A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) equivalente brasileiro à IRB norte-americana (Institutional Review Board), autorizou o teste em seres humanos do primeiro implante intra-ocular genuinamente brasileiro. Ele será testado inicialmente em 20 pacientes com retinopatia diabética que já tenham passado, sem melhora, por todos os tratamentos disponíveis atualmente na oftalmologia. O implante foi desenvolvido pelo Centro de Pesquisa Rubens Siqueira, de São José do Rio Preto, em parceria com a USP – Ribeirão Preto e com a UFMG. A autorização da CONEP foi conseguida por meio das Faculdades Integradas Padre Albino, em Catanduva, onde o Dr. Rubens Siqueira é professor titular da disciplina de oftalmologia no curso de medicina.
“Estávamos lutando pela autorização do Conselho há quatro anos”, disse o Dr. Rubens Siqueira, pesquisador que lidera a pesquisa e que vai coordenar os testes. “O nosso implante intraocular, denominado Drugs Delivery Sistem (DDS), já comprovou sua eficácia em testes de laboratório e em animais, e pode vir a ser uma excelente ferramenta para o tratamento da retinopatia diabética e outras doenças vasculares que atacam a retina. Atualmente existe um similar norte-americano em testes, mas, além de mais caro que o nosso, ele não é biodegradável: tem que ser retirado do olho do paciente quando acaba seu efeito ativo”.
O implante é um minúsculo comprimido, do tamanho de um grão de arroz, que é colocado no fundo do olho por meio de uma cirurgia simples. Ele é composto por um medicamento – o corticóide dexametasona – e por um substância biodegradável – um polímero derivado do ácido lático e glicólico. Este mini-comprimido vai se diluindo lentamente, liberando o remédio na dose certa por um período de meses ou até anos.
A retinopatia diabética provoca vazamentos nos vasos sanguíneos, que podem levar à perda total da visão. Atualmente ela é tratada com colírios, raio laser e injeções intra-oculares. São tratamentos incômodos, que exigem dedicação e paciência da pessoa. Além disso, as injeções têm que ser realizadas de forma freqüente, pois a duração do efeito do medicamento é curta. Com isso, aumenta o risco de uma infecção intra-ocular (endoftalmite) e também aumenta de descolamento da retina.
“Acreditamos que o DDS pode representar um grande avanço no combate e tratamento de doenças do fundo do olho, principalmente em pessoas acima dos 45 anos. Por enquanto, os testes serão apenas para pacientes com retinopatia diabética. Mas o implante pode ser eficaz também contra degeneração macular e edema macular. Neste momento em que em que cresce a expectativa de vida da população mundial, é sempre bem-vindo qualquer avanço que permita que esses anos a mais sejam vividos com qualidade”.
Além de ser biodegradável, e mais barato que o implante norte-americano, o DDS traz outra vantagem para o mercado nacional: toda a tecnologia necessária para a fabricação do micro-comprimido e para sua implantação é totalmente brasileira. (Paulo Roberto P. Rezende, colaborou)