Uma professora de uma escola municipal de São Paulo foi acusada de racismo após pedir para “dar um jeito” no cabelo de uma das alunas. Segundo a docente, as outras crianças da sala não se “adaptaram” à aparência da menina.
O caso aconteceu no dia 30 de agosto, quando a cuidadora Janaína de Oliveira Martins foi buscar a filha Gabriela na Escola Municipal de Educação Infantil Estrada Turística do Jaraguá.
“Eu fui buscar minha filha quando ela [a professora] me chamou de canto. Falou bem baixinho, para ninguém mais ouvir, que eu tinha que dar um jeito no cabelo da minha filha porque as outras crianças estavam achando estranho e ficavam xingando ela de feia por ter o cabelo assim”, contou Janaína ao site UOL, em entrevista publicada neste domingo (9).
“Ela perguntou se tinha como eu fazer um coque ou uma trança no cabelo dela e eu falei que não, primeiro porque o couro cabeludo dela é sensível e isso poderia machucá-la, e segundo porque ela gosta do cabelo solto e eu não ia fazer isso para agradar outras crianças.”
A mãe, então, decidiu reclamar diretamente com a diretora da escola, que pediu alguns dias para resolver a situação internamente e marcou uma reunião com os pais e professoras na segunda-feira (3). No encontro, a professora, que teve a identidade preservada, demonstrou arrependimento e disse que “não teve intenção de magoar Gabriela”, segundo Janaína.
Para a mãe, a professora deveria ter “ensinado as outras crianças que isso é errado”, ao invés de sugerir uma mudança no cabelo da menina. “Eu falei que ia procurar a direção e ela disse que estava falando aquilo para o bem da Gabriela, disse que ela mesma tinha o cabelo ruim e precisava alisar. Mas eu não tenho como alisar o cabelo de uma criança de quatro anos”, completou.
O irmão de Janaína, Leonardo Martins, divulgou a história nas redes sociais e a advogada Maria Letícia Puglisi Munhoz, integrante da Diverse – organização especializada em crimes de discriminação que dá assistência jurídica a pessoas de baixa renda –, se candidatou para acompanhar o caso. Contudo, a mãe preferiu não registrar um boletim de ocorrência.
A advogada explicou que “é importante esclarecer que uma fala dessas é crime de racismo. Muita gente acha que é mal entendido, mas é crime, então não pode ser resolvido só com processo administrativo e advertência”. “Mostrei os caminhos para a Janaína. Ela podia fazer boletim de ocorrência na delegacia ou entrar com uma ação civil pública, um pedido de indenização particular. É muito difícil um caso desses terminar em prisão”, explicou Letícia.
A professora é concursada. É bom acompanhar a questão do afastamento porque muita gente não vê isso como uma atividade criminosa, e sim como algo que pode ser corrigido pedagogicamente. As pessoas têm que prestar atenção para entender a gravidade do racismo. A professora pediu desculpas, mas se a gente não começa a penalizar quem comete esses crimes, as coisas não mudam. Infelizmente alguns servem de exemplo. Esse tipo de caso é muito comum no Brasil.”
A direção da escola afirmou ao UOL que a docente será afastada. A professora se disse “muito abalada” com o caso e preferiu não se pronunciar. A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Educação – órgão responsável pela Emei – lamentou o ocorrido e informou que abriu “procedimento disciplinar contra a professora envolvida”. A instituição garantiu que “está realizando ações pedagógicas com os alunos da sala em que a criança estuda, onde estão sendo abordados temas como o respeito à diversidade”.