Aquele pedaço tentador de pizza paulistana, com queijo derretido e bordas assadas, custa mais do que a conta no fim da noite e as calorias que pesam na balança. Enquanto é carregado no garfo ou na mão até a boca, ele traz também um custo ambiental à cidade de São Paulo. Esse custo, representado pelos poluentes liberados para a atmosfera pela queima da lenha, foi colocado em evidência em um artigo publicado, em junho, na revista científica Atmospheric Environment, por uma equipe que reúne especialistas de sete universidades de diferentes países.
Em São Paulo, segundo dados fornecidos pelos autores do estudo, em média, são assadas cerca de um milhão de pizzas diariamente, em 8 mil pizzarias. E não adianta trocar a massa por um bom churrasco, porque o carvão usado para a assar a carne também é um problema para o ar da metrópole. Os cientistas também estão de olho na picanha.
“Há mais de 7,5 hectares de floresta de eucalipto para serem queimados a cada mês por pizzarias e churrascarias”, afirma o doutor Prashant Kumar, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Surrey, Reino Unido, líder da equipe. Para ele, os efeitos da queima de lenha e carvão devem ser uma preocupação real quando se pensa em qualidade do ar. “Um total de mais de 307.000 toneladas de madeira é queimada anualmente em pizzarias”, completa Prashant Kumar.
É certo que pizzarias não têm o mesmo peso dos veículos movimentados por motores a combustão, de longe os principais poluidores da cidade. Mas os pesquisadores alertam que é preciso também dar atenção a outras fontes de contaminação do ar, principalmente na região metropolitana de São Paulo, que abriga cerca de 10% da população brasileira e é o único aglomerado urbano de tal dimensão em todo o planeta a ter uma frota impulsionada por biocombustível. Para os autores, a queima de lenha ou carvão podem reduzir e muito os benefícios ambientais da mistura de até 27% de álcool à gasolina e ao uso de biodiesel.
Além disso, o impacto dos veículos a diesel, o principal poluidor do ar na cidade, já é bem compreendido, ao contrário da queima de lenha e carvão. A professora Maria de Fátima Andrade, da Universidade de São Paulo, alerta ainda para outra fonte de poluição: as queimadas. “As importantes contribuições de partículas obtidas com a queima de madeira e da queima sazonal de canaviais precisam ser contabilizadas em estudos futuros, pois são contribuintes significativos como poluentes”, afirma.
Os pesquisadores chamam a atenção também para os efeitos das queimadas na Amazônia, que mandam toneladas de poluentes para a atmosfera e são transportados para o sul.