domingo, 17 de novembro de 2024
Pesquisar
Close this search box.

Prefeitura de Jales realiza Projeto “Novos Caminhos”

Com objetivo de atender migrantes e moradores de rua em caráter emergencial e abrigo temporário, propondo atividades que favorecem a inclusão social a Administração Municipal está executando um importante trabalho….

Com objetivo de atender migrantes e moradores de rua em caráter emergencial e abrigo temporário, propondo atividades que favorecem a inclusão social a Administração Municipal está executando um importante trabalho. Trata-se do Projeto “Novos Caminhos”, realizado na Casa de Apoio ao Migrante de Jales.

Para a coordenadora Sirlei Lopes Barrientos Marcelino, tal projeto é voltado tanto para pessoas que se encontram em situação de risco por estarem desempregadas, sem residência fixa, andando de cidade em cidade, na condição de migrante, quanto para moradores de Jales, em situação de rua que se encontram em condição de vulnerabilidade social.

“A nossa missão tem por objetivo, dentre outros, acolher, cuidar, alimentar e encaminhar os migrantes e moradores de rua, buscando reintegrá-los à vida social”, afirma Sirlei.

A coordenadora explica ainda que migrantes vem de longe, muitos com problemas mentais. De inicio é feita uma busca para localizar e entrar em contato com a família do migrante. Após a triagem, é realizado o agendamento e o encaminhamento do migrante para consultas médicas, avaliação, exames, tratamento e medicação.

Caso queira ir para outra cidade é fornecida ao migrante uma passagem de ônibus gratuita. Ao chegar à casa o migrante toma banho e veste roupas limpas em boas condições de uso, recebidas através de doação. Após o banho o migrante recebe a refeição.

Foram registrados atendimentos a migrantes vindos do Maranhão, Sergipe, Bahia e até do Piauí. Estes desembarcaram em Jales na expectativa de arrumar trabalho, mas não conseguiram. A casa atende também pessoas que vem em busca atendimento médico e não tem onde ficar.

Sueli faz um apelo: “quando alguém bater a porta de sua casa, não dê esmolas. Encaminhe essa pessoa para a Casa de Apoio ao Migrante.”

Os migrantes se mostram satisfeitos com o atendimento que recebem na casa e relatam fatos marcantes de suas vidas de sofrimento, angustia e esperança.

Longe da família
O migrante Juarez dos Santos Martins tem 53 anos e veio de Jundiaí, cidade próxima a São Paulo. É pedreiro. Sabe ler e escrever e concluiu o curso primário na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná. Está na região há dez meses. chegou aqui atraído por uma proposta de emprego enganosa. Raramente bebe e não usa drogas. Não vê a família há 23 anos. Tem saudade dos filhos, mas não sabe onde eles estão morando. Tem ficha limpa, nunca deu trabalho à policia, nem foi processado.
“Sou bem tratado e sempre fui bem recebido na casa do migrante. A comida é muito boa e o atendimento também é muito bom. Se conseguir um emprego, eu fico na cidade. Sou pedreiro e também sei trabalhar com madeira”, afirmou Juarez.

Quer mudar de vida
O pedreiro Daniel Souza de Moura, de 33 anos, nasceu em Jales. Foi casado e não tem filhos. Trabalhou na Fuga Couros e no DER, com carteira assinada. Atualmente está desempregado. Não mora com a família. Estudou até a oitava série, tem título de eleitor e outros documentos em ordem. Alcoólatra assumido, diz que atualmente não bebe todos os dias. Tem depressão e toma remédios para controlá-la. Ficou seis meses internado tentando abandonar o vício, mas quando saiu, voltou a beber.
“No mundo aí fora, a gente tem várias opções, mas o meu problema é com a bebida. Já fumei maconha, mas hoje estou longe dela. De vez em quando eu volto para minha casa, mas não fico muito tempo nela.” explica Daniel.
“Se você está trabalhando está tudo bem. Se ficar dois ou três dias sem trabalhar você é chamado de vagabundo. É muito preconceito contra a gente. Tenho esperança de mudar de vida, ter uma mulher, ter família e filhos. Para isso, primeiro, tenho que ter um emprego fixo, mas está difícil” desabafa Daniel.
E conclui: “é excelente o atendimento que recebo na casa do migrante. Os funcionários são muito bons comigo. Só tenho que agradecer”.

