A Polícia civil de Jales investiga se R.S.M. 24 anos, que confessou ter matado Marcos Adriano Longo, o Curió, 40 anos, no último dia 25, agiu sozinho. Há indícios fortes de que ele tenha recebido ajuda de pelo menos mais uma pessoa. Rumores dão conta de que o cúmplice seria um adolescente.
A suspeita se baseia nas informações fornecidas pelo próprio acusado de como tudo transcorreu. As dúvidas se referem ao transporte e ocultação do cadáver, no furto e transporte dos animais e na ocultação da caminhonete da vítima, que também foi usada no crime. Tudo deve ser esclarecido na reconstituição policial, ainda sem data marcada.
Em gravação feita em áudio e vídeo, R.S.M. contou que telefonou para o caminhoneiro na tarde de domingo, dia 25 de janeiro, para contratá-lo para fazer um frete de gado no córrego do Açoita Cavalo, onde estariam cinco cavalos de sua propriedade. Chegando ao local, apenas um animal foi encontrado. Enquanto discutiam sobre os outros quatro, o assassino avisou ao caminhoneiro que precisaram pegar mais cinco vacas, levantando suspeita e provocando uma discussão entre os dois. “No meio da discussão, ele pegou o enxadão usado pela vítima na caminhonete e desferiu o primeiro golpe. Depois para ter certeza que o havia matado, ele desferiu o segundo. Ambos na cabeça”, disse o delegado Sebastião Biazi, coordenador da investigação.
Depois de assassinar o caminhoneiro, R.S.M. o teria colocado no ombro e percorrido 110 metros até o local onde cavou uma cova rasa e o enterrou. Em seguida se apossou da caminhonete da vítima e a escondeu em Jales até a madrugada de segunda-feira, quando foi até uma propriedade na zona rural e furou 12 cabeças de gado, cortando a cerca.
O gado foi entregue numa segunda propriedade em Pontalinda, pertencente a dois irmãos que atuavam no ramo de açougue. Eles negam que tenham encomendado o furto e alegam que o gado foi colocado por cima da cerca e foi encontrado por eles na manhã seguinte.
Em seguida, o assassino levou a caminhonete até uma estrada que liga Jales a Vitória Brasil e Dolcinópolis e a escondeu em um canavial, voltando para a sua casa, na Rua Dez, no centro de Jales. Ele garante que fez tudo isso sozinho, mas, assim como a alegação dos irmãos, a polícia duvida. “É possível que pelo menos mais um indivíduo esteja envolvido. Estamos investigando”.
DESAPARECIMENTO
Trabalhador, solteiro, pertencente à família bastante conhecida na cidade e sem filhos, Marcos Adriano Longo, de 40 anos, não tinha inimigos e morava com os pais no centro de Jales. Nunca dormia fora de casa e costumava sair apenas para trabalhar com a sua caminhonete F-4000 do tipo “boiadeira” que usava para fazer fretes de gado.
Por isso, seu desaparecimento no final da tarde do dia 25 causou preocupação e gerou um verdadeiro mutirão à sua procura. Seu corpo, porém, foi encontrado cinco dias depois, no final da tarde de sexta-feira, dia 30. Foi o próprio assassino que confessou o crime indicou a polícia onde o corpo estava enterrado. Curió foi sepultado no dia seguinte, sob grande comoção.
Acusados permanecem presos até o fim da investigação
Os três homens acusados de envolvimento na morte de Marcos Adriano Longo, o Curió, permanecem presos. Dois são irmãos e atuavam no ramo de compra e venda de carne. Eles são acusados de receptação qualificada, pois foi no sítio deles, em Populina, que parte do gado furtado pelo assassino foi encontrado. A polícia acredita que o gado seria revendido e autuou ambos por receptação qualificada.
O delgado Sebastião Biazi disse que os irmãos não colaboraram com a polícia e permaneceram calados durante o interrogatório. “Eu fiz 15 perguntas a eles e eles não responderam nenhuma, mas está tudo relacionado nos autos e consta do inquérito. Apesar disso, temos provas suficientes para o indiciamento e eles permanecem presos em Jales”.
REVÓLVER
Apesar de ter sido preso temporariamente pelo latrocínio, o assassino confesso, R.S.M. também foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo. Logo depois da sua prisão, na tarde de sexta-feira, dia 30, e antes dele levar a polícia até o local do crime, uma revista na sua casa descobriu um revolver calibre 22 de numeração raspada.
Segundo Biazi, o inquérito deve indicia-lo por latrocínio (roubo com morte da vítima), ocultação de cadáver, furto qualificado (dos animais) e também por porte de arma. “Ele está preso por 30 dias, mas esse prazo pode ser prorrogado por mais 30. O inquérito é complicado e não deve terminar no prazo inicial”.
Gado abasteceria mercado clandestino
A polícia trabalha com a hipótese de que o gado furtado com a caminhonete de Curió seria vendido em açougues ou mercados da cidade. Tanto os dois irmãos presos por receptação quanto o acusado de ter cometido o latrocínio, já possuem envolvimento com o setor. Contra R.M. pesa uma queixa de furto de gado em uma propriedade em Santa Albertina, onde ele trabalhava. O proprietário teria dado falta de dezenas de cabeças de gado. “Não posso afirmar com certeza se a carne iria mesmo para o abate clandestino, mas estamos investigando e há indícios”, disse o delegado Sebastião Biazi.
Um desses indícios é o fato de que o gado já tinha sido marcado pelos irmãos, o que indica que eles pretendiam se apropriar dos animais. Eles foram autuados pro receptação qualificada exatamente porque mantinham comércio de carnes. “A receptação qualificada é porque eles pretendiam vender o produto furtado”.
Pelo menos uma das 12 cabeças do gado furtado não foi encontrada na propriedade dos dois e a polícia acredita que provavelmente ela já tinha sido vendida inteira ou abatida.
Jornal A Tribuna