Professores que lecionam para os anos iniciais do ensino fundamental no Brasil ganham menos da metade do salário médio pago aos docentes dos 35 países-membros da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Enquanto a remuneração dos profissionais brasileiros é de R$ 40,7 mil por ano, nas nações da OCDE um professor do mesmo nível recebe, em média, R$ 105,5 mil.
A discrepância é apontada na versão mais recente do relatório Education At a Glance, que traz um estudo comparativo sobre índices educacionais entre 41 países – 35 da OCDE e 6 parceiros. O detalhamento dos dados foi apresentado nesta quinta-feira, 15, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, do Ministério da Educação (Inep/MEC).
O documento mostra que em países como Alemanha, Suíça e Luxemburgo professores da primeira etapa do ensino básico têm salários iniciais superiores a R$ 148 mil por ano. Ainda assim, o chefe da divisão de Inovação e Progresso da OCDE, Dirk Van Damme, afirma que a remuneração dos docentes é menor do que a de outros profissionais com nível similar de formação – padrão que se repete em praticamente todo o mundo. “Esse panorama contribui para a falta de atratividade à profissão”, disse.
No universo de docentes do ensino superior, a situação melhora em todos os países. O salário médio anual dos professores universitários variou de R$ 89 mil, na Eslováquia, a R$ 439 mil, em Luxemburgo. O Brasil fica no “meio-termo”, com R$ 135 mil por ano.
Investimento público. Entre 2005 e 2013, a proporção de gastos públicos para a educação diminuiu em mais de dois terços dos países analisados pela OCDE – mas, no Brasil, em um dos poucos dados animadores para o País, aconteceu o contrário. A média da OCDE é de 11%, mas o governo brasileiro superou esse índice ao dedicar pelo menos 16% do gasto público total ao setor, ficando atrás apenas de México e Nova Zelândia.
A proporção do PIB brasileiro aplicado na educação foi de 5,2% em 2013, posicionando o País no mesmo patamar dos outros 40 analisados pela OCDE. O investimento por aluno no ensino básico, porém, continua insatisfatório. No nível médio (com índices de desempenho estagnados há quatro anos, é considerado um dos pontos mais problemáticos da educação brasileira), o Brasil é o terceiro que menos gasta – “ganha” apenas da Colômbia e da Indonésia. Cada aluno custa ao País R$ 12,7 mil por ano.
No ensino superior, o Brasil se recupera e gasta 3,5 vezes mais: R$ 44,7 mil anuais por aluno. Neste quesito, supera 19 países analisados pela OCDE.
Nem-nem
O Brasil está no topo do ranking em relação ao número de jovens entre 20 e 24 anos que não estão estudando: 75%. Embora seja um dado preocupante, a pesquisa mostra que mais da metade desses jovens está trabalhando e 57% já concluíram o ensino médio (50%) ou superior (7%).
Quando se analisa uma faixa de idade maior (entre 15 e 29 anos), o relatório conclui que 20% dos brasileiros fazem parte da chamada “geração nem-nem”, expressão que designa aqueles que não trabalham nem estudam. O índice é maior que a média registrada pela OCDE em 2014, que ficou em 15%.
Outro dado brasileiro que chama a atenção é que o País também é “campeão” em disparidade salarial relacionada ao gênero, apesar de ter tido uma pequena evolução em relação ao relatório de 2015.
Ano passado, o documento mostrou que o salário médio de uma mulher brasileira com educação superior representa apenas 62% do de um homem com a mesma escolaridade. Neste ano, representa 65%. Ou seja, a cada R$ 100 que um homem ganha, a mulher recebe R$ 65.