O campo deverá apresentar uma nova crise no ano que vem, pior do que vivida em 2006, mesmo com os quatro pacotes de socorro anunciados pelo governo, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Será o terceiro ano consecutivo de renda negativa.
“Não concordo com algumas opiniões de que a crise acabou”, disse o superintendente-técnico da instituição, Ricardo Cotta. Sondagem da CNA, indica uma queda de 10% na safra 2006/07, após um crescimento de 5,3% no período 2005/06, para 119,949 milhões de toneladas. Cotta diz que a crise será pior nos estados com problemas de infra-estrutura e longe dos grandes centros e mais atenuada para os demais.
A soja e o milho devem puxar a redução do plantio. A produção da primeira cultura deve cair 10% e da segunda, 4%. Já a produção do algodão tende a crescer 15%, beneficiada pelos melhores preços externos devido o aumento da demanda chinesa. “O problema da soja é o retrato mais fiel (da crise) que temos hoje no agronegócio, com menor rentabilidade e maior custo de produção”, diz Cotta.
Segundo Cotta, o governo “está ignorando” as solicitações do setor, de atacar as “medidas estruturantes”, encaminhas há mais de um ano, a fim de reduzir os custos de produção. Estas medidas envolvem infra-estrutura, biotecnologia, câmbio, custos dos defensivos e altos preços dos combustíveis.
Segundo Cotta, o que o governo fez foi prorrogar as dívidas de custeio, comercialização e de investimento, que venceram em 2005 e neste ano, para 2007. “O produtor rural terá de ter capacidade de lucratividade muito grande para pagar as dívidas no ano quem; e não vai dar conta de pagar de novo (as parcelas) que deverão ser empurradas para frente até haver um novo ciclo positivo para quitar o principal da dívida”, disse Cotta. “Só empurramos (os problemas) com a barriga para o ano que vem”, declara.
Segundo a assessora técnica da CNA, Rosimeire Cristin dos Santos, o produtor estará muito endividado, pois terá que tomar crédito para o plantio, na ordem de R$ 70 bilhões, além disso têm dívidas de R$ 7 bilhões com o setor privado e outros R$ 20 bilhões prorrogados, segundo o governo.
O campo deve registrar queda na renda pelo segundo ano consecutivo. Segundo a CNA e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) o Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar em R$ 527,52 bilhões neste ano, uma redução de 1,88% em relação ao 2005. No ano passado, o PIB caiu 4,66%, para R$ 537,63 bilhões. A agropecuária é a principal responsável pela redução. A receita bruta da agropecuária deve fechar o ano com queda de 4,3% em relação a 2005, de R$ 173,7 bilhões para R$ 166,3 bilhões. Essa variação é motivada pela redução dos preços no mercado interno, devido o aumento da oferta de algumas commodities, e ao câmbio.