Pesquisa divulgada hoje (11), no Rio de Janeiro, revela como o vírus Zika age nos tecidos cerebrais levando a malformações neurológicas em bebês, entre elas a microcefalia. O trabalho, publicado na revista científica Science, pode ajudar a encontrar medicamentos que reduzam os danos causados pelo vírus na infecção de grávidas.
O estudo foi feito por cientistas do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), liderados pelo neurocientista das duas instituições Stevens Rehen, com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Academia Brasileira de Ciências.
A partir de células-tronco humanas, os pesquisadores criaram minicérebros ou organoides cerebrais, similares ao cérebro humano em desenvolvimento. Os modelos adotados são complexos do que culturas celulares. “A partir do momento em que a gente usa neuroesferas e minicérebros, consegue identificar alterações que não observaria com outro tipo de estratégia”, explicou Rehen. Segundo o neurocientista, a metodologia permite identificar a relação entre o Zika e a malformação e mostrar como as consequências variam de acordo com a etapa da gravidez em que ocorre a infecção.
Tratamento
A partir desse modelo de pesquisa, dez medicamentos estão sendo testados para impedir a infecção ou reduzir os impactos do vírus sobre o cérebro. Um deles, segundo Rehen, pode reduzir a morte cerebral causada pelo Zika. No entanto, serão necessários novos testes para apresentar o medicamento como alternativa para as mulheres grávidas.
Os remédios em teste já têm a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para outras doenças e poderiam ter no combate ao vírus Zika um segundo uso.
Dados preliminares sobre a eficácia do medicamento mostram que a fórmula protege contra o ataque do vírus, mas não está confirmado se é capaz de reduzir a replicação viral dentro da célula-tronco neural, de acordo com o neurocientista. Rehen espera chegar a novas conclusões sobre a possibilidade de tratamento em dois meses.
Os cientistas também expuseram os minicérebros ao vírus da dengue, mas perceberam que, apesar de a infecção ser maior que a do vírus Zika, praticamente inexistem as consequências relacionadas a malformações. “Não há danos ao tecido. O vírus replica, mas ele não tem como consequência alterar o padrão de morte celular, nem alterações morfológicas, nem malformações no modelo que a gente usa”.
Dependendo do modelo utilizado, a pesquisa indicou que o vírus Zika pode agir em um tecido do cérebro com três dias, seis ou 11 dias de infecção. “Dependendo de quando acontece essa infecção, as consequências para a formação do tecido podem ser mais ou menos drásticas”. Com 11 dias, o crescimento do minicérebro é 40% inferior ao dos não infectados, revelou a pesquisa.