A incerteza relacionada ao que se refere ao “novo normal”, onde as atividades econômicas dependem exclusivamente do avanço da covid-19, causada pelo novo coronavírus, para operar totalmente, pode provocar uma rotina de “quarentena ioiô” no Brasil nos próximos meses.
Em entrevista ao jornal Extra, a pneumologista Margareth Dalcomo, da Fiocruz, alerta para este fenômeno, que já vem acontecendo em cidades do interior de SP e do Nordeste, além de capitais, como Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS).
“Após três meses de pandemia, não há como manter tudo fechado. Os comitês científicos de cada cidade ou estado devem analisar os indicadores disponíveis, como a taxa de transmissão da doença, que deve ser abaixo de 1”, alerta a especialista.
No interior paulista, muitos prefeitos defendem a reabertura integral do comércio, seguindo restrições determinadas pelos órgãos de saúde para evitar a proliferação da doença. Porém, os números de contaminações mostram que as restrições não são suficientes.
Alguns conseguem, parcialmente, a reabertura de alguns estabelecimentos na Justiça, mas depois são obrigados a fechá-los por novos recursos judiciais elaborados por promotores.
Em Araçatuba, desde o dia 1º de junho, a cidade, que até o início do mês tinha menos de 180 casos de covid-19, registrou 525, de acordo com a prefeitura da cidade. Em Rio Preto, o crescimento de internações após a flexibilização do comércio foi de 47%. A cidade ultrapassou 2 mil casos da doença nesta quinta-feira.
“Muitos não seguem o receituário indicado para a reabertura. Na primeira evidência de que há uma melhora, mandam abrir tudo. Mesmo quando há bons indicadores, é preciso esperar um pouco e ter a certeza de que há tendência de estabilidade. É mais seguro abrir de forma lenta”, afirma o professor de Epidemiologia da Uerj e da UFRJ Guilherme Werneck, ao Extra.
Para Sérgio Zanetta, médico sanitarista e professor de Saúde Pública do Centro Universitário São Camilo-SP, o retorno das atividades comerciais só poderiam ser permitidas caso já houvesse uma redução de casos sustentada há 14 dias, a taxa de isolamento fosse de 55% nesse período e a ocupação dos leitos de UTI disponíveis fosse menor que 60%.
“E não é o que está acontecendo. O próprio Governo estava trabalhando com esse diagnóstico e agora não o está seguindo. Houve uma pressão econômica tão grande que os critérios técnicos foram substituídos pelos econômicos. A ciência foi subordinada e quem ganha é a ganância”, criticou, em entrevista ao jornal El País Brasil.