Peixe de carne macia e rosada, parecida com a do salmão, a piracanjuba tem retornado aos poucos aos rios Tietê, Pardo e Grande e seus afluentes no Estado de São Paulo.
Desaparecido dos rios paulistas há 30 anos e presente na lista de espécies ameaçadas, o peixe vem sendo estudado e reproduzido pela AES Tietê, braço da empresa de geração de energia AES Brasil, dona da Eletropaulo (concessionária elétrica de São Paulo).
Até agora, 1,6 milhão de alevinos (nome dado a peixes ainda pequenos) de piracanjuba já foram soltos nos rios, afirma o biólogo responsável pelo projeto de repovoamento da empresa, Silvio Carlos Alves dos Santos.
Esse resultado, diz, abre perspectivas para que surjam novas criações de piracanjuba e para que, no futuro, ela também possa ser pescada diretamente na natureza, o que é proibido –atualmente, o peixe só pode ser pescado em pesque-pagues.
A Colpani Piscicultura, de Mococa (SP), fornece por ano 500 mil alevinos da espécie para estabelecimentos desse tipo em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Goiás e Minas Gerais. “Não há muitos produtores do peixe”, diz o proprietário Martinho Colpani.
As pesquisas da AES Tietê foram iniciadas com exemplares trazidos do Paraná há dez anos, e são realizadas em reservatórios construídos nas usinas hidrelétricas de Promissão (a 451 km da capital) e Barra Bonita (a 267 km).
Para estimular a produção de óvulos nas fêmeas e espermatozoides nos machos, é aplicada nos exemplares uma dose de hormônio natural, extraído de peixes que produzem a substância em grande quantidade, como o salmão e a carpa.
Os peixes são colocados em um tanque que simula a piracema, período em que nadam contra a correnteza nos rios, para se reproduzirem. “Eles precisam desse ambiente de correnteza para que aconteça a desova e a fecundação”, diz Santos.
Os ovos fecundados ficam um tanque pequeno, chamado berçário, até se tornarem larvas e, na sequência, peixes. Só então os exemplares são levados a tanques maiores para a fase de crescimento e desenvolvimento.
Os alevinos são soltos nos rios e nos reservatórios da empresa quando atingem entre 12 e 15 cm de comprimento, fase em que já conseguem se defender de predadores, como peixes maiores ou aves, segundo Santos.
A empresa trabalha com outras cinco espécies para repovoamento: pacu-guaçu (que também estava extinto e voltou aos rios), dourado, piapara, curimbatá e tabarana.
De acordo com a bióloga e professora da universidade Anhembi Morumbi (SP) Luciana Camizotti, a piracanjuba tem despertado o interesse de pesquisadores e produtores por ter uma carne de qualidade e crescimento rápido.
Os motivos de seu sumiço em alguns rios, porém, estão ligados às mudanças no meio ambiente em que vivem.
“A espécie foi considerada em perigo de extinção, provavelmente em consequência da destruição de matas ciliares [que nascem à beira dos rios], poluição ambiental, pesca predatória e construção de barragens hidrelétricas”, afirma.
Para ela, programas de repovoamento são importantes para o equilíbrio ambiental e preservação da fauna nativa da região.