segunda, 23 de dezembro de 2024
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Pesquisadores discutem apoio a estudo de doenças negligenciadas

Cerca de 1 bilhão de pessoas são afetadas por doenças negligenciadas em todo o mundo, segundo a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, da sigla em inglês), mas a falta…

Cerca de 1 bilhão de pessoas são afetadas por doenças negligenciadas em todo o mundo, segundo a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, da sigla em inglês), mas a falta de perspectiva de lucro afasta pesquisas para aprimorar e desenvolver o tratamento contra essas enfermidades. Entre hoje (6) e quarta-feira (8), pesquisadores de diversas partes do mundo estão reunidos no Rio de Janeiro para discutir soluções para esse problema, na reunião de parceiros da DNDi.

Criada pela organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras e pelo braço da Organização Mundial da Saúde que trata de doenças tropicais, a iniciativa busca unir esforços com governos e o setor privado para desenvolver pesquisas.

A lista de 17 doenças negligenciadas inclui problemas conhecidos dos brasileiros, como a dengue e a Doença de Chagas. Segundo a diretora médica regional da DNDi na América Latina, Carolina Bastista, uma característica em comum entre muitas dessas doenças é que os enfermos estão em camadas sociais mais desfavorecidas.

“São doenças que acometem pessoas que vivem em situações de pobreza, em lugares remotos e que despertam pouco interesse das grandes indústrias farmacêuticas”, diz Carolina, que explica como doenças mais conhecidas como a dengue ainda fazem parte da lista. “Apesar de ser muito conhecida e midiática, faltam ferramentas, tratamentos adequados e investimento em vacinas”.

A pesquisadora destaca que muitas dessas doenças, como a Doença de Chagas, até têm tratamentos desenvolvidos, mas eles estão ultrapassados, têm efeitos adversos fortes e pouco se faz na iniciativa privada para que eles sejam modernizados. “A gente tem que sair dessa lógica e quebrar esse paradigma de que o que deve levar à inovação é o lucro. O que deve levar à inovação é o bem estar das pessoas”.

Apesar disso, ela destaca que a DNDi não espera que a iniciativa privada resolva o problema sozinha e cobra que os governos e a academia também se envolvam no debate. “Esse problema não vai ser resolvido por um ator só. Só pela indústria ou só pelo governo, ou só pelos pacientes. E, sim, por uma diversidade de atores, tentando pegar o que cada um sabe”.

A Fundação Oswaldo Cruz é uma das instituições fundadoras da iniciativa e o vice-presidente de produção e inovação em saúde da entidade, Jorge Bermudez, conta que uma das soluções em discussão para viabilizar a pesquisa e desenvolvimento de tratamentos dessas doenças é a criação de um fundo internacional que disponibilizasse esses recursos.

“Não falamos apenas de doenças negligenciadas, mas falamos em populações negligenciadas, que têm que ter prioridade”, disse Bermudez, que defendeu que governos de países ricos contribuam para o fundo. Ele lembrou ainda que o objetivo do grupo, além de tratar doenças negligenciadas, é contribuir para o acesso a medicamentos para outras doenças: “Não podemos apenas investir para que sejam tratadas as doenças negligenciadas e [as pessoas] acabem morrendo de câncer, diabetes e hipertensão”.

Zika

A lista de doenças negligenciadas recebe acréscimos à medida que pesquisadores identificam novos problemas que precisam ser enfrentados. Foi o caso da Micetoma, uma infecção que causa inchaços e lesões nas pernas e atinge populações da África, América Latina e Ásia. A doença passou a integrar a lista há duas semanas.

O vírus Zika também está entre as doenças que podem ser acrescentadas na lista nas próximas reuniões. “Acredito que em um futuro bem próximo será adicionada”, afirma Carolina, que vê na virose muitas características em comum com as outras doenças.

Hepatite C

Outras doenças estão na mira da iniciativa mesmo sem constarem na lista de doenças negligenciadas, como a Hepatite C, cujo custo do tratamento preocupa os pesquisadores. Considerado bastante eficaz, o tratamento chega a custar US$ 84 mil por paciente, em um período de apenas quatro meses.

“A ferramenta existe, mas não pode chegar a quem precisa. Pouquíssimas pessoas no mundo podem pagar mil dólares por um comprimido. Uma alternativa mais barata e de igual eficácia é urgentemente necessária”, defende Carolina, que informa que a DNDi está desenvolvendo, em parceria com um laboratório egípcio e os governos de Tailândia e Malásia, um tratamento que tem como meta reduzir o custo para US$ 300 dólares. A previsão é que a nova fórmula possa estar disponível entre três e cinco anos.

Atualmente, fazem parte da lista a Doença de Chagas, a dengue e o chikungunya, a africano tripanossomíase humana, a hanseníase, a tracoma, a raiva, a esquistossomose, as helmintíases transmitidas pelo solo, a teníase/cisticercose, a úlcera de Buruli, a dracunculose, a equinococose, as treponematoses endêmicas, as trematodiases de origem alimentar, a filaríase linfática e a oncocercose.

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