A Fifa vai para a sua primeira Copa do Mundo no Oriente Médio sem saber quantas seleções vão jogar, quantos estádios serão realizados, sem saber como será a eliminatória e sem saber quem ainda será preso por conta das investigações de corrupção.
Em 2022, o Catar recebe o Mundial, prometendo um investimento inédito e uma receita sem precedentes para a Fifa. Mas, se as obras estão garantidas, a incerteza é política. A entidade quer ampliar o evento de 32 seleções para 48, o que envolveria realizar partidas não apenas no Catar, mas também em países vizinhos.
Em uma guerra diplomática e sofrendo embargo dos sauditas e da região, o Catar vem resistindo à proposta de ampliação, ciente de que realizar 80 jogos, e não 64, representaria abrir o Mundial para Bahrein, Omã e Emirados Árabes Unidos.
O jornal O Estado de S.Paulo apurou que o presidente da Fifa, o suíço Gianni Infantino, tem justamente usado esse argumento político como forma de fazer avançar a sua ideia de ampliar a Copa do Mundo do Catar. Nos bastidores, ele tem explicado a dirigentes que o gesto poderia abrir canais diplomáticos, dando à Fifa até mesmo um status de mediador político internacional, um velho sonho dos cartolas.
O governo de Doha já deixou claro que é contrário à ideia e, para não criar polêmicas durante a Copa do Mundo na Rússia, Gianni Infantino retirou o assunto da pauta. Mas, ele já avisou que o tema vai ser retomado a partir de setembro. Além do golpe de publicidade diplomática, uma expansão para 48 seleções garantiria um aumento de US$ 1 bilhão (R$ 3,86 bilhões) para sua entidade, além de votos das associações nacionais na reeleição em 2019.
Nem todos concordam. O CEO da Copa do Mundo da Rússia, Alexey Sorokin, deixou claro na semana passada que o Catar “precisa ser consultado”. Gianni Infantino, que não pretende desistir de sua ideia, acredita que o projeto poderia ser “positivo para toda uma região”.
Até que a equação política seja resolvida, porém, o futebol fica suspenso. Uma ampliação teria um impacto generalizado nas Eliminatórias em diversas partes do mundo, modificando até mesmo como esses torneios deveriam ser realizados. O primeiro deles já começa na Oceania, em março de 2019.
Corrupção
A história da Copa do Mundo do Catar foi sempre repleta de polêmicas. O país foi o pior classificado na avaliação da Fifa, realizada em 2010. Mas, quando os votos foram revelados, o menor país a jamais receber um Mundial superou gigantes como Austrália, Japão e Estados Unidos.
Investigações se proliferaram na Fifa, na Justiça da Suíça, Espanha, França e Estados Unidos, com revelações de como cartolas como o brasileiro Ricardo Teixeira e o argentino Julio Gordona receberam supostamente recursos em troca de votos. Apurações também indicam que mesmo a Seleção Brasileira pode ter sido usada em amistosos para justificar pagamentos ilegais aos dirigentes.
À reportagem, o ex-presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, deixa claro que todo o caos gerado com as prisões dos delegados da entidade apenas ocorreu por conta da escolha do Catar, em detrimento dos norte-americanos.
“Isso ocorreu por conta da intervenção da política francesa, do presidente da França (Nicolas Sarkozy), que se encontrou no Palácio do Eliseu com o príncipe herdeiro do Catar e que hoje é o emir”, contou. “Depois daquilo, Michel Platini veio até mim e me disse: Desculpe-me Sepp, não posso garantir mais meus votos para os Estados Unidos. Se isso tivesse ocorrido, não estaríamos nessa situação caótica como está ocorrendo nos Estados Unidos, com o julgamento”, apontou.
A escolha não gerou apenas um caos legal. A Fifa passou a ser acusada de ser conivente de um sistema trabalhista que viola direitos humanos e, diante do calor do verão no Golfo, a Copa do Mundo teve de ser modificada para novembro, afetando todo o calendário internacional.