A Polícia Militar afirma que um homem reagiu a uma abordagem e foi morto no início da tarde desta terça-feira (20/2), em Santos, no litoral de São Paulo. Dessa maneira, já chega a 30 o número de mortes desde o dia 3 de fevereiro, dentro de uma nova operação da PM que já supera a Operação Escudo, deflagrada pela Secretaria da Segurança Pública no segundo semestre de 2023.
Em 2023, a Operação Escudo foi encerrada após 40 dias com 28 mortos. Na ocasião, sob críticas e denúncias de abusos, a ação foi desencadeada após a morte do soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Patrick Bastos Reis, em julho do ano passado.
A ação atual da Polícia Militar na Baixada Santista também tem recebido uma série de críticas por parte de diversas entidades e já virou alvo, inclusive, de uma apelação à Organização das Nações Unidades (ONU) para que seja encerrada imediatamente, diante de uma série de denúncias de abusos e violações de direitos humanos.
Segundo a versão oficial da PM, equipes do 3º Batalhão de Polícia de Choque estavam em operação, juntamente com o canil, na tentativa de realizar uma abordagem na Rua Cananeia, no bairro do Saboó, em Santos.
Ainda segundo a PM, uma pessoa teria fugido, os policiais viram uma porta aberta e teriam sido recebidos a tiros. Eles revidaram, atingindo o suspeito. Os integrantes do Batalhão de Choque contaram que o homem tinha uma pistola calibre 380 e foi desarmado.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e levou a pessoa baleada até a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Central de Santos, onde acabou morrendo. Nenhum policial se feriu. O caso foi registrado no 5º Distrito Policial de Santos.
Ou seja, desde a morte do PM Silva em 26 de janeiro, policiais militares, em serviço ou não, já mataram ao menos 43 pessoas em cidades da região metropolitana da Baixada Santista, no litoral sul do estado de São Paulo.
Balanço da operação da PM
Segundo dados do painel de transparência do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp), foram 28 mortos por PMs em serviço entre 3 e 19 de fevereiro nas cidades de Santos, Guarujá, São Vicente e Cubatão, mais um morto por policial militar fora de serviço.
Com a morte desta terça-feira (20/2), chega-se a 30 mortos por PMs no período posterior ao assassinato do soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Samuel Wesley Cosmo, no dia 2 deste mês.
Quando levadas em consideração também as cidades de Mongaguá e Itanhaém, que fazem parte da região metropolitana da Baixada Santista, o número de mortos por PMs desde o dia 3 de fevereiro chega a 33 — um dos casos por policial fora do horário de serviço.
Caso sejam levadas em consideração as mortes cometidas por PMs a partir do assassinato do policial Marcelo Augusto da Silva, em 26 de janeiro, então são mais 10 casos na região metropolitana da Baixada Santista entre 28 e 31 do mês passado — três deles por policiais militares fora de serviço, no dia 30, no Guarujá.
Ou seja, desde a morte do PM Silva em 26 de janeiro, policiais militares, em serviço ou não, já mataram ao menos 43 pessoas em cidades da região metropolitana da Baixada Santista, no litoral sul do estado de São Paulo.
Abusos
No último fim de semana, em reportagem do Metrópoles, o ouvidor das polícias Cláudio Aparecido Silva afirmou que os métodos usados pela PM na atual versão da operação no litoral paulista não diferem em nada daquela realizada após a morte do soldado da Rota.
“Para nós, é tudo Operação Escudo. No nosso ponto de vista, as práticas são as mesmas, as reclamações das comunidades são as mesmas. É a mesma coisa, não tem nenhuma mudança que possa justificar essa como Operação Verão e as outras como Escudo”, afirmou. “Tem relato de agressões a crianças de 10 anos de idade”, disse o ouvidor.
A nova Operação Escudo no litoral paulista foi deflagrada após a morte do soldado Samuel Wesley Cosmo, em Santos, no dia 2/2. Na segunda (19/2), o gabinete da SSP voltou à capital paulista — depois de ter sido transferido, no início do mês, para Santos.
Professor Claudinho, como é conhecido o ouvidor, questionou até quando o estado de São Paulo vai tolerar esse tipo de ação. “Gostaria de entender até quando a população de São Paulo vai suportar esse tipo de prática na nossa política de segurança pública, porque, se a moda pega, se o modus operandi permanece, como está colocado, a gente vai abrir mão de todo o Estado Democrático de Direito”, diz.
Em documento enviado à Organização das Nações Unidas (ONU), a Defensoria Pública de São Paulo, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a Conectas Direitos Humanos e o Instituto Vladimir Herzog também chamaram a operação em andamento de Escudo, e pediram o fim das ações violentas, bem como o uso de câmeras por parte dos policiais.