No dia 5 de junho, o meio ambiente é lembrado no mundo todo. Seu dia internacional foi escolhido pelas Organizações das Nações Unidas lembrando a Conferência de Estocolmo (Suécia), realizada em 1972, que resultou em importantes recomendações sobre o assunto. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL-APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento) lembram que, em meio à ebulição das discussões sobre questões ambientais, o tema consumo sustentável não encontra o espaço que deveria. O conceito se relaciona àquilo que é realmente necessário para a satisfação da população do planeta, de modo que as futuras gerações tenham as mesmas condições de se satisfazerem.
A criação do ITAL está ligada a este conceito, já que uma das grandes motivações de sua fundação foi o intuito de diminuir perdas de produtos agrícolas por meio de tecnologias de processamento de alimentos e bebidas. Mais tarde, a criação do Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea-ITAL) veio a completar esta disposição, pois a embalagem é uma parte importante do trajeto que faz chegar ao consumidor um alimento seguro. As histórias do ITAL e do Cetea-ITAL estão vinculadas, deste modo, à otimização do uso dos recursos do meio ambiente visando à conservação e ao abastecimento.
O Instituto acompanhou o aumento de preocupação com o meio ambiente e, há mais de uma década, passou a se dedicar a uma ferramenta que determina o custo ambiental total de um produto: a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). “A ACV estuda o produto ‘do berço ao túmulo’. Para melhorá-lo, temos que aprimorar todos os seus aspectos. Não fazemos estudos de ACV como ferramenta de marketing, mas como um diagnóstico, e apontamos como melhorar. E, do ponto de vista do meio ambiente, posso e devo melhorar sempre”, conta a pesquisadora Eloísa Elena Corrêa Garcia.
Nesse sentido, a indústria procura o ITAL para fazer estudos de ACV e, nos últimos dois anos, houve um aumento da demanda por desenvolvimento de produtos com menor impacto ambiental. “Damos também muitas palestras, escrevemos artigos e livros, porque achamos que é muito importante popularizar essa discussão”, completa o pesquisador do Cetea-ITAL, Guilherme Castilho de Queiroz. A discussão que os profissionais se empenham em disseminar tem como pressupostos básicos a otimização e a educação para a promoção de ações nas esferas governamental, industrial e pessoal.
Um ponto central de controvérsia que envolve o consumo sustentável é o desenvolvimento econômico. Há um argumento segundo o qual o estímulo do consumo sustentável poderia significar um entrave para a economia. “O consumo sustentável é uma mudança de cultura que não vai levar à estagnação da economia; vai levar a modos diferenciados de ação da economia. Até onde vamos fazer só o que é interessante para a economia e não vamos pensar no meio ambiente? Temos que ter o desenvolvimento econômico, o social e pensar o meio ambiente, tudo ao mesmo tempo”, defende Eloísa.
O assunto é amplo e o desafio é grande. Os pesquisadores pontuam, no entanto, ações que podem fazer toda a diferença. A redução do desperdício é uma delas. Hoje, há tecnologia disponível, por exemplo, para o aproveitamento dos resíduos gerados por grande parte dos processos industriais e sua transformação em subprodutos. Essa postura pode tornar a industrialização, inclusive, um instrumento do consumo sustentável. Ainda no âmbito industrial, racionalizar os processos, a logística e planejar os produtos com vistas no menor impacto ambiental possível é uma maneira de satisfazer as necessidades de consumo sem desconsiderar o ambiente.
Já no que se refere às ações governamentais, Queiroz ressalta a importância da manutenção de organismos de discussão que resultem em políticas públicas. “As políticas de desenvolvimento sustentável têm que ser muito firmes, porque o marketing do desenvolvimento econômico é muito forte. É importante que o governo tenha políticas públicas e instituições na linha do desenvolvimento sustentável”, ressalta.
O consumidor é, do mesmo modo, um agente de importância central no processo. “Ele tem que entender quanto custa o seu consumo e racionalizar. Temos que questionar nossos hábitos, preferir produtos que foram dimensionados de uma forma melhor para o meio ambiente e, ao final do uso, termos a responsabilidade para dar o destino adequado para aquele resíduo, para que ele volte ao ciclo produtivo, economizando o meio ambiente”, ressalta Eloísa. Racionalizar o consumo pode ser entendido, neste caso, como ações que incluem, por exemplo, pensar na real necessidade de utilizar uma sacola, de imprimir um e-mail, adquirir apenas a quantidade de alimento que vai ser ingerida. Já fazer com que o produto volte para o ciclo produtivo se traduz em reciclagem.
Este é, inclusive, mais um tema de atenção do Cetea-ITAL. Queiroz realiza trabalhos que visam verificar e aprimorar embalagens confeccionadas a partir de material reciclado pós-consumo. Melhorando a qualidade do produto feito com material reciclado, a tendência é uma maior valorização de sua cadeia produtiva. Mesmo que o uso de reciclado já seja grande para o segmento de embalagem, o desenvolvimento tecnológico tem muito trabalho pela frente, no sentido de possibilitar novos usos e aprimorar as aplicações já feitas.
A esse respeito, os pesquisadores chamam a atenção para um engano corrente: a supervalorização do conceito de degradação dos materiais. Está muito disseminada a idéia de que tanto melhor é o produto quanto mais rápido ele se degradar e desaparecer da natureza. Queiroz e Eloísa enfatizam que a discussão deve ser deslocada. Em primeiro lugar, o material não deve ser jogado na natureza, mas inserido na cadeia de revalorização. Em segundo, sob o prisma da reciclagem, o conceito se inverte: quanto mais tempo um material puder durar, mais vezes ele poderá ser reaproveitado e adiar uma nova retirada de recursos naturais.
Para levantar os pontos corretos e mobilizar toda a sociedade para uma cultura oposta à do consumismo exacerbado, que “bombardeia” o consumidor todos os dias e de várias maneiras, a educação se mostra o primeiro motor do consumo sustentável. “A educação perpassa toda a sociedade para buscar o desenvolvimento sustentável”, afirma Guilherme. “Outra coisa que temos que entender: o futuro do planeta, não é para os nossos netos. Espero que a vida do planeta continue por milhares de anos, não quero que ele acabe porque o homem não conseguiu gerenciar seus recursos. De repente, parece um desafio tão grande que pode nos paralisar. Mas podemos trabalhar de uma forma gradual”, conclui Eloísa. (Leila Rinaldi Ming – ITAL)