Desempregada, a Mariana (nome fictício), de 38 anos, achou que não havia melhor momento na vida para descobrir que tinha dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para receber.
Mesmo já tendo sacado recentemente uma quantia relativa ao FGTS, não duvidou
da veracidade da carta que recebeu pelos correios com todos os dados e informações pessoais dela.
Com formação superior, em momento algum, Mariana imaginou que seria vítima de um golpe quando foi até o endereço indicado, um escritório muito bem localizado na região sul de Rio Preto, na rua Siqueira Campos.
“Fui muito bem atendida por pessoas que sabiam conversar. Eles se comunicavam e se expressavam muito bem. Falavam realmente com conhecimento de causa. Estavam bem vestidos e tinham boa aparência”, comentou.
Ela só começou a desconfiar que poderia se tratar de um golpe quando disseram que ela teria o direito a receber mais R$ 17 mil, desde que entrasse com uma ação judicial e pagasse à empresa R$ 1,3 mil.
“Eu disse que não tinha tudo isso. Explicaram que daria pra fazer por mil reais parceladas em oito vezes no cartão de crédito. No desespero, aceitei. Percebi que ele ficou nervoso, deixou algumas coisas caírem no chão e eu cheguei até a questionar se não se tratava de um golpe. Ele garantiu que não. Quando eu cheguei em casa minha mãe afirmou que era golpe”, contou.
Mariana foi apenas uma entre as mais de cem vítimas que a polícia já identificou que a quadrilha conseguiu persuadir e extorquir dinheiro. No mínimo, o bando conseguiu lucrar R$250 mil em golpes. O esquema começou a ser desmantelado quando os investigadores do 1º, 2º e 5º Departamento Policial começaram a juntar as denúncias
com situações parecidas. Uma equipe do setor do Núcleo de Investigações foi até o endereço apontado pelas vítimas.
No local, se depararam com quadro homens que foram levados para serem ouvidos no DP. Também encontraram uma pequena quantidade de maconha e anabolizante. Fichas e cópias de documentos de vítimas, também anotações com movimentação de banco e cópias de extratos de pagamentos de cartões de crédito feitos pelas vítimas estavam no escritório.
De acordo com a polícia, os quatro foram liberados, uma vez que não havia situação de flagrante. Dias depois, o escritório foi fechado. De acordo com informações do delegado José Luiz Barbosa Júnior, o inquérito foi instaurado pelos crimes de associação criminosa, estelionato, drogas sem autorização ou desacordo para consumo e falsificar, corromper e adulterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.
Cem vítimas foram identificadas e serão chamadas para prestarem declarações à polícia.
O Esquema
A quadrilha composta por, até agora identificados, quatro homens de São Paulo que abriram um escritório em Rio Presto, desde março, com o nome Assessoria Pessoal de Apoio ao Consumidor, APAC.
Eles enviavam, por meio dos Correios, cartas endereçadas especificamente para as vítimas dizendo que elas tinham direito de resgatar valores do FGTS. Que deveriam comparecer ao escritório para receber as devidas orientações. Levando em consideração a aparência física da pessoa, os estelionatários estipulavam valores que variavam entre R$800 e R$3,5 mil para que o resgate do tal dinheiro fosse feito.
Inclusive, o pagamento podia ser feito parcelado por meio de cartão de crédito.