. Sampaoli se sentiu culpado e perdeu um pouco de sua aura de genial, criativo e revolucionário.
Todos esses adjetivos vieram do seu mentor: Marcelo Bielsa, hoje no Leeds United. No mesmo livro, ele fala com todas as letras sobre a admiração: “Eu me lembro que saía para correr e levava no walkman gravações das coletivas de Bielsa. Estava o dia todo com a cabeça no Bielsa”, confessou o argentino.
A contratação de Sampaoli resgatou um pouco do orgulho santista, que andava perto do meio-fio por causa das incertezas do ano que se aproxima. O time não tinha técnico (Cuca saiu para cuidar de problemas cardíacos) e o craque do time voltou para a Itália. O presidente José Carlos Peres anunciou o acerto antes mesmo de assinar o contrato. Pressa. Justificou a contratação dizendo que a vida precisa de ousadia. Ontem, ele estava todo sorridente e fez questão de dizer que negociou com o treinador em espanhol na semana passada.
De volta à estante, no livro mais recente, o treinador retoma o binômio rock e futebol. O vibrante “Mis latidos – Ideas sobre a cultura do jogo” resume a filosofia de trabalho e de vida do treinador que quase calou o Mineirão na Copa de 2014. O livro é dinâmico, nervoso, com frases curtas e aceleradas, como suas idas e voltas constantes na beirada do campo. Ou como uma letra de rock. O Santos vai continuar jogando para frente, mas em uma batida diferente.