Sobremesa deliciosa
Roberto Carvalho de Souza, de 29 anos é sapateiro especialista em fabricação manual de botas para rodeio e ortopédicas. Fala com desembaraço e cursou até a quarta série. Não tem família, vive sozinho e tem uma filha de onze anos. Veio de Barretos para Votuporanga e depois para Estrela d´Oeste. Seus problemas começaram quando ficou desempregado, com o fechamento da empresa onde trabalhava.
Roberto teve uma infância sofrida, conforme relata: “minha mãe era prostituta. Me deixava na casa dos outros para sair. Ela me abandonou. Fui criado por uma mulher até os treze anos. Quando fui moleque conheci e experimentei de tudo, a maconha, a cocaína e o crack. Hoje, para mim, a droga é um luxo. Droga é só para quem tem dinheiro. Eu tomo remédios para abstinência. Meu primeiro trabalho, com registro na carteira é de quando eu tinha treze anos. Sempre trabalhei. Hoje estou desempregado por causa do meu problema na perna. Todo dinheiro que recebi do acerto, do seguro desemprego e do fundo de garantia, acabou.”
Roberto sofreu um acidente de moto. Quase teve que amputar a perna, quebrada em quatro lugares e perda de sessenta por cento dos movimentos. Caminha com dificuldade e está tentando conseguir aposentadoria por invalidez.
“A gente se sente humilhado porque eu sempre fui independente; Eu sempre trabalhei para me sustentar. A perícia médica, não aprovou o meu pedido de auxílio doença. Agora estou ficando aqui na casa do migrante, para me proteger, porque lá fora o mundo só oferece más companhias, bebidas e drogas. Às vezes a gente fica desgostoso da vida e acaba entrando numa pior. Quando bate a tristeza e a depressão eu bebo.”
“Eu me sinto discriminado. Quando você anda pelo mundo com uma mochila nas costas, as pessoas acham que é você é um andarilho, um mendigo, um ninguém, sem nenhum valor”, lamenta Roberto.
“Mas ainda tem gente boa. Um dia, eu estava com muita fome e sai para pedir um prato de comida. Bati palmas e uma senhora idosa veio me atender, com muita educação, respeito e carinho. Mandou eu entrar e eu não quis. Ela não queria que eu comesse na rua e insistiu até eu entrar. Eu então, muito acanhado e sem jeito, entrei na casa e fui recebido com muita alegria por todas as pessoas da família que estavam presentes. Fizeram eu sentar na mesa com eles. Comi de tudo o que eles estavam comendo, inclusive uma sobremesa deliciosa. Fiquei muito feliz, pois fui tratado como um ser humano. Por isso eu sempre falo que ainda tem gente de coração bondoso nesse mundo. Para mim, a casa do migrante é a mesma coisa, pois atende a gente com muito carinho e atenção. Aqui eu fui muito bem recebido e não tenho nada que reclamar,” conclui Roberto.

Quer Trabalhar
Valdair de Souza Gama tem 44 anos, trabalha na construção civil e é de Jales. Foi casado e tem uma filha que mora em Campinas, mas não tem contato com ela. Seu problema maior é o alcoolismo e diz ter começado a beber com vinte e cinco anos.
“Entrei na bebida porque me vi sozinho. Comecei e depois não consegui sair mais. Cheguei a ser morador de rua. Estou nessa vida por causa do álcool.” – esclarece.
Ficou cinco meses internado e agora diz que está recuperado. Esta em busca de trabalho e quer voltar a vida normal. Trabalhava por conta própria, como autônomo, mas bebida o fez fracassar. Perdeu as condições físicas e ficou mentalmente abalado.
Quanto está sóbrio, percebe os erros que cometeu. “As pessoas quando entram no vicio tem que se esforçar muito para sair. É uma doença que tem tratamento. É preciso procurar auxilio e não esperar chegar ao fundo do poço como eu cheguei,” enfatiza.
Valdair diz que nunca se envolveu com drogas. Parou e voltou a beber várias vezes. Após cinco meses de internação, agora afirma que está recuperado. Quer voltar a vida normal, conseguir um trabalho e ter um lar novamente.
Sobre o atendimento que recebeu na casa do migrante, Valdair diz o acolhimento muito bom e lhe trouxe benefícios.
“Quando eu estava na rua, sem abrigo, o pessoal da casa me estendeu as mãos. Fui muito bem recebido na casa. Eles dão uma atenção muito especial para nós. Quando surge uma oportunidade de trabalho, eles indicam a gente. Isso ajuda a gente ter mais confiança para enfrentar o mundo aí de fora. Não tenho o que reclamar da casa, só agradecer. Sempre fui muito bem acolhido.”

A Prefeitura paga os gastos com aluguel, água, luz, telefone, alimentação, salário de todos os funcionários e todo material para manutenção e limpeza.

Quadro de funcionários:
Sirlei Lopes Barrientos Marcelino Coordenadora
Eduardo Fialho de Carvalho Motorista
Raquel Severino da Silva Estagiária de Serviço Social
Suelen Cristina Onibeni Estagiária de Serviço Social
Maria Aparecida Alves da Silva Cozinheira
Tereza Alves da Silva Auxiliar de Serviços Gerais
Ananci de Oliveira Auxiliar de Serviços Gerais
Valter Ragazi Vigia Noturno

Notícias relacionadas