A decisão da Igreja Católica de transferir um padre de Adamantina (a 600 km de São Paulo) que afirma ter sido vítima de episódios racistas acabou dividindo a cidade do interior paulista.
O padre Wilson Luís Ramos —primeiro negro à frente da igreja matriz do município— afirma que, desde que assumiu a função, há quase dois anos, precisa lidar com o preconceito de uma parte dos fiéis.
“Um dia ouvi uma mulher dizer que deveriam tirar o galo de bronze [que fica em cima da igreja] e colocar um urubu”, afirma.
Queixas de fieis que defendem a saída do padre —que incluem “atraso para terminar a missa”— foram levadas ao bispo da Diocese de Marília, dom Luiz Antonio Cipolini. Após consultas populares, ele decidiu transferir o padre em razão da “divisão” da comunidade sobre o caso.
“Não há uma data certa, mas a minha saída está confirmada. Não é o que eu desejo, gostaria de mais diálogo e uma conciliação”, defende o padre Wilson.
Desde a última terça-feira (2), moradores do município, que tem 35 mil habitantes, coletam assinaturas para tentar revogar a decisão do bispo. A iniciativa já tinha apoio de 6.000 pessoas até esta quinta (4).
Voluntários também estão arrecadando assinaturas em Marília, cidade na qual fica a diocese da região, e em Pompeia, onde o padre Wilson atuava antes de chegar à Adamantina.
A Folha tentou entrar em contato com dom Luiz Antonio Cipolini, mas nenhuma ligação foi atendida.
No site da diocese, foi divulgado o comunicado que sustenta a decisão sobre a transferência do padre Wilson. Como justificativa, o bispo recorre a uma passagem da Bíblia: “Se uma casa se dividir contra si mesma (…) não conseguirá manter-se firme”.
Os defensores do padre Wilson afirmam que o próprio bispo está dividindo a igreja e sendo omisso aos atos racistas.
SECA DO DÍZIMO
Idealizador do abaixo-assinado, Danilo Aparecido Alvez também criou a comunidade “Amigos do padre Wilson” e lançou a campanha “Dizimista Consciente”.
A ideia é que todos os fieis, que costumam colocar suas economias na cesta da igreja, guardem o dinheiro e só voltem a ajudar a instituição quando for confirmada a permanência do padre Wilson em Adamantina.
“Não sabemos o motivo pelo qual o padre será transferido, mas sabemos que ele não fez nada de errado. Queremos o padre em Adamantina”, afirma Danilo.
Se por um lado o caso dividiu a comunidade católica no município, por outro uniu fieis de religiões diferentes. Evangélicos da região também assinaram o abaixo-assinado.
Para Lucio Mantovani, um dos líderes do movimento pela permanência do padre Wilson, o mais importante é que a cidade mostre respeito e que acabe com o preconceito.
“Lutamos para que o padre Wilson possa ter o direito de exercer a função como os outros padres exerceram”, afirma.