segunda, 23 de dezembro de 2024
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Por que temos “frio na barriga” quando estamos ansiosos?

Dor no abdômen, frio na barriga, diarreia, constipação, sensação de bolo na garganta… são vários os efeitos gastrointestinais do estresse, seja ele agudo ou crônico, e da ansiedade. Mas como…

Dor no abdômen, frio na barriga, diarreia, constipação, sensação de bolo na garganta… são vários os efeitos gastrointestinais do estresse, seja ele agudo ou crônico, e da ansiedade. Mas como isso acontece?

O sistema nervoso central se relaciona com o trato digestório de forma bidirecional, ou seja, enviando e recebendo informações, com um influenciando no funcionamento do outro. Pensamentos, sensações e estímulos ambientais podem afetar a motilidade gastrointestinal, a produção de secreções e hormônios, a imunidade e o estado inflamatório dos órgãos. Por exemplo, ao ver ou sentir o cheiro de comida, a produção de saliva aumenta e são alteradas a motilidade e secreção gástricas.

No trato digestório, temos o sistema nervoso entérico, formado por cerca de 100 milhões de neurônios. Este nosso “segundo cérebro” troca informações com o cérebro por várias vias, como os sistemas nervoso simpático e parassimpático e o principal responsável por isto é o nervo vago. Cerca de 90% da estrutura do nervo vago leva informações do trato digestório para o cérebro. Desta forma, nosso segundo cérebro nos permite perceber o que acontece no trato digestório e ele controla o funcionamento dele sem a necessidade da participação do sistema nervoso central.

Mas não são apenas estímulos desagradáveis que o nervo vago leva para o cérebro. Foi mostrado que em pessoas com depressão crônica, refratária ao tratamento clínico, a estimulação do nervo vago pode melhorar os sintomas da doença.

O famoso “frio na barriga”, por exemplo, está relacionado a alterações na sensibilidade das vísceras, na perfusão sanguínea destas e na liberação de hormônios e de secreções digestivas, entre outros fatores.

Outro exemplo interessante é a úlcera péptica. Sabe-se que habitualmente ela é causada pela infecção pela Helicobacter pylori, mas nem todos infectados por esta bactéria irão desenvolver úlceras. Entre os fatores que podem contribuir para que o indivíduo infectado apresente uma úlcera péptica, podemos citar a ansiedade e o estresse. Nestas situações, ocorrem mudanças na secreção de suco gástrico e na regulação de fatores protetores da mucosa do estômago e do duodeno, colaborando para a formação da lesão ulcerosa.

Quando o assunto é intestino, também temos alguns pontos que merecem destaque. A síndrome do intestino irritável tem etiologia multifatorial, mas é notória a influência do sistema nervoso central nesta patologia. Isso porque o estresse emocional pode levar a contrações musculares espásticas, em contraste com a peristalse habitual, e ao aumento da sensibilidade intestinal à distensão e à dor. O resultado é a percepção da dor (característica da síndrome do intestino irritável), mesmo na ausência de alterações orgânicas, que está associada a alterações da motilidade. Esta alteração de motilidade, por sua vez, pode determinar a ocorrência de diarreia ou constipação.

As doenças inflamatórias intestinais, como a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn, têm a sua expressão determinada por alterações genética, fatores dietéticos, microbiota intestinal e agentes infecciosos. Apesar disso, é notória a participação do estado emocional nas reativações da doença.

Por fim, é importante comentar que o sistema nervoso central e entérico interagem continuamente e deste processo podem surgir sensações de bem-estar, sintomas de doenças funcionais e até mesmo influenciar a apresentação de doenças orgânicas como úlceras pépticas e doenças inflamatórias intestinais.

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