Ivermectina…
Por meio da Secretaria de Saúde, a Prefeitura de Rio Preto abriu licitação, neste sábado (25), para a compra de 150 mil comprimidos de ivermectina destinados ao combate da Covid-19. As propostas, por meio de pregão eletrônico, podem ser enviadas pelas empresas que fornecem o medicamento até o dia 3 de agosto. Os remédios serão utilizados na rede municipal de saúde.
… aos milhares
O valor total da licitação, de R$ 4,1 milhões, inclui ainda outros remédios destinados “para as internações de Covid-19”. São eles amoxicilina (1 mil frascos), azitromicina (300 mil comprimidos), cetamina cloridrato (3 mil frascos), dexmedetomidina cloridrato (3 mil frascos), dobutamina cloridrato (500 ampolas), midazolam (20 mil ampolas), norepinefrina (10 mil ampolas), omeprazol (40 mil frascos), oseltamivir (325 mil cápsulas), rocurônio brometo (13,5 mil frascos) e vecurônio brometo (13,5 mil frascos).
Piolhos e sarnas
Mas a polêmica, claro, gira em torno da ivermectina, que chegou a esgotar em algumas farmácias de Rio Preto e hoje, por determinação da Anvisa, só pode ser vendida com prescrição médica. No início do mês, o virologista e professor da Famerp, Maurício Lacerda Nogueira, que integra o Comitê Gestor de Combate ao Coronavírus da Prefeitura de Rio Preto, disse que a droga “é muito segura e efetiva, mas para piolhos e sarnas”.
Tóxico
Nogueira, que coordena os testes da vacina Coronavac pela Famerp em Rio Preto, disse que a ivermectina, para ter ação antiviral, precisaria ser usada em uma dose 17 vezes maior que a dose tóxica, que é quando o remédio começa a fazer mal para o ser humano. “Para tomar a dose antiviral, a pessoa morreria antes. Então, não adianta nada”, afirmou. O médico sanitarista e ex-secretário municipal de Saúde Cacau Lopes chegou a chamar de “antiéticos” os médicos que receitam a ivermectina e defendeu até a punição dos profissionais pelo Conselho Regional de Medicina (CRM).
Eu, não
A Prefeitura resolveu terceirizar a responsabilidade. Questionado sobre a aquisição do polêmico medicamento, o secretário de Saúde, Aldenis Borim, afirmou em nota que a Prefeitura providenciou a compra da ivermectina “para atender as receitas prescritas pelo médico que receitar”. Disse que o profissional que utilizá-la “é responsável pelo ato médico”. Borim afirmou ainda que a Secretaria de Saúde não tem qualquer protocolo para uso da ivermectina, cloroquina ou hidroxicloriquina. “Só atendemos se for prescrito pelo médico com responsabilidade total deste”, encerra a nota do secretário.
Médicos sob ataque
A polêmica envolvendo a prescrição da ivermectina e da cloroquina levou um grupo de senadores a cobrar providências do ministro da Justiça, André Mendonça, para garantir a integridade física de membros da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Eles estariam sendo alvo de difamação, ataques e fake news nas redes sociais. O ofício, assinado por 14 senadores, associa a onda contra os infectologistas que se manifestaram contra o uso dos medicamentos.
“Genocida”
Um dos alvos da onda de ameaças em Rio Preto foi o próprio virologista Maurício Lacerda Nogueira, por meio de ataques pelo Facebook. Ele diz que a reação de determinados grupos não surpreende, mas mexe com a motivação dos pesquisadores. “O fato não é surpreendente, mas nos desmotiva a trabalhar. Isso aconteceu com o pesquisador Marcos Lacerda, que fez um grandioso trabalho de pesquisa sobre a administração da hidroxicloroquina em Manaus. Ele precisou de escolta policial e proteção por 10 dias, eu participei dessa pesquisa e também fui atacado. Pessoas me chamaram de genocida e assassino no Messenger”, revelou.
“Despreparado”
Para Nogueira, o comportamento faz parte de uma sociedade dividida por influência política. “A intolerância desse tempo que estamos vivendo virou uma religião para essas pessoas. Nós temos um presidente despreparado que está incitando essa turma de religiosos a atacar quem está trabalhando para o país. E ele dividiu o país no meio”, concluiu o virologista.
Easy rider
Neste sábado (25), o presidente Jair Bolsonaro publicou nas redes sociais que testou negativo para a Covid, ou seja, está curado da doença. Junto com a mensagem, colocou uma foto dele segurando uma caixa de hidroxicloroquina. Em seguida, o presidente saiu para passear de moto, escoltado pelo comboio presidencial. Ele visitou por alguns minutos uma loja em Brasília, onde fez revisão de sua moto e conversou com populares.