sexta, 15 de novembro de 2024
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Região no Canadá corta notas de dinheiro pela metade

Pode haver alguma razão lógica para cortar notas de dinheiro pela metade? E alguém se dispõe a receber essas notas rasgadas como pagamento? O senso comum responderia “não” às duas…

Pode haver alguma razão lógica para cortar notas de dinheiro pela metade? E alguém se dispõe a receber essas notas rasgadas como pagamento?

O senso comum responderia “não” às duas perguntas, mas a experiência recente de uma região do Canadá mostra o contrário.

Na região de Gaspé, na província francófona de Quebec, desde o início do ano começaram a circular notas de 5, 10 e 20 dólares canadenses cortadas ao meio, segundo a rede estatal canadense de notícias CBC.

As notas ganharam o apelido carinhoso de “demi”, metade em francês. Ninguém sabe quem iniciou a prática ou quantas pessoas estão usando as notas cortadas.

E os comerciantes locais aceitam as notas com gosto, pela metade do valor nominal.

As notas estão sendo cortadas por um motivo inusitado: pela metade, não seriam aceitas em nenhuma outra parte do Canadá. O que faz com que o dinheiro só circule na região, alimentando a economia local.

“É uma moeda que só vai circular entre esses usuários”, disse à CBC Patrick DuBois, uma das pessoas que usam o demi.

Prática legal
Por mais estranha que a prática pareça, ela não está violando nenhuma lei canadense, de acordo com uma porta-voz do banco central canadense, Josianne Ménard.

Mas ela esclarece que a prática não é aconselhável e que não seria apropriado mutilar as notas que definiu como “símbolo e fonte de orgulho nacional”.

A decisão da população da região de Gaspé vai contra uma das funções básicas da maioria dos governos nacionais em todo o mundo: o monopólio da expedição e regulação de moeda.

Emitir notas é uma manifestação de poder e os governos não costumam ceder esse poder.

Uma das grandes controvérsias da economia global contemporânea, por exemplo, está na decisão dos governos nacionais da zona do euro de entregar esse privilégio a uma entidade supranacional, a União Europeia.

Também é pouco comum que governos nacionais deixem que autoridades regionais ou locais emitam seu próprio papel moeda.

Na crise argentina de 2001-2002, diante da falta de liquidez do governo central, algumas províncias emitiram bônus que circulavam como moedas paralelas, com nomes como “patacón” em Buenos Aires e “quebracho” no Chaco. Chegaram a pagar parte de salários de empregados do governo com esses mecanismos.

No caso canadense, não se trata de uma nova moeda, mas da alteração física da moeda oficial para que o dinheiro não “escape” para os grandes centros nacionais.

Antecedentes
E não são os governos locais, mas sim a população, que está por trás da prática.

Há alguns antecedentes em outras parte da América do Norte para o funcionamento informal dessas “moedas” de origem comunitária.

Na região rural de Berkshires, no Estado de Massachussetts, noroeste dos Estados Unidos, circulou uma conhecida como “Berkshares”.

E em Ithaca, localidade com grande população universitária no norte do Estado de Nova York, algumas pessoas realizam comércio usando troca de “Ithaca hours”, outro exemplo de “moeda” local.

A existência desses instrumentos depende da confiança e disposição dos comerciantes em aceitá-los.

Os comerciantes de Gaspé brincam quando perguntados sobre possíveis revertérios do corte de notas.

“No pior dos casos, se estivermos com problemas, só precisamos fazer um chamado para coletar todas as notas com o mesmo número de série. Sempre podemos juntá-las”, disse à CBC Marton Zibeau, um usuário do “demi” de Saint-Siméon.

Mas o Banco Central do Canadá diz que pode se recusar a reembolsar qualquer pessoa que queira uma cédula de substituição se “as notas tiverem sido alteradas ou danificadas de forma deliberada ou sistemática”.

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