Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo são grandes atualmente não só na tradição, como também no volume de dívidas. Um estudo da empresa Ernst & Young obtido pelo Estado mostra o quanto os quatro principais clubes do futebol paulista estão com débitos gigantes. Juntos, os quatro têm pendências no valor de R$ 2,2 bilhões, um montante que é 182% maior do que o registrado em 2010.
A análise financeira leva em conta os balanços oficiais divulgados pelas equipes anualmente. O mais recente deles foi publicado dias atrás, com as informações sobre 2019. O nível de dívidas dos clubes chegou a um patamar considerado pelos autores do estudo como preocupante. Até porque este ano, com o grande impacto do novo coronavírus nas receitas dos times, é improvável que os números das finanças melhorem. “Todos os números são de uma época antes da covid-19. A pandemia só aprofundou essa situação complicada”, disse o diretor executivo da Ernst & Young, Pedro Daniel.
Dos quatro times do futebol paulista, quem tem a situação mais delicada é o Corinthians. Na última década, o clube aumentou o endividamento em 425%. O São Paulo também não fica tão atrás: os débitos aumentaram 309% no mesmo período. Palmeiras e Santos tiveram problemas um pouco menores. O endividamento aumentou, respectivamente, 101% e 66%.
A elevação crescente de gastos dos clubes e o descompasso com os faturamentos explicam resultados tão ruins. “A gente faz voos de galinha. As equipes algumas vezes têm boas gestões por alguns anos e depois voltam ao seu patamar. O clube fica dependente da sorte de ter algumas temporadas positivas, com títulos e premiações, mas sem projeto sólidos”, explicou Daniel.
A falta de diversificação de receitas foi um dos grandes problemas do futebol paulista nesta última década. O estudo mostra que os quatro times são muito dependentes de contratos de direitos de transmissão e da venda de jogadores. Quando esses segmentos vão mal, as contas não fecham. Quem se apresenta como exceção nesse cenário é o Palmeiras, por contar com mais faturamentos vindos do estádio e do faturamento em dias de jogos.
Uma das equipes mais dependentes da negociação de jogadores é o São Paulo. Se o clube do Morumbi não consegue vender as revelações do CT de Cotia, fecha no vermelho. A transferência de atletas foi a principal fonte de receita em três dos últimos cinco anos. Em 2019, lucrou 30% a menos com vendas do que no ano anterior. Como resultado isso, a equipe registrou déficit de R$ 156 milhões.
CHANCE DE MUDANÇA – A revelação de dados tão negativos, assim como a preocupação com os impactos da pandemia, pelo menos tem como um alento duas oportunidades. A discussões sobre a aplicação do fair-play financeiro e a possibilidade de transformar os clubes em empresas podem fazer as gestões das equipes serem mais responsáveis.
“A gente tem um bom motivo para acelerar as mudanças que deveriam ter sido feitas no passado. O coronavírus não é o motivo dos clubes estarem mal financeiramente. Na verdade, eles já estavam em situação crítica e dependiam basicamente da receita da venda de jogadores”, explicou o gerente sênior da Ernst & Young, Gustavo Hazan.
O fair-play financeiro e o clube-empresa, se forem aplicados, podem mudar radicalmente a administração dos clubes. Se os times de futebol fosse empresas tradicionais, já teriam fechado as portas devido a tantos prejuízos e dívidas. “Estamos em um momento propício para essas discussões”, comentou Pedro Daniel.