Em uma das “bocas” de drogas mais conhecidas de São Paulo, localizada em uma viela de cortiços na Rua Muniz de Souza, na Aclimação, zona sul, traficantes também passaram a oferecer o lança-perfume “turbinado”. Um deles fica no meio da rua, atendendo quem vem de carro para pegar drogas.
Usuários relataram ao Estado que traficantes da Muniz de Souza passaram a oferecer o lança “turbinado” durante a Copa do Mundo, no ano passado. “Depois de um tempo parou. Aí, no carnaval eles voltaram (a oferecer). Agora tem sempre, custa R$ 7”, contou um usuário, que não quis revelar o nome.
“Como é muito barato, o pessoal compra achando que é o mesmo lança de antigamente”, relatou outro usuário de cocaína que comprou lança “turbinado” na Rua Muniz de Souza.
O Denarc tem conhecimento do tráfico na Aclimação pelo menos desde 1997, quando o órgão enviou um relatório à Secretaria-Geral da Presidência da República alertando sobre 80 pontos de tráfico na capital paulista – entre eles, o da Muniz de Souza. Mas o órgão de inteligência da Polícia Civil não sabe explicar como o ponto de venda de drogas funciona 24 horas por dia há tantos anos.
“Desde 2010, o departamento prendeu mais de 15 traficantes, entre maiores e menores de idade, nas proximidades da Rua Muniz de Souza”, limitou-se a informar o órgão.
Usuários
Morador do Jardim Peri, na zona norte, o motorista F.N., de 23 anos, diz ter parado de cheirar lança “turbinado” após ver “uns três amigos morrerem”. Ele também diz já ter desmaiado. “Sorte que eu voltei. Mas tem moleque que cai no meio do pancadão, você acha que ele só desmaiou. Aí, quando vai ver, o moleque já está gelado (morto)”, conta.
O motorista frequenta um pancadão realizado aos sábados na Favela do Iraque, também na zona norte. Lá, traficantes da “biqueira” vendem dois frascos de vidro de lança por R$ 5 – o mesmo que é oferecido a R$ 7 por traficantes que atuam na região central e na porta das baladas.
Para Dartiu Xavier, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes (Proad) do Ministério da Saúde, o problema é que o lança-perfume “turbinado” adquiriu características diferentes de consumo.
“Antes, ele não era vendido nas biqueiras como acontece agora. Por isso, a preocupação não é em relação à dependência, mas aos riscos que ele oferece. Hoje não sabemos os produtos contaminantes que podem estar sendo usados tanto no lança de biqueira como no vinho químico”, afirmou Xavier.