Em pelo menos 34 assassinatos ocorridos em Osasco, na região metropolitana de São Paulo, de 2012 até hoje, um nome em comum sempre apareceu nas investigações da Polícia Civil como suspeito de ser o responsável pelos crimes: o do policial militar Fabrício Emmanuel Eleutério.
Atualmente, ele é o único preso por suspeita de participar da maior chacina da história de São Paulo, que deixou 19 mortos e 5 feridos, em Osasco e em Barueri, há exatamente um mês, em 13 de agosto. Se sobram suspeitas da polícia contra o PM, faltam provas para incriminá-lo. Em pelo menos dez inquéritos em que apareceu como suspeito, o Ministério Público o denunciou em cinco. Mas em dois processos, ele foi impronunciado pela Justiça, ou seja, foi decidido que ele não vai a julgamento por falta de provas.
Esses dois últimos casos de impronúncia são referentes a uma chacina ocorrida na noite de 5 de fevereiro de 2013, no Jardim Padroeira, em Osasco, e um ataque que deixou 4 feridos em Carapicuíba, na madrugada seguinte. A investigação policial concluiu que Eleutério se uniu a dois policiais militares e a dois vigias para vingar o PM Luiz Carlos Nascimento Costa, morto a tiros quando saía de uma farmácia.
O outro caso aconteceu em um bar e teve, segundo as investigações, o mesmo motivo: vingar a morte do PM. Apenas um policial está preso. Os outros três acusados estão em liberdade e Eleutério foi inocentado. Por ordem da Justiça, a principal testemunha dos dois processos será investigada sob a suspeita de mentir em seus depoimentos.
Medo. Enquanto aguardam uma resposta da Justiça, os sobreviventes e as testemunhas desses crimes brutais vivem uma rotina de medo e desconfiança. Em novembro de 2012, o jovem José (nome fictício) estava em um bar na Rua Fortaleza, no Jardim Rochdale, quando homens armados desceram de um carro e começaram a atirar. Seis pessoas morreram, cinco ficaram feridas.
“Eu escapei porque pulei atrás do balcão. Eu só ouvia tiros e mais tiros”, disse. Ele viu um dos atiradores saindo do bar. “Ele andava para trás, mas o olhar era sempre para frente e segurando a arma em posição de tiro.” José ajudou a socorrer os amigos, mesmo com a perna ferida por um tiro.
Ele diz que, um pouco antes dos assassinos chegarem, uma viatura da PM encostou no bar e os policiais mandaram abaixar o som. “Depois, ouvi dizer que PMs apareceram para recolher as cápsulas. Mas eu não vi.” Até hoje ele diz que foi chamado apenas uma vez para prestar depoimento na delegacia.
O rapaz tem antecedente criminal por tráfico de drogas e acredita que era o alvo dos assassinos. O episódio serviu para ele mudar sua vida. José largou as “companhias erradas” e se tornou evangélico. “Antes, quando uma criança se sentava do meu lado, a mãe dela a tirava de perto de mim. Hoje, tem pai que pede para eu aconselhar o filho dele. Eu tive uma chance de sair daquela vida e agarrei”.
Dona Maria (nome fictício) era proprietária de um bar no Jardim São Roberto quando homens armados apareceram e atiraram contra os frequentadores. Quatro ficaram feridos. Um deles ficou paraplégico. Era fevereiro de 2013.“Eram muitos tiros. Tinha um pessoal aqui dentro e alguns jovens do lado de fora. De repente, o carro chegou e os homens desceram atirando”, disse. Na hora, jovens comemoravam a vitória do time de futebol da rua contra um adversário.
A mulher nunca mais conseguiu voltar à rotina. “A gente vive com medo. Mas não tenho escolha, preciso ficar e viver aqui”, comentou. Depois da tentativa de assassinato, dona Maria fechou o bar. Chegou a alugar o espaço para uma pastelaria, mas não deu certo. A filha dela pretende montar um comércio em breve. Na rua do bar, algumas vítimas acompanharam a reportagem. Ninguém mais quis falar.