A Polícia Civil colheu depoimento, nesta terça-feira (25), do padre Ramiro José Perotto, de Carlinda, a 774 km de Cuiabá, que comentou numa rede social que a menina de 10 anos que ficou grávida após ter sido estuprada pelo tio no Espírito Santo teria “compactuado com o estupro”.
De acordo com a polícia, o religioso foi intimado, sexta-feira (21), a prestar esclarecimentos na delegacia de Alta Floresta, onde foi ouvido, nesta semana.
Segundo o delegado Pablo Carneiro, ainda na semana passada, foi instaurado um Termo Circunstanciado de Ocorrência pelo cometimento, em tese, do crime de apologia supostamente praticado por Ramiro.
A polícia não divulgou detalhes do depoimento do padre.
Além da Polícia Civil, foi aberto outro procedimento de investigação no Ministério Público de Mato Grosso.
Um ofício foi encaminhado à igreja para que informe as providências administrativas de apuração da conduta do pároco.
A investigação contra o religioso começou depois que ele respondeu um comentário de uma mensagem compartilhada pelo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, que lamentou a interrupção da gravidez da menina.
Na publicação, diversas pessoas comentaram o post de Perotto, algumas criticando. Uma delas disse que “obrigar uma criança vítima de estupro a seguir com a gravidez era repugnante” e falou em hipocrisia.
Em resposta, ele disse que duvidava que uma criança abusada por vários anos deixaria de comentar o caso. “Aposto, minha cara. Ela compactuou com tudo e agora é menina inocente. Gosta de dar então assuma as consequências”, escreveu.
Mais tarde, ele postou uma mensagem dizendo que iria sair do Facebook. “Você acredita que a menina é inocente? Acredita em Papai Noel também. Seis anos, por quatro anos, e não disse nada. Claro que estava gostando”, afirmou no post antes de excluir a conta da rede social.
Na nota divulgada nesta quinta, o padre disse que assume a responsabilidade pelas postagens e que não quer condenar e nem julgar ninguém.
“Assumo a responsabilidade de ter proferido palavras desagradáveis, e justifico que compartilho da defesa da vida, nunca condenar e tirar julgamentos. Não foi minha intenção proferir palavras de baixo calão, as quais não comungam com minha fé e minha crença na pessoa humana. Àqueles que se sentiram ofendidos, só resta meu pedido de perdão”, escreveu no comunicado.