sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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Regressão continuada

Já não é de hoje que o ensino público tupiniquim freqüenta a “UTI”. As mais variadas avaliações, pesquisas, gráficos e relatórios apontam para uma realidade cruel e desanimadora: a falência…

Já não é de hoje que o ensino público tupiniquim freqüenta a “UTI”. As mais variadas avaliações, pesquisas, gráficos e relatórios apontam para uma realidade cruel e desanimadora: a falência múltipla da rede pública de ensino.

Medidas urgentes devem, e já estão sendo tomadas para que se possa evitar um colapso. Acontece que os interesses por essa pauta são muitos e variados, gerando, assim, um enorme prontuário e inúmeras prescrições, em sua maioria, ”placebo”.

De um lado, temos os educadores (os bons educadores) que realmente preocupam-se com a situação crítica que aí está. Tentam de maneira lógica e fundamentada encontrar mecanismos que possam, ao menos, responder aos questionamentos acerca do mau desempenho obtido por alunos da rede pública em provões cada vez mais comuns. Por outro lado, temos aqueles que detêm o poder de criar leis e tomar decisões concretas que tenham um único objetivo: educar um povo.

O governo faz malabarismos e lança inúmeros projetos voltados à educação, mas, estes não passam de medidas paliativas para “inglês ver”, não só inglês, mas também americanos e outros tantos que comandam o fluxo que jorra das tetas da grande vaca chamada FMI. Mas o que o ensino público brasileiro tem a ver com o Fundo Monetário Internacional? Tem “muito mais do que sonha nossa vã filosofia”.

Que o Brasil é um país muito extenso, nós já sabemos. Que o seu solo é verdadeiramente fértil e que tudo que se planta, dá, nós também sabemos. Sabemos, também, que somos auto-suficientes na extração de petróleo e recordistas mundiais na produção de grãos. Mesmo com todo esse potencial (e o citado é apenas uma parte de nosso poder) o governo brasileiro ainda recorre ao FMI e submete-se a juros incalculáveis e “impossíveis” de serem quitados. Para que esse adicional monetário seja liberado é necessário (entre outras exigências) que seja definitivamente sanada a questão da evasão escolar, ou seja, 100% das crianças em idade de cursar o ensino fundamental devem estar matriculadas em uma instituição de ensino. Até aí, tudo bem! O problema, na realidade, são os mecanismos dos quais o governo lança mão para cumprir essa exigência.

Nos últimos anos, um desses mecanismos tem chamado muito a atenção e causado polêmica. Trata-se de um recurso que recebeu um nome vistoso que lhe confere certo ar de importância: “Progressão Continuada”. Na verdade, nada mais é do que a extinção da repetência, vista pelo governo como a grande vilã no processo de evasão escolar. Ora, estamos cobrindo um santo e deixando desnudo o outro. A educação está sendo tratada como objeto de barganha. “Empurrada com a barriga”. Não há um programa que supra a defasagem que o aluno carregará ao longo de sua vida escolar. Mais cedo ou mais tarde, essa criança (já adulta) será engolida por um mecanismo de mercado cada vez mais exigente e não terá a mínima chance de competir em condições de igualdade com quem quer que seja. Então, mais uma vez, para “resolver” o problema, cria-se a Lei das cotas e por aí vai…

Definitivamente estamos à deriva nas mãos de pseudos legisladores, cultivadores de mentes manipuláveis em prol da perpetuação na vida pública. Sabemos que um país só pode considerar-se grande quando sua educação prevalece. Infelizmente, não podemos vislumbrar grandeza alguma enquanto educação é tratada como moeda de troca. As várias bolsas (família, gás, leite, entre outras) oferecidas pelo poder público são esmolas que só servem mesmo para manter a falsa ilusão de barriga cheia, enquanto a cabeça continua cada vez mais vazia.

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