“Lula deixaria Marx e Hegel envergonhados”. Bastou uma confusão como esta e a internet não perdoou o trio de promotores Cassio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo, responsável pelo pedido de prisão preventiva do ex-presidente Lula.
A repercussão do erro infeliz foi mal vista pelos promotores. Questionado sobre o assunto pela BBC Brasil, José Carlos Blat perdeu a paciência: “Vão caçar o que fazer. Vão catar coquinho”.
“É claro que nós sabemos a diferença entre Engels e Hegel. Numa peça de 200 laudas, falando de crimes essenciais, vão preferir ficar discutindo a filosofia? Vão caçar o que fazer. Vão catar coquinho, Isso é uma tolice, é um erro material que já foi verificado e será retificado. Tudo continua como está, não há qualquer gravidade nisso.”
Os comentários sobre o posicionamento do MP-SP foram além das correntes filosóficas utilizadas. Juristas, e até a oposição, consideraram os argumentos frágeis.
Um dos pontos levantados por José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo é a afirmativa de que Lula “se vale de sua força político partidária para movimentar grupos de pessoas que promovem tumultos e confusões generalizadas, com agressões a outras pessoas, com evidente cunho de tentar blindá-lo do alvo de investigações e de eventuais processos criminais, trazendo verdadeiro caos para o tão sofrido povo brasileiro.”
O advogado e ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Gilson Dipp afirmou ao UOL que somente a capacidade de mobilização política do ex-presidente não pode justificar um pedido de prisão preventiva. Segundo Dipp, é preciso que sejam apresentadas provas de que o ex-presidente tenha de fato tentado interferir no processo.
“Tem que haver no pedido de prisão preventiva elementos concretos que digam que houve ameaça de testemunhas, que se está destruindo provas”.
Davi Tangerino, professor da FGV-SP e pós-doutor em Direito Penal, concorda:
“Não tem nenhum fundamento concreto para o pedido de prisão. Dizer que ele está fazendo um discurso político é uma trivialidade, já que ele é político. Essa não é uma hipótese legal. O MP não narra a tentativa de ninguém de ilicitamente obstar a investigação.”