Sebastian Vettel está terminando sua quarta temporada na Ferrari em posição bem mais frágil do que começou o ano.
Depois de um ano muito turbulento dentro da equipe, com a morte do presidente Sergio Marchionne, a briga por poder entre o chefe Maurizio Arrivabene e o diretor técnico Andrea Binotto, a perda de fôlego no desenvolvimento do carro na parte final da temporada e os próprios erros do piloto, existe a sensação em Maranello de que um possível título se tornou uma lavada de Lewis Hamilton, que conquistou o pentacampeonato com duas corridas de antecipação.
A situação tem paralelos com o “salvador da pátria” ferrarista anterior a Vettel, Fernando Alonso. O espanhol teve dois vices lutando até a última corrida com um equipamento inferior na maioria das pistas em 2010 (seu primeiro ano na Ferrari) e 2012. Ele seria substituído por Vettel ao final da temporada de 2014, mas o clima já estava tenso em Maranello desde a segunda metade do ano anterior, justamente sua quarta temporada na Ferrari.
POSTURAS DIFERENTES
O campeonato de 2013 tinha começado competitivo e Alonso parecia ter chances de lutar pelo título, mas especialmente após uma corrida com uma série de estouros de pneus, em Silverstone, ter obrigado a Pirelli a mudar sua construção, a Red Bull passou a dominar, com Vettel vencendo nove corridas seguidas e sendo campeão com tranquilidade.
Foi quando Alonso começou a deixar sua insatisfação clara. Ainda em julho, às vésperas de seu aniversário, o espanhol foi perguntado o que queria de presente. E respondeu: “O carro de outra pessoa.” O piloto levou uma bronca do então presidente Luca di Montezemolo, seu aliado em Maranello, mas seguiu criticando o time e enfraquecendo sua posição. Na época, ele reconheceu que “a frustração na Ferrari aumenta a cada ano em que esperamos ir bem e lutar pelo campeonato e não vencemos.”
A postura de Vettel frente às adversidades desta temporada foi diferente. Mesmo quando o time cometeu erros, ele evitou críticas e adotou o tom “ganhamos juntos, perdemos juntos” e demonstrou confiança de que a equipe pode dar a volta por cima. Mas o problema é que sua pilotagem deixou a desejar neste ano. E o alemão começa a sofrer grande pressão da imprensa italiana e de alguns setores da equipe, que inclusive apoiaram a chegada do jovem promissor Charles Leclerc, à revelia do tetracampeão.
Curiosamente, esse era um panorama já previsto por Alonso em 2014, em sua última entrevista antes de deixar a Ferrari, à BBC. “Ele tem 26 anos, então quando ele tiver um carro como o dos outros, se ele vencer, ele vai ser reconhecido como uma das lendas da F-1. Mas quando ele tiver um carro como o dos demais e for quarto, quinto, esses quatro títulos vão ser uma má notícia para ele porque as pessoas vão ver esses títulos de maneira mais negativa do que agora. Então Sebastian terá tempos interessantes pela frente.”
Assim como Alonso em 2014, quando a F-1 passou a adotar os motores turbo, Vettel sabe que a Ferrari tem uma chance de superar a Mercedes com as mudanças que serão feitas no regulamento do ano que vem. Essas alterações terão peso menor do que as de cinco anos atrás, mas também é fato que a briga entre Ferrari e Mercedes neste ano foi bem mais acirrada do que aquela entre Ferrari e Red Bull em 2013.
Porém, há no paddock a sensação -externada por alguns pilotos, como Esteban Ocon, que cravou que Leclerc vai lutar pelo título logo em sua primeira temporada na Ferrari -de que o novo companheiro pode complicar ainda mais a vida de Vettel na Scuderia. E que sua paciência em uma quinta temporada sem vitórias no time italiano pode acabar.
Assim como Alonso, Vettel vai começar sua quinta temporada na Ferrari com mais dois anos de contrato pela frente. Com informações da Folhapress.